O registro de entrada do Palácio da Alvorada revela que os chefes das Forças Armadas se reuniram 14 vezes com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após sua derrota nas eleições.
Durante esses encontros, Bolsonaro teria apresentado planos golpistas aos comandantes, incluindo sugestões como decretar Estado de Sítio, Estado de Defesa e realizar operações de Garantia da Lei e da Ordem, segundo depoimentos dos próprios militares.
De acordo com a Polícia Federal, a trama golpista envolveu abordagens insistentes à cúpula das Forças Armadas. O inquérito aponta que essas ações contaram com o apoio do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e do comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, ambos entre os 37 indiciados pela PF.
No entanto, para os investigadores, a tentativa de golpe não avançou graças à resistência dos comandantes da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, e do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. Ambos foram ouvidos como testemunhas e, conforme a PF, desempenharam um papel crucial no esclarecimento dos planos apresentados por Bolsonaro no fim de seu governo.
Dos 14 encontros documentados, quatro tiveram a presença dos três comandantes. Em cinco ocasiões, dois deles participaram, enquanto em outras cinco, apenas um esteve presente. O general Freire Gomes, do Exército, foi o mais presente, com 12 visitas ao Alvorada. Almir Garnier, da Marinha, compareceu oito vezes, enquanto Baptista Júnior, da Aeronáutica, esteve no local em cinco ocasiões.
Entre os encontros, o do dia 24 de novembro foi destacado como um dos mais tensos. Na ocasião, Bolsonaro propôs um decreto que permitiria intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a prisão de adversários políticos.
Conforme depoimentos à PF, Almir Garnier manifestou apoio ao plano, enquanto Baptista Júnior protestou, e Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro caso a ideia fosse adiante. Apesar da tensão, os comandantes ainda enfrentaram propostas golpistas em pelo menos outros dois momentos.
Na reta final do governo, Bolsonaro e seus aliados continuaram tentando minar os resultados das eleições. A PF revelou que, além das reuniões no Alvorada, havia planos de assassinar o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula (PT) e o vice, Geraldo Alckmin.
A conspiração também envolveu militares de escalões mais baixos e membros das Forças Especiais do Exército. Segundo a PF, a resistência dos comandantes foi decisiva para conter os avanços golpistas.