Em um ato simbólico e repleto de lideranças peronistas, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner (2007-2015) tomou posse oficialmente como presidente do Partido Justicialista (PJ) nesta quarta-feira (11), em um evento realizado na Universidade Metropolitana de Educação e Trabalho (UMET), em Buenos Aires. Kirchner é agora a principal liderança da força política que se opõe ao governo do presidente ultraliberal Javier Milei.
Durante o discurso, Kirchner não economizou críticas às políticas de Milei, destacando o impacto das medidas de ajuste fiscal e desregulamentação na economia do país. “O partido deve formar, informar, planejar, divulgar e organizar: essas são as cinco missões fundamentais que devemos cumprir”, afirmou diante de um auditório lotado.
Kirchner também aludiu ao recente discurso de Milei, marcando o primeiro ano de seu governo, como “desconectado da realidade”. “Ele não tem um modelo produtivo. Está claro que as suas medidas estão agravando a crise social e econômica”, acrescentou. Atualmente, a Argentina enfrenta uma inflação interanual de 166% e tem 52,9% da população vivendo abaixo da linha da pobreza.
Consolidação e desafios internos
Cristina Kirchner foi eleita para a presidência do PJ em novembro, após a única candidatura concorrente, liderada pelo governador Ricardo Quintela, ser invalidada pela justiça. Apesar de já atuar como liderança de fato, sua posse formal marca uma nova etapa na tentativa de reorganizar o peronismo, um movimento que tem enfrentado divisões internas significativas.
Um dos principais desafios de sua liderança será unificar o partido diante das tensões crescentes, especialmente devido à colaboração de alguns dirigentes peronistas com o governo de Milei. Recentemente, Kirchner enviou uma carta aos deputados e senadores peronistas, pedindo que não “ignorem nem aceitem” os comportamentos de membros do partido que se alinham à coalizão governista La Libertad Avanza.
Outro ponto central é a articulação para as eleições legislativas de 2025. Durante uma reunião recente em Moreno, Cristina Kirchner defendeu que as eleições provinciais e nacionais sejam realizadas na mesma data. Segundo ela, desmembrar o calendário eleitoral prejudicaria a narrativa central de oposição às políticas de Milei. Votar em outra data, segundo ela, permitiria ao Governo focar na gestão local e desviar a discussão para questões como a insegurança nos subúrbios. Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires, ainda não definiu sua posição sobre o tema, mas enfrenta pressões para alinhar-se à estratégia nacional do partido.
Unidade peronista em foco
Apesar das divergências, a posse de Kirchner foi interpretada como um passo importante para reorganizar o peronismo. Líderes como Sergio Massa, ex-candidato presidencial e figura influente na coalizão, ressaltaram a necessidade de unidade. “Sem coesão e sem um projeto de país que ofereça futuro à sociedade, não há destino”, afirmou Massa. Cristina também fez referência à política econômica de Milei que ameaça erodir ainda mais a indústria nacional co sua abertura irrefreada.
A ausência de Kicillof no evento, no entanto, gerou desconforto entre aliados de Kirchner. Maria Teresa García, senadora da província de Buenos Aires, criticou a falta de apoio público do governador, destacando que sua presença era crucial para mostrar unidade diante do desafio de enfrentar Milei.
Liderança e mobilização
Desde que deixou a Casa Rosada em 2023, Cristina Kirchner tem liderado mobilizações por diferentes regiões do país, reforçando sua presença em bastiões eleitorais do peronismo, como os subúrbios de Buenos Aires. Durante essas visitas, tem criticado as políticas de desindustrialização e desmonte de programas sociais promovidas pelo atual governo.
Com a liderança formal consolidada, Cristina Kirchner planeja intensificar a organização e a mobilização do PJ para o cenário eleitoral que se aproxima, buscando fortalecer a oposição e recuperar a confiança da população em um momento de crise profunda no país.