A “Cúpula dos Povos Frente ao G20”, uma iniciativa independente, autônoma e autofinanciada, organizada por um coletivo internacional de movimentos populares, sindicatos e organizações da sociedade civil, realizou sua plenária no dia 14 de novembro, em paralelo à programação oficial da Cúpula do G20, que ocorreu entre 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.

Mesmo após boicotes e rachos promovidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pelo Movimento Sem-Terra (MST), a “Cúpula dos Povos” lotou o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro.

Estiveram presentes cerca de 700 participantes de todas as regiões do Brasil e, também, da África, Europa, América Latina e Caribe. A CSP-Conlutas foi a única central sindical que participou do evento, já que as outras centrais atenderam ao enquadro do governo para participar somente do engodo chamado de “G20 Social”.

A abertura do encontro foi marcada por diversas intervenções culturais, com maculelê, capoeira, batucada da Marcha Mundial de Mulheres e o toré do Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, com os indígenas guaranis de Maricá (RJ).

Sandra Quintela, do Jubileu Sul, fez a abertura do evento, com um breve resgate do processo de construção coletiva da Cúpula, que contou com plenárias e comitês locais, articulados em diferentes regiões.

‘O sangue derramado lá sustenta o sangue derramado aqui’

Os trabalhos começaram com o painel “Governança capitalista internacional, contextos de guerra, reparações históricas contra o racismo e lutas anticapitalistas dos povos”. O painel foi formado por Soraya Mislesh, escritora e jornalista palestino-brasileira; Cleusa Silva, da Rede de Mulheres Afro Latinoamericanas e Caribenhas; e o educador popular Dayron Roque Lazo, do Centro Memorial Martin Luther King Jr.

Soraya Mislesh, que também é militante do PSTU, falou sobre a resistência histórica do povo palestino frente ao projeto colonialista israelense, iniciado em 1948, num processo conhecido como Nakba (a catástrofe).

“Quando dizemos que essa é uma luta central e pela humanidade, não é retórica. É porque o que ocorre na Palestina é um experimento, é um laboratório. Israel faz dos palestinos cobaias humanas, onde testa tecnologias para vender ao mundo, para extermínio do povo pobre, negro, indígena, como acontece no Rio. O sangue derramado lá sustenta o sangue derramado aqui”.

A jornalista também fez uma cobrança ao governo brasileiro: “O que precisamos é que Lula rompa relações com o Estado genocida de Israel. Nossa resistência é legítima, é nossa terra. Existimos e resistimos, não nos apagarão do mapa”.

Plenárias, debates e articulação das lutas

Após o painel de abertura, ocorreram quatro plenárias temáticas simultâneas. Na plenária “Lutas antipatriarcais e antirracistas no enfrentamento às desigualdades”, João Batista Carvalho, coordenador estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), no Rio de Janeiro, destacou que o combate do povo negro também é anticapitalista.

Na plenária “A luta anticapitalista e a governança mundial”, os participantes criticaram, sobretudo, as políticas de austeridade, a retirada de direitos trabalhistas e o aumento das privatizações, que se aprofundaram depois da crise financeira de 2008, num processo que, nos últimos anos, tem avançado com a ascensão da extrema direita.

Dirigente da Marcha Mundial de Mulheres, Ana Priscila Alves pontuou que é justamente a população feminina a mais afetada por esse recrudescimento. “O trabalho das mulheres é o mecanismo para ajustar as crises. Quando o Estado para de investir em Saúde, quem cuida? Quando para de ter escola, de ter políticas para os idosos, quem é que cuida? Há uma percepção de piora da vida porque trabalhamos cada vez mais, trabalho pago e não pago”, questionou.

No grupo “Internacionalismo e a Soberania dos Povos” foram ressaltadas a importância da luta anti-imperialista e a solidariedade aos povos que estão resistindo contra ocupações militares, como na Ucrânia, na Palestina e no Libano.

Marcha contra jornada 6×1

Depois das plenárias, o público retornou ao auditório da ABI para a partilha dos debates e encaminhamentos. No dia seguinte, pela manhã, manifestantes de distintas organizações sociais e partidos se reuniram na Cinelândia, se juntando ao chamado de atos nacionais a favor da tramitação, no Congresso Nacional, da pauta pela redução da jornada de trabalho, para 36h semanais, e o fim da jornada 6X1.

Fora imperialistas!

Manifestação anti-imperialista ocupou Copacabana

Como parte da programação da “Cúpula dos Povos”, no dia 16, as organizações mobilizaram milhares de pessoas em Copacabana, na marcha “Palestina Livre, do Rio ao Mar! Fora Imperialismo!”. Mesmo sob forte chuva e pressão da polícia, que não queria que o ato ocorresse por conta das delegações internacionais do G20.

Além da defesa dos povos palestino e libanês, a marcha também levantou uma série de outras bandeiras, como a luta contra o aquecimento global; contra o marco temporal e em defesa dos povos originários; pelo fim da jornada 6X1; contra a Reforma Administrativa; em defesa do aborto legal; contra os projetos imperialistas de exploração dos recursos naturais do planeta e o uso de agrotóxicos nos alimentos; em repúdio à violência contra o povo preto e pobre e em defesa das religiões de origem africanas, dentre outras pautas.

Na comissão de frente, militantes carregavam faixas e um grupo usava máscaras de líderes do G20 como Emmanuel Macron (França), Joe Biden e Donald Trump (EUA) e do genocida Benjamin Netanyhau, (Israel). A caracterização representou o poder de destruição em massa, contra os povos oprimidos, a partir da lógica colonialista dos “chefões” do Ocidente.

A manifestação contou com a participação de sindicatos, movimentos populares, grupos ambientalistas e organizações políticas. A CSP-Conlutas teve participação expressiva na marcha, com uma coluna que contou com a representação de diversos sindicatos.

Com a realização do G20 no Rio de Janeiro, a Central transferiu para a capital carioca a reunião da Coordenação Nacional da entidade, geralmente realizada em São Paulo, para reforçar sua presença nas atividades contra o G20. Também participaram representantes da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, com a presença de entidades internacionais como o “Solidaires”, da França, e da Confederação Geral do Trabalho (CGT), do Estado Espanhol.

Solidariedade à Palestina e ao Líbano

Plenária reúne comitês de solidariedade de todo o país

Na tarde do dia 16, foi realizada a “Primeira Plenária Nacional em Solidariedade à Palestina e ao Líbano”, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Sindsprev), que reuniu os principais comitês de solidariedade à Palestina atuando no Brasil.

Dentre as várias propostas apresentadas, foi aprovado impulsionar atos ou atividades possíveis no “Dia Internacional em Solidariedade ao Povo Palestino”, em 29 de novembro (alguns estados farão atos nos dias 28 ou 30, como é o caso de São Paulo).

Além disso, pretendem ampliar a campanha de exigência ao governo Lula de ruptura das relações do Brasil com o Estado sionista de Israel e, também fortalecer a campanha Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS).

A plenária surgiu por uma iniciativa da CSP-Conlutas e da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas e teve a adesão da Frente em Defesa do Povo Palestino (SP), Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino (RJ), o Comitê Mineiro de Solidariedade à Palestina, Comitê Árabe Brasileiro de Solidariedade do Paraná, o Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino, a Coalizão Pelo Clima (RJ), o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (PR) e o Sindipetro-RJ.

O evento foi um importante espaço de articulação nacional dos comitês de solidariedade, no sentido de avançar na articulação da luta anti-imperialista e anticolonialista no Oriente Médio, assim como no fortalecimento da campanha contra o genocídio do povo palestino.

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Last Update: 29/11/2024