Emanuel Weizmann foi uma figura central na construção do projeto sionista e na fundação de “Israel”. Ele se movimentava entre as burguesias britânicas e norte-americanas, estabelecendo alianças fundamentais para o movimento sionista, declarando os propósitos do movimento sionista como voltado “a Palestina tão judia quanto a Inglaterra é inglesa e a América é americana”, como afirmou em um de seus discursos mais famosos, deixando claro o plano de substituir a população palestina por uma maioria judia importada.
Nascido em 1874, na atual Bielorrússia, Weizmann se envolveu cedo com o movimento sionista. Sua formação acadêmica como químico lhe abriu portas na Alemanha em primeiro lugar e depois na Inglaterra, onde se estabeleceu como um importante agitador sionista. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele desempenhou um papel crucial ao desenvolver a produção de acetona, essencial para a fabricação de munições britânicas. Este feito o colocou em contato direto com altos escalões do governo britânico, incluindo Arthur Balfour, que mais tarde seria o autor da Declaração de Balfour, em 1917.
A declaração, que prometia apoio britânico para a criação de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina, foi amplamente influenciada por Weizmann. Ele se tornou um interlocutor entre o movimento sionista e o governo britânico, garantindo que os interesses sionistas fossem colocados em primeiro plano, muitas vezes às custas da população árabe local. Em suas próprias palavras, Weizmann descreveu os palestinos como “ignorantes, atrasados e incapazes de governar”, ecoando a propaganda que justificava a limpeza étnica da Palestina.
Com a ascensão dos Estados Unidos como potência global após a Primeira Guerra Mundial, Weizmann voltou sua atenção para o governo norte-americano. Ele cultivou relações com lideranças influentes, como o presidente Harry Truman, e conseguiu mobilizar a comunidade judaica nos EUA para apoiar a causa sionista. A contribuição financeira e política dos judeus norte-americanos foi vital para a fundação de “Israel”.
Nos anos 1930 e 1940, enquanto a tensão entre judeus e árabes na Palestina aumentava, Weizmann defendeu a imigração em massa de judeus europeus para a região, mesmo com as consequências violentas que isso gerava. Ele acreditava que o projeto sionista não poderia ser freado por considerações humanitárias em relação à população árabe local. “Nós devemos criar fatos no terreno”, dizia, referindo-se ao estabelecimento de assentamentos judeus como um meio de consolidar o controle territorial.
Apesar de frequentemente apresentado como um moderado, Emanuel Weizmann manteve relações próximas com Vladimir Jabotinsky, notório membro da extrema direita sionista e simpatizante do fascismo, sendo por isso mesmo, defensor de métodos mais bárbaros para conquistar a Palestina. Jabotinsky elogiava a habilidade de Weizmann em abrir portas junto aos governos britânico e norte-americano, enquanto este reconhecia a importância da agitação de Jabotinsky, capaz de mobilizar os sionistas mais radicais.
Weizmann divergia de Jabotinsky em aspectos como o uso imediato e aberto de força militar, preferindo uma estratégia que mesclasse diplomacia e colonização gradual, baseada em acordos com potências estrangeiras. Jabotinsky, por sua vez, defendia a criação de uma “muralha de ferro” para subjugar os árabes e consolidar o domínio sionista.
“Podemos preferir a diplomacia”, escreveu Weizmann a Jabotinsky em carta, “mas, no final, a força será o argumento decisivo”. Ele também descreveu os muçulmanos como “pessoas atrasadas e sem visão de futuro”, em uma declaração durante discussões diplomáticas na Inglaterra, reforçando a ideia de que a colonização judaica da Palestina era vista como uma missão civilizatória.
Em 1948, com a declaração de independência de “Israel”, Weizmann foi escolhido como o primeiro presidente do novo Estado. Sua nomeação foi um reconhecimento de sua liderança e das décadas de esforços para mobilizar o apoio internacional ao projeto colonial. No entanto, sua posição era mais cerimonial, enquanto o poder real estava nas mãos de David Ben-Gurion, o primeiro-ministro.
Mesmo assim, Weizmann continuou a exercer influência nos bastidores, defendendo a continuidade da colonização e da exclusão dos palestinos do processo político. Ele faleceu em 1952, como um herói que tornou o sonho de “Israel” uma realidade para os sionistas e para o imperialismo, e como um pesadelo para os árabes e, naturalmente, os palestinos, dado seu papel de destaque na criação da colônia europeia em pleno território palestino, que entre outros crimes, originou a Nakba, palavra árabe que significa “catástrofe”, utilizada para designar o período de criação do enclave imperialista e no qual quase um milhão de palestinos foram expulsos de suas casas e suas terras.