Com o início da Paralimpíada de Paris, foi dada também a largada para uma campanha que busca esclarecer, mais uma vez, os desvios de tratamento na abordagem dos atletas paralímpicos.
Começo aqui por lembrar que os atletas são competidores e não participantes, e que é equivocado dizer que são exemplos de superação.
É preciso, de uma vez por todas, superar-se qualquer ideia que remeta a um sentimento de pena. Eles são, reconhecidamente, atletas de alto rendimento.
Outra expressão inadequada para referir-se aos atletas é “portadores de necessidades especiais”. O correto é dizer pessoa deficiente, expressão que deixa claro que deficiência é uma característica.
Como disse uma atleta: “Ninguém porta deficiência. A pessoa tem deficiência”.
Esse e mais alguns ensinamentos devem colocar os torcedores, e mesmo repórteres e apresentadores, nos eixos, corrigindo os deslizes e descuidos habituais.
E sabemos que, em termos de esportes paralímpicos, o Brasil é potência mundial. Há muito tempo o País termina as competições entre os dez primeiros colocados.
Esses resultados expressivos se devem à Lei Agnelo/Piva, de 2001 – que estabelece que 2% da arrecadação bruta das loterias federais seja repassado aos comitês Olímpico e Paralímpico brasileiros – e à construção, em São Paulo, de um Centro de Treinamento apropriado para mais de 15 modalidades.
Também é importante observar que nada disso seria possível se não tivessem sido desenvolvidos mecanismos de acessibilidade e soluções arquitetônicas adequados.
A propósito desse tema, observei aqui que vi uma reportagem, na televisão, na qual eram mostradas as dificuldades da acessibilidade na própria Paris – provavelmente por ser uma cidade bastante antiga.
Mas os Jogos Olímpicos de 2024 devem servir de alavanca para facilitar a vida daqueles que, na capital francesa, precisam de tais recursos.
Sinto-me bastante feliz com o sucesso dos nossos atletas também pelo fato de ter trabalhado alguns anos no Centro de Reabilitação Profissional, como médico do INSS, no Rio de Janeiro, e acompanhado o início da evolução de algumas iniciativas.
Dentre elas, destaco o futebol de deficientes visuais na quadra da Escola de Educação Física do Exército, na Urca, e o futebol de amputados treinado, em condições difíceis, por Uchoa, lateral do América do Rio, com extraordinário desprendimento.
Tive o prazer de encontrar pelas ruas pessoas que tiveram a oportunidade de receber próteses apropriadas relatando, com alegria, suas trajetórias e vitórias nos campos desportivos.
Vamos agora torcer para que na Paralimpíada, que teve início na quarta-feira 28 e segue até 8 de setembro, nossos atletas consigam realizar-se.
Enquanto isso, ao mesmo tempo que os “Brasileirões” masculino e feminino avançam, o futebol europeu ensaia seu início de temporada.
A Federação Internacional de Futebol (FIFA), por sua vez, anuncia aquilo que já se previa para 2025: um campeonato mundial com 32 times espalhados pelos quatro continentes, sendo realizado nos Estados Unidos, e que já conta com 30 classificados.
O sistema de disputa será o da divisão em grupos, com a classificação inicial de dois times, seguindo-se depois o esquema de mata-mata e a final em jogo único.
O Brasil conta com três participantes confirmados: Flamengo, Fluminense e Palmeiras. A classificação se deu de acordo com os desempenhos nas Libertadores dos quatro últimos anos.
Aqui do nosso lado, novidade mesmo é o Fortaleza assumindo a liderança do “Brasileirão” na sequência do belo trabalho desenvolvido pela direção administrativa e pelo técnico argentino Voyvoda.
Daquilo que temos a lamentar, seguem as queixas em torno do calendário apertado demais.
E surge ainda, em meio a isso, a triste notícia da parada cardiorrespiratória – associada a arritmia cardíaca – que acometeu o zagueiro uruguaio Juan Izquierdo, durante a partida do Nacional contra o São Paulo, no Morumbi.
O atleta morreu nesta terça-feira 27, na UTI do Hospital Albert Einstein, para onde havia sido levado na quinta-feira 22, quando passou mal durante o jogo válido pela Libertadores.
Foram chocantes as cenas de um companheiro procurando ampará-lo enquanto ele perdia as forças.
Publicado na edição n° 1326 de CartaCapital, em 04 de setembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Atletas paralímpicos”.