Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Literário 2024 da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL), o presidente da entidade, Airton Ortiz, fez declarações ofensivas e racistas.
Em resposta a uma pergunta sobre o destaque literário do Rio Grande do Sul, Ortiz atribuiu o sucesso à “imigração italiana e alemã”, em contraste com outras regiões do Brasil, que segundo ele, teriam sido mais influenciadas pela “diversidade cultural”. A escritora Eliane Marques, premiada na categoria romance com “Louças de família”, interrompeu a cerimônia para denunciar as palavras de Ortiz como racistas, criticando a ideia de que o pioneirismo literário do estado fosse resultado da imigração europeia em detrimento de outras influências, particularmente africanas.
“Não é mais possível, senhor presidente, acadêmicos, acadêmicas, que ouçamos em silêncio afirmações como essa, de que o Rio Grande do Sul é então pioneiro nas suas academias de letras em razão da imigração alemã, da imigração italiana, e que o restante do país não teria seguido esse pioneirismo em razão da sua predominância cultural diversa” , protestou a autora.
Ortiz pediu desculpas após o protesto, admitindo que se expressou mal e tentou esclarecer que sua intenção era destacar as diferentes condições enfrentadas pelos imigrantes, mas suas palavras originais já haviam causado um impacto significativo.
Ele reconheceu que sua fala teve “um tom ofensivo” e que o discurso improvisado resultou em uma “conotação distorcida” do que ele pretendia dizer.
O racismo no Rio Grande do Sul não para!
Ontem, na entrega dos prêmios literários da Academia Rio Grandense de Letras, a escritora Eliana Marques, uma das vencedoras, interrompeu sua celebração para protestar diante da declaração racista de Airton Ortiz, presidente da ARL.… pic.twitter.com/7X2fTxQlK6
— Matheus Gomes (@matheuspggomes) December 13, 2024
No dia seguinte, a escritora reforçou sua posição através de uma publicação no Instagram, criticando a persistência do racismo que atribui valor baseado na proximidade com a Europa. Em resposta, o coletivo Mulherio de Letras e a comunidade literária do Rio Grande do Sul exigiram uma retratação formal do presidente e da Academia.
A controvérsia levou a ARL a publicar uma nota em seu site. Colegas escritores, como Ronald Augusto e Jeferson Tenório, manifestaram apoio a Eliane Marques, destacando o desafio contínuo enfrentado por vozes negras na literatura brasileira.
A cerimônia premiou 18 autores em seis categorias, com 163 obras inscritas. Este evento destacou não apenas o talento literário do estado, mas também a necessidade urgente de combater o racismo no campo cultural.