O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou atrás ao reconhecer a sua “visão equivocada” sobre o uso de câmeras corporais na farda dos policiais militares.
Foi preciso uma série de abusos, chegando ao cúmulo de um PM atirar um entregador da ponte, para que o governador se dissessem “completamente convencido de que as câmeras são um instrumento de proteção da sociedade e do policial”. Assim, o programa será ampliado.
“Você pega a questão das câmeras: eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Eu tinha visão equivocada, fruto da experiência pretérita que eu tive. Não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje estou completamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial. E nós vamos não apenas manter, mas ampliar o programa. E tentar trazer o que tem de melhor em termos de tecnologia”, disse Tarcísio.
O governador afirmou ainda que os novos modelos de câmera adquiridos pela PM estão em fase de teste, e entre as funcionalidades está a possibilidade de acionar a gravação da atividade policial de forma remota, caso o agente se esqueça de ligá-la.
“O discurso de segurança jurídica que a gente precisa dar para os agentes de segurança combaterem o crime de forma firme não pode ser confundido com salvo conduto para fazer qualquer coisa e descumprir regra. Isso a gente não vai tolerar”, continuou o governador de São Paulo.
Apesar dos abusos e dos indicadores, que apontam sucessivos aumentos da letalidade da PM, Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, segue à frente da pasta, pois o governador confia no próprio time.
Chateado
Durante entrevista na última terça-feira (3), um dia depois de um homem rendido e sem porte de drogas ser jogado de uma ponte, Tarcísio cantou ‘Boate Azul’, de Benedito Seviero.
Já em 2022, durante a disputa eleitoral pelo governo de São Paulo, Tarcísio chegou a prometer a descontinuidade do uso das câmeras corporais, a fim de ganhar votos entre os policiais mais radicais da corporação, alegando que as câmeras dariam vantagens aos bandidos.
Em 2023, questionado sobre as atrocidades cometidas por policiais militares “Operação Escudo”, formalizadas pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), o governador respondeu com deboche.
“Nossa intenção é proteger a sociedade. Nós estamos fazendo o que é correto, com muita determinação e profissionalismo (…) Sinceramente, eu tenho muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não estou nem aí”, disse Tarcísio em março deste ano.
Após a repercussão negativa do caso, o governador deixou a cantoria, o deboche e as promessas de lado para expressar sua chateação.
“Quando a gente começa a ver reiterados descumprimentos desses procedimentos, a gente vê que há de fato transgressão disciplinar, falta de treinamento. São coisas que chocam todo mundo, chocam a gente também. A gente fica extremamente chateado, triste”, emendou Tarcísio, em coletiva de imprensa.
O governador afirmou ainda que a PM deve ser redesenhada, a partir da comparação com outras polícias do mundo.
Abusos
Apenas no último mês, uma série de abusos chocantes relacionados à Polícia Militar vieram à tona. Além do caso da ponte, apenas no último fim de semana, um PM matou um homem pelas costas, acusado de furtar produtos de limpeza de um mercado.
No sábado (30), um sargento aposentado atirou contra crianças que o avisaram sobre um problema com a seta do carro dele.
“A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. Policial está na rua pra enfrentar o crime e pra fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda. Esses casos serão investigados e rigorosamente punidos. Além disso, outras providências serão tomadas em breve”, publicou o republicano no Twitter.
Apenas este ano, a Polícia Militar de São Paulo matou 120% mais pessoas em comparação a 2022.
LEIA TAMBÉM: