Na última quarta-feira, dia 27 de novembro, o portal progressista Brasil 247 publicou uma coluna intitulada “Os sete pontos essenciais para sanear de vez o Brasil”, e assinada pelo jornalista Tiago Barbosa. O artigo é bem curto, e sintetiza uma séria confusão política presente hoje nos meios da esquerda. O reproduzimos na íntegra a seguir:
“Relatório da PF devastador para o presidente [sic] deveria resultar em saneamento imediato do país:
- Prisão imediata do presidente [sic]
- Prisão de líderes políticos e militares
- Extinção de grupos de elite golpistas
- Reformulação das forças armadas com adequação da formação ao poder civil
- Abolição sumária de todas as regalias militares
- Extinção do partido político do presidente [sic]
- Criminalização do bolsonarismo
A confusão consiste na esquerda se lançar em uma campanha repressiva de perseguição política contra o bolsonarismo, algo que a direita tradicional não tem base social para fazer. Assim, a burguesia “democrática” controla a extrema direita, que tem uma capacidade de mobilização popular e que polariza o regime político, tensionando a situação política no País.
Mais que isso, por meio de tal campanha se reduzem as liberdades democráticas no regime político brasileiro, abrindo espaço para uma ampla campanha persecutória contra qualquer setor que incomode o regime político, que está sob o controle do imperialismo. Exemplo disso são os veículos por meio dos quais a campanha é organizada. Simultaneamente, a responsabilidade política pelas medidas antipopulares de restrição das liberdades democráticas recai sobre a esquerda, enquanto se a atrela ao imperialismo de maneira crescente.
Apesar de protagonizada aparentemente por meios como o Brasil 247, a campanha é de fato orquestrada por um setor muito mais poderoso. Aqui, incluímos a Folha de S.Paulo, a Rede Globo, o Supremo Tribunal Federal.
Todos eles órgãos centrais no golpe de Estado de 2016. E é esse o ponto que permite ver a armadilha em que se insere a esquerda. Observemos o artigo citado: pelo título, parece um artigo vindo da extrema direita, falando em sanear o País.
Já nos pontos elencados, se fala em prender o presidente imediatamente. Não se menciona acusações, julgamento, direito a defesa. Depois vem “os militares”, setor que claramente permanecerá intocado pela operação.
Um ponto importante é compreender que as Forças Armadas são um setor chave para o golpismo no Brasil, mas não são o alvo principal desta campanha. Pelo contrário, aparecem como arremedo, como argumento para justificar a perseguição ao bolsonarismo.
O que apareceria como medida de fato de esquerda entre os pontos elencados é a “reformulação das Forças Armadas com adequação da formação ao poder civil”. Todo o problema do golpe de Estado recai sobre o fato de que o poder material, o armamento, a capacidade de golpear e resistir a um golpe de maneira mais direta não está sob controle da população em geral, o que mantém os trabalhadores, especificamente, sob um risco permanente de se verem alvo das forças que de fato detém esse poder.
A campanha levada adiante pela esquerda, contudo, desconsidera o poder concreto, e ao invés de realizar uma campanha política em oposição à forma como estão dadas as Forças Armadas, e em oposição política ao bolsonarismo, judicializa a questão. A judicialização nada mais é que buscar levar as bases da esquerda e os trabalhadores a depositarem sua confiança no Judiciário burguês, um inimigo direto e imediato da classe operária de conjunto. Ademais, é uma campanha que reforça, fortalece o poder do Judiciário, algo de extrema gravidade.
Tendo em vista que os organizadores de fato da campanha são os meios de comunicação do imperialismo, inclusive aqueles inseridos na esquerda, temos que as medidas que podem ir para a frente, em tese, são as medidas de perseguição política, de fechamento de partidos, de prisão de lideranças políticas e proibição de determinadas correntes de pensamento.
Cega pelo medo do bolsonarismo, a esquerda se atrela a um inimigo muito mais formidável e não vê que o nó, com o qual crê atar o pescoço de Jair Bolsonaro, antes disso, estará estrangulando a própria esquerda e o movimento operário.