Uma professora da rede municipal de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, na Bahia, registrou um boletim de ocorrência e encaminhou uma denúncia ao Ministério Público após ser vítima de intolerância religiosa na escola em que trabalha.

Sueli Santana, que é adepta do candomblé, conta que, desde o início do ano, foi hostilizada por três estudantes novos, que ingressaram na Escola Municipal Rural Boa União, e são de uma mesma família de evangélicos.

O caso começou com agressões verbais, mas escalou ao ponto de a professora ser apedrejada pelos alunos.”Essas crianças se incomodaram ao me verem em uma sexta-feira com minhas vestes tradicionais do Candomblé. Eu sou professora da rede municipal, mas também sou makota do Terreiro de Lembarocy, em Salvador. Makota é um título candomblecista, e eu sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco toda sexta-feira à escola e, quando estou em rituais, além de vestir branco, cubro minha cabeça”, relatou ao site Farol da Bahia.

Ainda de acordo com a professora, embora os pais dos estudantes tenham sido chamados algumas vezes pela direção da escola, as agressões verbais não cessaram, e ela seguiu sendo chamada de “bruxa”, “demônia”, “macumbeira”, “satanás” e “feiticeira”.

Ainda de acordo com o seu relato, a situação se tornou insustentável depois que ela foi apedrejada pelos estudantes, em outubro e novembro.

“Passei a sofrer não apenas agressões verbais, mas também físicas. Eu fui apedrejada por esses três alunos. Em vários momentos em que eu chegava na sala de aula, havia versículos bíblicos escritos no quadro e uma Bíblia sobre a minha mesa. Quando eu pedia para que o dono retirasse, essas meninas diziam que a Bíblia estava ali para que Jesus salvasse a minha alma”, detalhou a professora.

No episódio mais recente de violência em sala de aula, a professora disse ter ouvido de uma das alunas autoras das agressões que ‘a única coisa que os negros trouxeram para o Brasil foi a macumba e a maconha’. Além das atitudes discriminatórias contra si, a docente também passou a ser questionada pelos familiares das alunas, bem como por outras famílias, pelo uso do livro ‘o ABC Afro Brasileiro’, em sala de aula.

A obra, da autora Carolina Cunha, apresenta a influência de diversas nações africanas na formação do povo brasileiro, como na culinária, na música, na relação com a natureza e na religiosidade. Sueli afirma que chegou a ser proibida pela secretaria de educação de trabalhar com a obra até que alguém da pasta fosse à escola conversar com os pais.

“Como se fosse necessário a lei ser autorizada, né”, questionou a professora, em menção à Lei que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. A reportagem pediu esclarecimentos sobre o caso à secretaria municipal de educação de Camaçari, mas não obteve respostas até o fechamento.

Já a Polícia Civil afirmou, em nota, que investiga o caso como lesão corporal e injúria via Delegacia Especial de Atendimento à Mulher. A corporação acrescentou que oitivas e diligências estão em andamento e são apuradas pela unidade especializada.

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Last Update: 27/11/2024