O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na cúpula de chefes do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, nesta sexta-feira 6, e comentou o anúncio do acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
Alinhado às declarações da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que foi a responsável por anunciar o acordo, Lula detalhou a extensão da área de livre comércio. “Estamos criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, reunindo mais de 700 milhões de pessoas. Nossas economias juntas representam um PIB de 22 trilhões de dólares”, disse o brasileiro.
A parceria comercial vinha sendo costurada por representantes dos setores envolvidos e, agora, terá que ser chancelado por instâncias europeias e pelos parlamentos dos países dos dois continentes.
Para Lula, o acordo oficializado nesta sexta “é bem diferente daquele anunciado em 2019″, quando os dois blocos chegaram a finalizar as tratativas do tema, mas voltaram atrás graças às restrições ambientais europeias.
“As condições que herdamos eram inaceitáveis. Foi preciso incorporar ao acordo temas de relevância para o Mercosul. Conseguimos preservar nossos interesses em compras governamentais, o que nos permitirá implementar políticas públicas em áreas como saúde, agricultura familiar, ciência e tecnologia”, disse Lula.
O acordo entre os dois blocos deverá facilitar a compra de produtos entre os países envolvidos, através da redução das taxas de importação e de uma série de benefícios tributários.
Somente a concretização do acordo e eventual desenrolar dos acertos comerciais poderão expressar os ganhos da economia brasileira no negócio, mas o Instituto de Pesquisa Econômica Econômica Aplicada (Ipea) acredita que o acerto poderá trazer um incremento de 0,46% no PIB brasileiro em dez anos. Isso envolveria aumentos de importação e exportação, além de mais investimentos estrangeiros no país.
As negociações foram longas, durando 25 anos, e, por vezes, o cenário indicava que a parceria não sairia. Lula comentou os esforços feitos entre os blocos e celebrou a integração necessária diante da realidade geopolítica e econômica global.
“Após dois anos de intensas tratativas, temos hoje um texto moderno e equilibrado que reconhece as credenciais ambientais do Mercosul e reforça nosso compromisso com o Acordo de Paris. A realidade geopolítica e econômica global mostra que a integração fortalece nossas sociedades, moderniza nossas estruturas produtivas e promove nossa inserção mais competitiva no mundo”, disse o presidente do Brasil.
Crítica à França
No discurso, Lula ainda fez uma crítica indireta à França, país que é o principal polo de resistência ao acordo. Recentemente, o grupo Carrefour, francês, anunciou que não compraria mais carnes brasileiras, alegando má qualidade nos produtos. O caso abriu uma crise entre os dois países.
“Nossa pujança agrícola e pecuária nos torna garantes da segurança alimentar de vários países do mundo, atendendo a rigorosos padrões sanitários e ambientais. Não aceitaremos que tentem difamar a reconhecida qualidade e segurança de nossos produtos. O Mercosul é um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental”, enfatizou ao tratar da disputa aberta com a empresa francesa.