O golpe de Estado na Síria, que derrubou o governo nacionalista de Bashar al-Assad, foi orquestrado pelo imperialismo com seu principal agente na região, o Estado de “Israel”. O golpe se deu por meio de uma ofensiva militar dos mercenários da Al-Qaeda em conjunto a um setor das forças armadas que traiu o governo Assad e assim abriu o caminho para a tomada da capital Damasco. Mas três fatores foram essenciais para o fim do governo: as sanções econômicas brutais, o esgotamento do regime nacialista do partido Baath e a própria deficiência do nacionalismo em combater o imperialismo.
O maior bloqueio econômico do planeta
O embargo econômico à Síria foi o mais violento já realizado pelo imperialismo, ainda pior do que o embargo contra Cuba. Primeiro porque a Síria é um país pobre, seria equivalente a países pobres da América Latina, nem mesmo rico como a Venezuela. E além disso o ataque econômico se deu de várias formas. Em primeiro lugar a guerra que destruiu o país por 13 anos, sendo os primeiros anos os mais violentos. Todas as principais cidades foram afetadas pela guerra, a cidade de Alepo, centro industrial teve sua indústria literalmente roubada pelos turcos. Além disso os israelenses bombardearam a Síria incessantemente durante esses 13 anos, e continuam os bombardeios após a queda de Assad.
Segundo, a ocupação militar da região com as maiores riquezas da Síria, o nordeste do país, pelos norte americanos. Lá estão os principais poços de petróleo, ou seja, o governo Assad perdeu acesso aos lucros gerados pelo petróleo, isso em si é um dano econômico gigantesco. Essa região é também onde está localizado o rio Eufrates, o pólo da agricultura há milhares de anos. Assim a Síria também perdeu acesso ao trigo barato que seria produzido pelos próprios camponeses. Essa ocupação militar em si já seria uma catástrofe para a economia, mas os EUA ainda impuseram um bloqueio gigantesco.
Em 2019 foi assinado o pacote de sanções da Lei Cesar. Foi o maior embargo econômico imposto no século XXI, apenas comparável ao embargo de Cuba, realizado após a Revolução Cubana. Ao fim de tantas interferências 90% da população da Síria estava abaixo da linha da pobreza. Isso em um país que até o ano 2000 vivia um regime nacionalista com boa parte da economia estatizada e serviços públicos gratuitos. Ou seja, o imperialismo destruiu o país para derrubar Assad.
A decadência do Partido Baath
O principal fator do golpe foi a destruição imperialista do país, mas a decadência do regime foi crucial. O pai de Assad ascendeu ao poder em 1971 com um golpe de Estado nacionalista, ao estilo do que acontece hoje na África. No início de seu governo ele se chocou com “Israel” na guerra de 1973, auxiliou a resistência palestina, auxiliou o Líbano na invasão de 1982, se aproximou da URSS, fez uma série de reformas políticas e econômicas nacionalistas. Mas então o nacionalismo começou a decair.
A partir da transição para Bashar al-Assad, o imperialismo a pressão do imperialismo tomou conta do país. Se iniciaram uma série de reformas neoliberais que pioraram consideravelmente as condições de vida da população, o radicalismo político também diminuiu muito. No fim, a Síria ficou isolada como o único país do Oriente Médio com um governo do antigo regime nacionalista das décadas de 1950-60. Ou seja, já era um regime político fora de seu tempo, a tendência nacionalista dinâmica que existe hoje no Oriente Médio é islâmica, como o Hamas, o Hesbolá e o Irã.
Isso sempre fez da Síria o calcanhar de aquiles do Eixo da Resistência. Um regime político muito mais burocrático e moderado do que o governo do Irã, por exemplo, quem dirá o Iêmen que vive atualmente um período revolucionário.
A limitação do nacionalismo
E por fim o motivo que Assad caiu foi a limitação dos regimes nacionalistas em si. O imperialismo deu centenas de golpes de Estado em governos nacionalistas se aproveitando dessa contradição: eles governam realizando um equilibrismo. Se apoiam nas massas pois são atacados pelo imperialismo e se apoiam do imperialismo pois tem medos das massas. Quando há possibilidade de se apoiar em outra nação fazem o mesmo equilibrismo.
No caso de Assad ora ele se apoiava no Irã e na Rússia ora se afastava em direção ao imperialismo por meio das nações reacionárias da Liga Árabe, Arabia Saudita e Emirados Árabes. Assad na prática tinha medo do Irã e da Rússia, sem falar de que nunca estimulou a mobilização popular. Esse medo abriu o flanco para o golpe de Estado. Os iranianos principalmente avisaram diversas vezes que esse golpe chegaria, era uma questão de tempo, nos últimos meses os indícios eram grandes. Mas Assad preferiu tentar um acordo do que se apoiar no setor combativa e o setor que fala em acordo é o mesmo que dá o golpe.
Isso ficou claro com a queda do governo pois nem Rússia e nem Irã tiveram a oportunidade de atuar na frente militar de tão afastados que estavam do governo. Os jatos russos puderam agir pois as bases militares já estão lá, mas o apoio militar poderia ser muito maior. No fim, Assad tentou resolver tudo se equilibrando nos dois lados mas o imperialismo não estava disposto a aceitar seu governo, principalmente com a crise gigantesca que se encontra “Israel”.
Essa foi a união que deu origem ao golpe. Um país destruído pelo imperialismo, com um regime nacionalista já muito decadente e que cometeu o clássico erro do imperialismo na situação de crise. Mas o golpe de Estado na Síria ainda assim foi desesperado, utilizou os mercenários da Al-Qaeda, muito diferente de um golpe organizado com aconteceu no Brasil em 1964.