O acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo libanês Hezbollah deu lugar a um novo confronto no Oriente Médio com a retomada dos confrontos na Síria.
Após 13 anos, combatentes contrários ao governo de Bashar al-Assad lançaram uma ofensiva surpresa contra Aleppo, uma das maiores cidades do país, derrotando rapidamente as forças do exército e surpreendendo inclusive Irã e Rússia, aliados do regime.
Liderados pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um grupo islâmico sunita com laços anteriores com a Al-Qaeda, e ocasionalmente apoiado pela Turquia, os rebeldes não só forçaram as tropas de Assad a deixar Aleppo como avançaram para a província de Hama, cerca de 200 quilômetros de Damasco.
“A mudança territorial mais significativa em quase uma década, a captura de Aleppo é um golpe não apenas para o regime de Assad, mas também para as posições do Irã e da Rússia na Síria”, diz Ian Bremmer, fundador e presidente do Eurasia Group, em artigo publicado no site Project Syndicate.
“Mesmo que as forças do governo consigam deter o avanço rebelde, elas precisarão de apoio externo substancial para retomar o território que foi perdido. A própria Aleppo — o centro comercial da Síria, um importante centro militar e econômico iraniano e um símbolo da influência da Rússia no país — parece destinada a permanecer fora do controle do governo no futuro previsível”, ressaltou.
Embora tal ação não possa ser vista como uma surpresa, é improvável que a luta derrube o regime de al-Assad, um aliado que é considerado estratégico tanto para o Irã como para a Rússia de Vladimir Putin.
“Embora os recursos que o Irã pode dedicar à Síria sejam limitados pelas sanções ocidentais e pela perspectiva de ter que reconstruir o Hezbollah, os líderes iranianos querem evitar outra grande perda em seu “Eixo de Resistência”’, diz Bremmer, ressaltando que a Rússia continuará a fornecer equipamentos militares e a realizar ataques aéreos mesmo com a guerra na Ucrânia.
Embora Bashar al-Assad tenha desafiado as probabilidades há 13 anos, a retomada dos combates na Síria deve ser um alerta para o aumento do vácuo de liderança mundial e, segundo Bremmer, “eventos aparentemente contidos em lugares como Ucrânia e Gaza podem ecoar muito além de suas fronteiras, e no futuro”.