Juiz determina mudança de nomes de ruas que homenageiam figuras da ditadura em São Paulo

Luis Manuel Fonseca Pires, juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, ordenou que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) altere o nome de 11 vias e locais públicos da cidade que homenageiam expoentes da ditadura militar.

A decisão, assinada na sexta-feira 13, foi tomada no âmbito de uma ação movida pela Defensoria Pública em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, que leva o nome de um jornalista assassinado por agentes da repressão em 1975. Até o momento, a prefeitura de São Paulo não comentou a ordem judicial.

Na lista de ruas e espaços cujos nomes devem ser alterados estão a Marginal Tietê, a Ponte das Bandeiras, um centro esportivo da zona sul e o crematório da Vila Alpina, o mais antigo do País. O documento dá 70 dias para que a gestão do emedebista apresente um cronograma de modificação dos nomes.

Para o magistrado, a administração municipal tem sido omissa por mais de dez anos ao não dar início à renomeação desses espaços públicos em cumprimento ao direito à memória política que se associa ao regime democrático e à dignidade da pessoa humana.

Veja os endereços cujos nomes a prefeitura tem de mudar: 

  • Crematório municipal da Vila Alpina: homenageia um diretor do serviço funerário do município que viajou à Europa para estudar sistemas de cremação no auge das práticas de desaparecimento forçado.
  • Centro Desportivo situado na Rua Servidão de São Marcos: atribuído ao general chefe do Centro de Informações do Exército, de novembro de 1969 a março de 1974, que liderou a Operação Marajoara no Araguaia;
  • Marginal Tietê: homenageia o marechal do Exército e ex-presidente que foi uma das lideranças do golpe de Estado de 1964 e criou o Serviço Nacional de Informações;
  • Ponte das Bandeiras: faz homenagem ao ex-senador e ex-diretor do Departamento de Ordem Política e Social, órgão da repressão política durante a Ditadura Militar;
  • Rua Alberi Vieira dos Santos: homenageia um ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, colaborador do Centro de Informações do Exército, com participação em massacres, armação de emboscadas e chacinas de resistentes;
  • Rua Dr. Mário Santalucia: homenagem a médico que integrou o Instituto Médico Legal e teve participação em caso de emissão de laudo necroscópico fraudulento;
  • Praça Augusto Rademaker Grunewald: faz referência ao vice-presidente entre 1969-74, sob o governo Emílio Médici, o período mais intenso de repressão, censura e cassação de direitos civis e políticos;
  • Rua Délio Jardim de Matos: faz referência ao integrante do gabinete militar da Presidência da República do governo Castelo Branco e foi um dos principais articuladores do movimento que promoveu o golpe de Estado de 1964;
  • Avenida General Enio Pimentel da Silveira: nomeada em referência a militar que serviu no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna do I Exército de abril de 1972 a junho de 1974 e teve participação comprovada em casos de tortura, execução e desaparecimento forçado;
  • Rua Dr. Octávio Gonçalves Moreira Júnior: nomeada em homenagem a um delegado de polícia com participação em casos de tortura e ocultação de cadáveres;
  • Rua Trinta e Um de Março: faz referência ao dia do golpe civil-empresarial-militar.
Artigo Anterior

Erika Hilton e fundador do 'Vida Além do Trabalho' acusam supermercado Zaffari de exploração laboral em larga escala

Próximo Artigo

A Luta por Justiça: A História de Chico Mendes e os Lutadores da Floresta

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!