O vice-líder da Bancada do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), qualificou hoje como “estarrecedoras” as revelações do inquérito da Polícia Federal que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022, com a participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado pelas investigações como um dos principais artífices da trama.
Lindbergh conclamou a Justiça a agir rapidamente para punir Bolsonaro e outros 36 membros da quadrilha golpista – entre militares e civis – indiciados pela PF. Ele defendeu mudança da Constituição Federal para “separar definitivamente os militares da política”, como forma de fortalecer a democracia e prevenir novas aventuras golpistas.
O parlamentar citou o relatório da PF, de mais de 800 páginas, cujo sigilo foi levantado nesta terça-feira pelo ministro Alexandre de Moraes. “Está muita clara a participação direta de Bolsonaro no plano golpista e de assassinato do presidente Lula, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal”.
Organização criminosa- Na página 841, por exemplo, conforme lembrou o deputado do PT, as investigações comprovam “inequivocamente que o então presidente Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa, que objetivava a concretização do golpe de Estado e a abolição do Estado de Direito”.
O mais grave, na opinião de Lindbergh, é que o ex-capitão Bolsonaro “estava à frente e sabia de tudo”. “O mais grave é que ele tinha conhecimento detalhado do Plano Punhal Verde Amarelo, para assassinar Lula, Alckmin e Moraes”. Lindbergh lembrou que no dia 9 de novembro de 2022 o plano foi impresso no Palácio do Planalto e levado ao conhecimento de Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.
Outro ponto gravíssimo, na opinião de Lindbergh Farias, foi a reunião no dia 12 de novembro, na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, com mais seis meliantes da quadrilha, para tratar especificamente do assassinato do ministro Alexandre de Moraes. O organograma incluía também impedir Lula de subir a rampa do Planalto e a utilizar de tanques da Marinha. Exército e Aeronáutica não aderiram à aventura golpista.
Torturadores – Lindbergh lembrou que a trajetória de Bolsonaro sempre foi de desprezo à democracia. Ele já defendeu que a ditadura militar (1964/85) devia ter assassinado uns 20 mil opositores do regime e já na democracia preconizou o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995/2002).
Lindbergh disse que não causa surpresa a ação de Bolsonaro e seus cúmplices golpistas, pois todos são alinhados à linha dura das Forças Armadas, que nos tempos sombrios da ditadura assassinaram e torturaram opositores, muito “desaparecidos” e cujos corpos nunca foram encontrados, como o do ex-deputado Rubens Paiva, caso agora retratado no filme Ainda Estou Aqui, em cartaz.
Um dos golpistas indiciados pela PF é o general Augusto Heleno, que nos anos 70 foi ajudante de ordens do general Silvio Frota, que tentou dar um golpe contra o então presidente, general Ernesto Geisel, que deu início a um processo de abertura política no país.
Conforme lembrou Lindbergh, a linha dura das Forças Armadas – à qual se alinha Bolsonaro – explodiu 70 bombas no país entre 1978 e 87, incluindo a sede da OAB/Rio de Janeiro, Riocentro e bancas de jornais e revistas. “É essa é a turma de Bolsonaro”.
Segundo o parlamentar petista, a Câmara dos Deputados precisa debruçar-se sobre o tema, que é de extrema gravidade.
Entre os 37 indiciados pela PF há ex-ministros e militares de alta patente. Segundo as investigações, eles atuaram em 6 núcleos para abolir a democracia no Brasil e evitar a posse de Lula em janeiro de 2023. O relatório da PF foi encaminhado por Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora terá um prazo de 15 dias para decidir se apresentará uma denúncia contra os envolvidos, arquivará o processo ou solicitará novas diligências antes de tomar uma posição.
Equipe PT na Câmara