As últimas semanas foram intensas. De um lado, a luta pela escala 6×1 teve grande adesão, mostrando o potencial de luta, força e unidade da classe trabalhadora.
Logo depois, foram revelados mais detalhes do plano golpista de Bolsonaro, envolvendo vários altos oficiais da ativa das Forças Armadas. A ultradireita, com isso, após se sentir fortalecida com o resultado das eleições municipais e, também, a vitória de Trump nos EUA, ficou na defensiva.
Diante disso, o que faz o governo Lula, perante a possibilidade de uma luta unificada da classe trabalhadora contra os capitalistas e de enfrentar a extrema direita golpista, impedindo qualquer anistia? Simplesmente anuncia um pacote de ataques contra os trabalhadores pobres.
O que nos mostram estes três fatos? Os defensores do governo sempre afirmam que a correlação de forças impede o governo de avançar em pautas progressivas. Assim, bastaria aos trabalhadores defenderem um governo que implementa as medidas exigidas pelo mercado, como se esse mesmo governo estivesse enfrentando o mercado. Tudo em nome de um suposto combate à ultradireita bolsonarista e golpista.
Sobre a correlação de forças
Vamos à primeira questão. Será que, hoje, não há correlação de forças no país para construir grandes mobilizações pelo fim da escala 6×1, sem redução do salário? Claro que há. O problema é que a postura do PT é jogar desconfiança na mobilização contra a escala 6×1.
Um colunista do site “Brasil 247”, por exemplo, insinua que quem se mobilizar contra os ataques do governo estará ajudando a direita, pois isso prejudicaria a popularidade do governo. O mesmo site destacou declarações, afirmando que o “movimento para acabar com a escala 6×1 é de natureza golpista”.
Para os defensores do governo Lula, um movimento de massas, exigindo uma pauta fundamental, ajudaria a desestabilizar o governo Lula. Isso mostra, inclusive, que Lula e o PT só apoiam o fim da escala 6×1 da boca para fora, pois, na prática, nada fizeram para que isto avançasse e, ainda, atuam para impedir que as mobilizações cresçam.
Daí, fica o questionamento: se não podem haver lutas, já que estas se enfrentam com o governo, como os governistas pretendem resolver o problema da correlação de forças?
O golpismo
A segunda questão diz respeito aos golpistas. Os governistas que acusam manifestantes que lutam em defesa dos trabalhadores de golpistas, parecem não ver onde, de fato, eles estão. Basta ler o relatório da Polícia Federal e ver que vários dos presos e indiciados ocupavam postos chaves no governo atual.
Sim, o governo Lula, com a sua política de não enfrentar os golpistas das Forças Armadas, deu guarida para essa gente. E não só durante os 14 anos de governos do PT, mas hoje, depois de tudo que se passou. Nem mesmo colocou na mesa a revogação do famigerado Artigo 142 da Constituição.
A realidade é que os governistas são leões contra os que querem lutar por reivindicações dos trabalhadores, mas agem como cordeirinhos, quando se trata de enfrentar os mercados, os capitalistas e a direita.
E é por isso mesmo que, na atual conjuntura, de um bolsonarismo na defensiva, conseguiram a proeza de apresentar um estapafúrdio pacote de reajuste fiscal e ataques a direitos e salários.
Ultradireita e a burguesia cínica querem mais ataques contra o povo
Um setor da burguesia está enfurecido. Não porque o pacote seja a favor dos trabalhadores, mas porque ela quer mais ataque. Quer mais sangue. Mas isso não quer dizer que o governo Lula esteja entregando pouco. O sentido do pacote, e do que quer a burguesia, é o mesmo: mais dinheiro para a burguesia e menos direitos sociais.
Setores da direita e da ultradireita se dizem contra o pacote, mas por motivos contrários aos nossos, já que defendem abertamente os interesses dos bilionários capitalistas, e, por isso, querem mais cortes nas áreas sociais e mais ataques aos trabalhadores.
São cínicos, já que reclamam da isenção a quem ganha até R$ 5 mil, mas não dizem que quem vive de benefícios e isenções fiscais, mamando na teta do Estado, são as grandes empresas bilionárias.
A promessa do governo sobre o Imposto de Renda (IR) é ainda insuficiente, porque não ataca o topo da pirâmide social e econômica do país, que são os bilionários capitalistas, os fundos de investimentos bilionários, as grandes empresas nacionais e as multinacionais que mandam dinheiro para fora do país.
Oposição de esquerda, revolucionária e socialista
Hoje, há três lutas necessárias e combinadas no país. A luta contra o pacotaço neoliberal do governo Lula e Haddad, que ataca os trabalhadores, na qual nos enfrentamos também contra a oposição de direita que exige mais ataques. A luta pelo fim da escala 6×1, como uma primeira medida para avançar nos direitos dos trabalhadores contra a exploração capitalista desenfreada. E a luta pela punição dos golpistas.
Nossa luta não pode ser vista com um certo etapismo. Como se primeiro coubesse à esquerda derrotar a ultradireita e, depois, enfrentar o governo Lula. Essa lógica nos deixa reféns de um círculo vicioso de um governo que, apesar da retórica, não defende as medidas que a classe trabalhadora precisa para enfrentar o capitalismo.
Na verdade, apoiar este governo ajuda a deixar o espaço livre para a ultradireita se apresentar como suposta única alternativa “contra tudo que está aí”.
O governo amarra as mãos da classe trabalhadora, que é quem pode, de forma unificada e na luta, derrotar os capitalistas. Por isso, além de irmos às lutas, precisamos construir uma alternativa política de oposição de esquerda e socialista ao governo Lula, que seja capaz de enfrentar os ataques que ele promove junto com os patrões. Uma oposição de esquerda que ofereça um programa alternativo, socialista e revolucionário.
Inclusive, não há como derrotar, de forma definitiva, a ultradireita sem enfrentarmos o próprio capitalismo. Porém, não é possível construir uma alternativa política dos trabalhadores apoiando um governo que ataca os trabalhadores.