Em entrevista ao Primocast, há mais de três anos, o banqueiro Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PL), predisse que para o Brasil se tornar uma Argentina, bastariam seis meses de decisões econômicas equivocadas. Eis que a realidade se impõe ao banqueiro, após o anúncio de que o país vizinho entrou, oficialmente, em recessão técnica, por adotar as mesmas políticas ultraliberais preconizadas por ele e por Bolsonaro.
Sob o arrocho do governo Javier Milei, as condições dos trabalhadores argentinos se deterioraram instantaneamente. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), nos primeiros três meses de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) tombou 5,1% frente ao mesmo período de 2023. “Com meu chefe de assessores, doutor Demian Reidel, estamos reescrevendo grande parte da teoria econômica”, considerou Milei.
Embora imagine estar revolucionando a economia da Argentina, a receita do “Bolsonaro hermano” é antiga e ultrapassada. Desde que assumiu o cargo, Milei determinou a paralisação das obras federais e a suspensão dos repasses às províncias (estados), além de interromper o subsídio às tarifas de luz, água, gás e transporte público. Como resultado, a construção civil encolheu 19,7% nos últimos seis meses. Declínios significativos também foram observados pelo Indec no setor de transformação (-13,7%) e de intermediação financeira (-13%).
As quedas trimestrais consecutivas do PIB argentino colocam em xeque a política de austeridade econômica por conduzir ao empobrecimento geral da população. O Indec ressalta que, na comparação com 2023, o consumo privado e o público recuaram 6,7% e 5%, respectivamente, no primeiro trimestre de 2024. Os cortes também sufocaram o mercado de trabalho: de janeiro a março, o desemprego subiu de 5,7% para 7,7%, o que representa cerca de 300 mil pessoas agora desocupadas.
Dos 46,7 milhões de argentinos, segundo o Indec, quase 42% estão abaixo da linha da pobreza. Em março, o consumo de carne foi o menor em três décadas, como indicam estatísticas da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina.
Em viagem à República Tcheca e alheio ao sofrimento da população, Milei celebrou a contração da economia da Argentina. O presidente disse que seu governo promoveu “o maior ajuste fiscal não apenas da história argentina, mas também da humanidade”, sendo ele possível candidato ao Nobel de Economia.
Alternativa ao massacre ultraliberal
No Brasil, as recentes e constantes intimidações do mercado financeiro para que o presidente Lula reduza despesas sociais e investimentos de Estado estão também em sintonia com o massacre levado a cabo por Javier Milei na Argentina. Na contramão da asfixia experimentada pelo país vizinho, no entanto, as medidas do governo federal contribuíram para o aquecimento da economia brasileira, frustrando as expectativas do mercado.
No conjunto de políticas sociais adotadas por Lula, destacam-se o aumento real do salário mínimo, a redução do número de endividados, a queda da inflação e a atração de investimentos externos. No primeiro trimestre de 2024, o PIB do Brasil avançou 0,8%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego de abril, afirma o Instituto de Economia Aplicada (Ipea), ficou em 6,8%, menor percentual em 10 anos.
Diferentemente de Milei, de Bolsonaro e do que deseja a especulação financeira, Lula aposta nos investimentos públicos como condutores do desenvolvimento. Em todo o país, o governo federal anunciou novas obras de infraestrutura para alavancar o emprego e a renda dos trabalhadores. O Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) prevê aportes na ordem de R$ 1,7 trilhão, sendo R$ 1,4 trilhão aplicados até o fim de 2026.
Constituídas durante os dois primeiros governos Lula (2003-2010), por fim, as reservas internacionais do Brasil – algo de que a Argentina não dispõe, muito menos para promover a total dolarização da economia, como quer Milei – cresceram ao patamar de 2,95% do PIB, informa o Banco Central (BC). Em maio, houve aumento no estoque de US$ 4 bilhões, totalizando agora US$ 355,6 bilhões.
Da Redação, com Casa Civil, Banco Central, Carta Capital