Depois do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por vários crimes, integrantes do PL começaram a procurar responsáveis pela decisão do partido de contestar o resultado das eleições de 2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O senador Luís Carlos Heinze (PL-SC), conhecido por sua habilidade em voar, tem sido acusado de ter indicado o Instituto Voto Legal (IVL) ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para auditar as urnas eletrônicas, de acordo com informações do Globo.
A Polícia Federal apontou que o IVL produziu um relatório levantando a possibilidade de fraudes nas eleições, apesar de a verificação técnica ter comprovado que as urnas eram confiáveis e auditáveis. O relatório foi utilizado pelo PL para solicitar a anulação da vitória de Lula, sendo considerado pelos investigadores como “o último ato” formal do grupo que tentou impedir a posse de Lula e uma das bases “para a tentativa de golpe de Estado”.
O Instituto Voto Legal, com sede em São Paulo, é liderado pelo engenheiro João Carlos Rocha. Em depoimento à Polícia Federal em fevereiro de 2023, Valdemar Costa Neto afirmou que “existiam várias empresas capazes de fiscalizar as urnas” e que Luís Carlos Heinze recomendou o IVL como uma opção.
Valdemar detalhou que o serviço foi contratado por cerca de R$ 1 milhão, pagos com recursos do partido, no meio de 2022. Tanto Valdemar quanto João Carlos Rocha foram indiciados pela Polícia Federal, e a revelação de que o relatório do IVL teria conclusões manipuladas gerou descontentamento dentro do partido.
Um integrante do PL destacou o papel do núcleo militar na situação: “O núcleo político da campanha do Bolsonaro sempre soube que não havia nada de errado nas urnas, quem insistiu nisso foi o núcleo militar”.
Ele acrescentou: “Quem trouxe o professor João Carlos Rocha para o partido foi o senador Luís Carlos Heinze, que dizia que ele era um gênio e ia encontrar brechas nas urnas. Esse discurso gerou uma multa de R$ 22,9 milhões ao PL. Nunca confiamos no João Carlos Rocha e nunca gostamos dele.” A multa mencionada foi aplicada pelo TSE em novembro de 2022, sob a acusação de litigância de má-fé, e posteriormente confirmada pelo tribunal.
Valdemar Costa Neto também afirmou que foi pressionado pela ala política do partido, que incluía parlamentares e o próprio Bolsonaro, a entrar com a ação no TSE questionando o resultado das eleições. A PF, em análise das mensagens captadas, concluiu que as alegações de João Carlos Rocha para sugerir fraude nas urnas não tinham fundamento científico, sendo baseadas em rumores que circulavam nas redes sociais e sem qualquer embasamento técnico.
Poucas semanas após o segundo turno, João Carlos Rocha apresentou um relatório ao PL alegando “inconsistências graves e insanáveis” em urnas de modelos antigos. Esse documento foi usado por Valdemar Costa Neto para pedir, em 22 de novembro de 2022, a anulação de votos registrados em mais de 250 mil urnas fabricadas antes de 2020.