Tennessee Williams não pode morrer
por Izaías Almada
O título acima, que dá nome ao espetáculo teatral em apresentação no Auditório do SESC Pinheiros até o dia 14 de dezembro, é propositalmente ambíguo.
O escritor e dramaturgo Tennessee Williams é sem dúvida nenhuma – e perdoem-me o lugar comum – um dos mais expressivos nomes da dramaturgia mundial desde a Grécia antiga.
Quando em Belo Horizonte, minha cidade natal, aos 18 anos de idade resolvi arriscar com a cara e a coragem que gostaria de trabalhar em teatro, a primeira vez que pisei um palco foi para fazer uma peça deste autor ao lado de Gabriela Rabelo, que também iniciava a sua caminhada.
“A Voz da Chuva” foi apresentada pelo Teatro Experimental de BH, grupo onde trabalhou, entre outros, o querido amigo Rodrigo Santiago.
Quando digo acima que “Tennessee Williams Não Pode Morrer” traz a ambiguidade propositalmente colocada no título do espetáculo é pela simples e óbvia razão de que a encenação nos emociona por compartilhar parte da vida e obra de um autor que jamais irá morrer ou desaparecer.
Com dramaturgia de Marcelo Braga e Luís Felipe Caivano, a criativa e segura direção de Marcelo Braga e a entrega emocional e consciente à sensibilidade humana e grandeza poética do Tennessee Williams no trabalho da atriz Vivian Bertocco e do ator Luciano Schwab, assiste-se e vive-se com alguém que passou por duas guerras mundiais e viu florescer o comunismo e o nazismo do outro lado do Atlântico, enfrentou sérios problemas familiares, sobretudo com o pai, sofreu preconceitos de gênero e duras críticas a algumas de suas peças, mas jamais perdeu de vista o humanismo e a poesia.
Duas de suas peças, entre outras, apenas para dar dois exemplos, foram adaptadas para o cinema: “Um Bonde Chamado Desejo” e “De repente no Último Verão”. Ambas se tornaram sucessos mundiais no teatro e no cinema.
Williams não deixou de ser uma pessoa atormentada. Mas usou isso com brilho e maestria em vários de seus personagens, como os das peças citadas no parágrafo acima.
Vivian Bertocco e Luciano Schwab encontraram a medida certa para esses tormentos apoiados pela luz de Aline Santini, pelos cenários e figurinos de José Carlos de Andrade e a trilha sonora de Dario Ricco.
Se o amigo leitor gosta de bom teatro, vá ao Auditório do SESC Pinheiros da Rua Pais Leme, 195 e assista a um excelente espetáculo que lá se apresenta até o dia 14 de dezembro próximo, pois Tennessee Williams não pode morrer…
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.