Nesta quarta-feira (27), o Grupo Carrefour Global se pronunciou pedindo desculpas pelo que a empresa afirmou ser um “mal-entendido”, após afirmar que a sede francesa não compraria carnes brasileiras. A situação colocou em dúvida a qualidade da produção brasileira e causou falta de produtos tanto na França quanto no Brasil.
O CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou na quinta-feira (21), que a rede pararia de comercializar carnes originadas em territórios do Mercosul. O anúncio gerou mal estar político e comercial.
Grandes frigoríficos brasileiros decidiram não vender mais para o maior grupo supermercadista da Europa e do Brasil. A paralisação envolve nomes de empresas como JBS, Minerva e Masterboi. A situação levou a faltar carnes nas prateleiras de algumas unidades da empresa aqui no Brasil.
Na quarta-feira (24), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que se sente feliz com a decisão de frigoríficos brasileiros de suspenderem o fornecimento de carne ao grupo Carrefour no Brasil.
Após cinco dias de impasses, o Carrefour Francês publicou nota de esclarecimento assinada pela equipe de assessoria global da rede. A publicação alega tratar de uma política de apoio ao comércio local que é adotada da mesma forma no Brasil.
Porém, o primeiro parágrafo diz que a declaração inicial foi formulada diante das negociações do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Confira a tradução da nota do Carrefour na integra:
“Nossa declaração de apoio ao mundo agrícola francês, formulada na última quinta-feira sobre o acordo de livre-comércio com o Mercosul, suscitou no Brasil discordâncias que é nossa responsabilidade apaziguar.
Jamais colocamos a agricultura francesa em oposição à agricultura brasileira, sendo que nossos dois países, que nos são tão queridos, compartilham o amor pela terra, por seu cultivo e pela boa alimentação.
Na França, o Carrefour é o principal parceiro da agricultura francesa. Compramos quase exclusivamente carne francesa na França e continuaremos a fazê-lo. A decisão do Carrefour França não tem como objetivo alterar as regras de um mercado francês já amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais. Ela visa assegurar legitimamente os agricultores franceses, mergulhados em uma grave crise, da continuidade de nosso apoio e de nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, compramos a quase totalidade de nossa carne brasileira no Brasil e continuaremos a fazê-lo. São os mesmos valores de enraizamento e parceria que têm inspirado, há 50 anos, nossa relação com o mundo agrícola brasileiro, cujo profissionalismo e apego à terra e aos rebanhos conhecemos e valorizamos diariamente.
Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como uma contestação de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela.
Temos orgulho de ser o principal parceiro e promotor histórico da agricultura brasileira. Melhor do que ninguém, conhecemos as normas seguidas pela carne brasileira, sua alta qualidade e seu sabor. Continuaremos valorizando as cadeias agrícolas brasileiras, como temos feito no Brasil há quase 50 anos. Com nosso desenvolvimento, contribuímos para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, em uma lógica que sempre foi de parceria construtiva.
O grupo Carrefour está comprometido em trabalhar, tanto na França quanto no Brasil, em prol de uma agricultura sustentável e próspera, seguindo o propósito de sua razão de ser: a transição alimentar para todos.”
Mercosul
No dia 6 de dezembro terá mais uma reunião dos líderes do Mercosul (Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai) para avançar as negociações com a União Europeia. Em negociação há mais de 20 anos, nos últimos meses a iniciativa ganhou apoio da Alemanha e da Espanha.
O acordo comercial prevê a eliminação da maioria das tarifas entre as duas regiões. A França tem se posicionado contra os termos atuais que estão sendo colocados. Os deputados franceses defendem a criação de mais impostos sob a carne bovina oriunda do Mercosul.
A decisão do Carrefour, publicada pelo CEO, foi em apoio aos comerciantes franceses e contra o acordo do Mercosul. Mas em nota alegaram que o uso de carnes do Mercosul traria “repercussões negativas no mercado francês ao comercializar carnes que foram produzidas sem cumprir com os requisitos e normas”.