Rafa Kalimann: a estupidez dos influenciadores não tem limite

O mundo paralelo dos influencers ainda é incompreensível para mim – e para qualquer um que enxergue a gravidade desse delírio coletivo.

Desde que se render à hiperexposição do próprio corpo e intimidade nas redes sociais virou profissão, é um absurdo atrás do outro: é influencer maltratando mendigo, influencer cuspindo na boca de gato, influencer vendendo jogo do tigrinho e levando pessoas ingênuas à completa miséria…

O que foge à minha compreensão, entretanto, vai além disso: como o ser humano médio se deixa levar por um desconhecido que simplesmente vendeu a narrativa sobre si mesmo nas redes e transformou isso em (muito) dinheiro?

Viralizou no X uma foto de Rafa Kalimann (ex-BBB e influencer que pensa que é artista) com uma criança africana e a seguinte legenda: “Essa delícia perdeu a mamãe num ciclone com 7 dias de vida. Eu esmaguei muuuuito ele! De presente ele fez xixi na Tia Rafa”.

Por mais estarrecedora que seja essa legenda – e a existência de uma pessoa como essa –, é, se você reparar bem, assim que gente como ela faz: “esmaga” uma criança, como se fosse um cachorro, para ganhar muitos likes e melhorar a imagem.

Essa mulher, aliás, usa crianças negras como troféus para ganhar popularidade e posar de altruísta nas redes sociais há muito tempo. No Instagram, apareceu com outro bebê em Moçambique – ela supostamente trabalha para uma ONG – e escreveu a seguinte legenda: “Ser ponte exige escolha. Ser útil no amor. Do que você tem se alimentado?”

Parece letra do Arnaldo Antunes, mas é só idiota, mesmo.

Emoldurar a miséria para ganhar fama é o que muitos famosos fazem (quando não estão convencendo os seguidores a comprarem algum produto ruim). De Madonna a Angelina Jolie, passando por globais de primeiro e segundo time, isso virou uma febre: vão para a África, adotam quinze bebês para tentar compensar a riqueza obscena.

A vida e o consumo, hoje, se confundem de tal forma que se torna possível transformar a história de uma criança preta órfã em entretenimento, como um brinquedo ou um objeto de cena.

A influenciadora Carol Portaluppi posa com crianças africanas: a legenda é inacreditável

A pequenez de espírito soma-se, portanto, a uma cultura que admite (e incentiva) que se faça absolutamente qualquer coisa por popularidade nas redes sociais.

É revoltante, a princípio, mas depois é, sobretudo, muito triste.

Para gente como Rafa Kalimann, só a pedagogia do constrangimento: rejeitar esse tipo de comportamento em vez de aplaudir, como fazem os “seguidores” que, coitados, não percebem que estão sendo enganados por uma vida falsa, um corpo falso e, sobretudo, falsas intenções.

Por favor, me acordem quando essa moda passar.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 30/11/2024