Por Luís Carlos
José Pepe Mujica é um dos últimos sábios vivos que continuam inspirando as esquerdas latino-americanas. Tanto que foi o principal cabo eleitoral do presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi.
Pois na última sexta-feira, enquanto Orsi, pupilo e herdeiro do acervo político de Mujica na Frente Ampla, visitava Lula, a AFP divulgou uma entrevista em que o ex-presidente afirmava:
“Lula está perto dos 80 anos de idade. E ele não tem substituto. Essa é a desgraça do Brasil”.
Não tem desgraça alguma, Pepe Mujica. Hoje, o herdeiro ou substituto de Lula, sob o ponto de vista da preservação de ideias, sonhos e projetos, é Fernando Haddad. E é também, por extensão, o herdeiro das ambições eleitorais, como já foi em 2018. Tem legitimidade para ser.
O que Mujica disse de Lula é o que diziam do próprio líder uruguaio, quando o blanco Lacalle Pou, atual presidente do país, levou a direita ao poder, em 2020, depois de 15 anos de governos da Frente Ampla.
Lacalle Pou derrotou o candidato de Mujica, Daniel Martinez, ex-prefeito de Montevidéu, e passaram a dizer que a Frente não tinha sucessores ou substitutos para Mujica e para o ex-presidente Tabaré Vázquez.
Pois há sucessores, além de Yamandú Orsi. A vice dele, Carolina Cosse, também prefeita de Montevidéu, é uma grande liderança da esquerda uruguaia.
Mujica teve o azar de dizer que Lula não tem sucessores no dia em que seu sucessor visitava Lula. Mas é de fazer pensar por que Mujica disse o que disse, se esse tipo de comentário ajuda a depreciar a perspectiva de futuro não só de Haddad, mas das esquerdas e do PT.
Que alguém diga a Mujica que Haddad está no Ministério da Fazenda por seu talento e por ser uma escolha estratégica de Lula. Para fazer a economia andar, proporcionar emprego, renda e melhoria de vida aos brasileiros e se habilitar a ser seu sucessor.
Haddad é, pela situação que enfrenta ao ser atacado pela direita e pelo mercado financeiro, e pelo enfrentamento à política de juros altos do Banco Central, a figura mais visada do governo.
Mas é também a mais forte, pela performance da economia, pela lealdade a Lula e pela confiança que o presidente tem no seu trabalho. E, mesmo assim, o ministro sofre de parte do PT um cerco semelhante ao que é feito pela extrema direita.
É do jogo? Não deveria ser. Mujica precisa saber que o que não temos é um nome com a força de Haddad para suceder Lula. Se Haddad falhar, por sabotagem ou falta de apoio, aí sim será uma desgraça.
Originalmente publicado no Blog do Luís Carlos
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