Pesquisa recente revelou que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em casas de apostas on-line em 12 meses, sofrendo prejuízo de R$ 23,9 bilhões. O hábito torna-se um vício insustentável, em grande parte dos casos, gerando também problemas graves de relacionamento familiar e afetivo, isolamento social, sensação de fracasso e até endividamento insolúvel. Trata-se de uma epidemia e de agiotagem on-line. O Brasil precisa dar um basta a esse descalabro.

Deputado Zeca Dirceu. Foto: Thiago Coelho

Pessoas humildes têm sido enganadas 24 horas por dia, com um turbilhão de anúncios na mídia, em jogos de futebol e nas redes sociais, em que prosperam figuras públicas e influencers, que manipulam a boa-fé e prometem o milagre de milhões de reais aos incautos.

Onipresentes e de fácil acesso, casas de apostas on-line — as bets — viciam e arruínam famílias. Por isso, devem ter o mesmo tratamento que cigarros e bebidas: proibição de publicidade e alta taxação. Os dados são estarrecedores.

Pesquisa recente do Banco Itaú mostrou que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em casas de apostas on-line em 12 meses, sofrendo prejuízo de R$ 23,9 bilhões. Esse número equivale a 0,2% do PIB brasileiro, 0,3% do consumo total e 1,9% da massa salarial. É uma dinheirama.

Pessoas humildes têm sido enganadas 24 horas por dia, com um turbilhão de anúncios na mídia, em jogos de futebol e nas redes sociais.

Isso atinge frontalmente a saúde financeira, mental e física de jovens e adultos, mas até crianças têm ficado expostas a essa insidiosa máquina de fazer dinheiro. Boa parte das plataformas está no exterior, sem transparência e nenhum controle público nacional.

Há relatos de que até beneficiários do Bolsa Família detonam o que ganham em apostas e jogos como o conhecido Tigrinho. Há trabalhadores rurais endividados, famílias que perdem suas casas, adoecimento mental, diminuição de recursos para a compra de itens básicos. Pior, há casos de suicídio de jovens que não conseguem pagar o que devem.

O hábito torna-se um vício insustentável, em grande parte dos casos, gerando também problemas graves de relacionamento familiar e afetivo, isolamento social, sensação de fracasso e até endividamento insolúvel. O tratamento de problemas de saúde mental relacionados ao vício já tem impactado substancialmente o SUS.

Diferentes estudos mostram que 86% dos brasileiros que fazem esse tipo de jogo já estão endividados. Antes restrita ao público que torce por times de futebol, a prática espalhou-se a todos os segmentos sociais, diante das milionárias verbas de publicidade das casas de apostas em todos os meios de comunicação e redes sociais. Vende-se a ilusão da riqueza sem trabalho.

Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, no total 52 milhões de brasileiros adultos já fizeram apostas esportivas em sites ou apps especializados. Desses, 79% são das classes C, D e E, e 76% possuem cartão de crédito.

Estudo da consultoria PwC Strategy& do Brasil mostra que as apostas equivalem a 76% das despesas de “lazer e cultura” das classes D e E ou a cerca de 5% do que é destinado à alimentação. Fica mais grave a estatística quando se sabe que 43% do povo brasileiro revela não ter segurança financeira, conforme mostra a pesquisa Hopes and Fears 2024.

Encerrada a regulamentação das apostas on-line, já há mais de cem pedidos de autorização de funcionamento de empresas da área. Mas regular para arrecadar não resolve o problema. A questão é mais profunda.

A publicidade das apostas deve acabar ou tornar-se extremamente restrita. É um monumental desafio para o governo Lula, o Congresso e toda a sociedade. Trata-se de uma epidemia e de agiotagem on-line. O Brasil precisa dar um basta a esse descalabro.

 

Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR)

 Artigo do deputado Zeca Dirceu publicado no jornal o globo em 10/09/24

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Última Atualização: 10/09/2024