O aumento alarmante da taxa de juros, alcançando um patamar de 12,25%, fez com que o problema do Banco Central (BC) “independente” voltasse ao centro dos debates no Brasil. O bolsonarista Roberto Campos Neto, fantoche dos banqueiros e, inicialmente, alvo número um das críticas do governo Lula, ultimamente estava apagado, sem figurar nos grandes jornais. Eis que, agora, às vésperas de abandonar o cargo de presidente do BC, Campos Neto resolveu voltar à cena.
Ao aumentar em 1% a taxa SELIC, Campos Neto entregou um dos piores “presentes de Natal” para os trabalhadores brasileiros de toda a história. Além de levar à alta dos preços, diminuindo ainda mais o já devastado poder de compra da população, a medida aumentará em R$55 bilhões por ano os gastos do Estado, de acordo com a auditora-fiscal aposentada Maria Lúcia Fattorelli. Ao longo de seis anos, o aumento da taxa de juros implicará em um gasto extra de R$330 bilhões.
Esse valor é superior ao que o governo brasileiro pretendia “economizar” com o seu pacote fiscal. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o seu plano consistia em “economizar” R$327 bilhões às custas da exclusão de milhões de brasileiros de benefícios como o abono salarial e o Bolsa Família. A medida de Campos Neto, portanto, deixa claro: o povo brasileiro está sendo esmagado para que os banqueiros possam aumentar ainda mais os seus lucros. Não haveria necessidade alguma de cortar benefícios sociais, caso o governo partisse para um enfrentamento com os mafiosos do grande capital.
A medida de Campos Neto é ainda mais preocupante quando duas coisas são levadas em consideração. A primeira é que ele orientou o Comitê de Política Monetária (Copom) a aumentar a taxa SELIC em 1% nas próximas reuniões do comitê. Isto é, no que dependesse de Campos Neto, no primeiro semestre de 2025, a taxa de juros chegaria a 13,25%.
O segundo problema é que, embora Campos Neto esteja de saída do Banco Central, o seu substituto é uma pessoa que segue uma linha muito parecida – para não dizer a mesma – no que diz respeito a sua política econômica. Gabriel Galípolo, indicado por Lula para a presidência do BC, é um neoliberal, um funcionário dos banqueiros, que, inclusive, hoje já é Diretor de Política Monetária do Banco Central e, portanto, é cúmplice dos aumentos criminosos protagonizados por Campos Neto.
Após o aumento da taxa de juros, várias lideranças que apoiam o governo Lula criticaram a medida de Campos Neto: José Guimarães (PT-CE), líder do Governo na Câmara; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar; Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT e deputada federal; entre outros. No entanto, de nada adianta criticar a medida se o escolhido de Lula para a presidência do Banco Central já falou abertamente que é a favor do aumento da taxa SELIC.
A indicação desastrosa de Galípolo é mais uma demonstração de que a política do governo Lula de fazer concessões a seus inimigos não leva a nenhum avanço. Pelo contrário, leva à sua desmoralização. Sem receber nada de concreto em troca, Lula acabará sendo cúmplice da mesma política genocida de Campos Neto a partir de 2025.