A largada das eleições na cidade de São Paulo descortina uma disputa muito acirrada. Os primeiros debates realizados mostraram Guilherme Boulos como o candidato mais preparado, conhecedor da cidade e de seus dilemas, empenhado em discutir propostas para solucioná-los. Ricardo Nunes fez o feijão com arroz na árida tarefa de defender sua péssima gestão. José Luiz Datena está notando que a arena política é bem mais complexa do que parece, até para um comunicador experiente como ele. Tábata Amaral tem mostrado firmeza para achar seu espaço e buscado desmascarar Pablo Marçal, a novidade da campanha até o momento.

O ex-coach foi tão agressivo, mentiroso e alheio às regras mais elementares de civilidade nos primeiros encontros, que ensejou reação de outros candidatos. Por outro lado, virou o assunto da eleição, com exposição pública imensa que lhe rendeu um salto nas últimas pesquisas. No Datafolha, subiu 7 pontos e ultrapassou Nunes, que caiu 4 pontos e foi para a terceira posição. Boulos segue liderando esse primeiro pelotão, o que hoje lhe garantiria vaga no segundo turno.

Essa sondagem foi uma verdadeira bomba atômica na campanha do atual prefeito, até então tido como favorito, e no bolsonarismo, que teme ser engolido pela própria criatura. Mas Jair Bolsonaro não apoia Nunes? Sim, só que há duas faces na ação do bolsonarismo na disputa paulistana: uma é a disfarçada, ancorada no esquema político tradicional, representada na aliança do prefeito; a outra, a escancarada, agressiva, mobilizada por Marçal.

A ascensão do ex-coach se tornou um grande problema, pois é uma ameaça real que pode tirar Ricardo Nunes do segundo turno. Ele subtrai o eleitorado de direita radical e a parcela “antissistema”, que considera o prefeito um produto do velho Centrão e incapaz de vocalizar a ira “contra tudo que está aí”.

Isso tende a forçar Nunes a radicalizar o discurso e fazer mais gestos ao bolsonarismo, o que também deve obrigá-lo a assumir compromissos mais reacionários em caso de reeleição. A consequência pode ser uma elevação da rejeição, mas a ameaça é perder a disputa de véspera, então, a tendência é que aceite pagar o preço. A verdade é que ele teve oportunidade e fez um governo pífio, incapaz de produzir uma marca positiva. Fica difícil vender areia no deserto.

Bolsonaro, por sua vez, também não está em posição confortável. Depois da indicação pessoal do Coronel Mello para vice, uma eventual derrota de Nunes estará na sua conta inescapavelmente. Por isso, precisa entrar na batalha para esvaziar Marçal. Por outro lado, caso não tenha sucesso, terá perdido a condução de seu próprio eleitorado. Inelegível, isso pode significar uma fragilização ainda maior de sua liderança e abrir uma divisão pelo comando da tropa.

E quanto a Marçal? Seu discurso vazio e violento é música para os ouvidos do “bolsonarismo raiz”. Mas não nos enganemos: Pablo Marçal não é um amador! Há método e cálculo por trás de seus movimentos, que parecem espontâneos e até tresloucados, mas não são. É como se ele fosse o produto ideal para ser vendido através de uma versão incrementada do aparato que guindou o bolsonarismo à liderança nas redes sociais.

Pablo Marçal é um nome relevante do mercado digital brasileiro e fez fortuna iludindo incautos na internet. Não enriqueceu com “rachadinha”, ganha milhões e milhões com a chamada “economia da atenção”, que lhe rende interação inigualável e centenas de milhares de novos consumidores de seus “cursos”.

Montou e alimentou uma megaestrutura de comunicação digital – o exército que viraliza seus “cortes” mediante remuneração – que nenhum outro político tem e conhece como ninguém a dinâmica das redes sociais, instrumentos que, desde 2018, superaram a televisão e o rádio no marketing político brasileiro. Ou seja, subestimá-lo seria um erro grosseiro.

Nesse caso em particular, como se tornar assunto, custe o que custar, é um objetivo em si, Pablo Marçal é um candidato que ganha mesmo se perder. Mas e se não perder? O que será de São Paulo nas mãos de um arrivista inescrupuloso, cujo único objetivo de vida é ganhar dinheiro.

Em 2022, Marçal foi capaz de promover uma escalada ao Pico dos Marins, das montanhas mais perigosas do estado, na qual colocou em risco a vida de 30 pessoas que lhe pagaram por esse exercício de “autoajuda”. O pior não aconteceu graças ao Corpo de Bombeiros, que os resgatou.

Não bastasse ser movido a ganância, a cada dia são reveladas novas ligações de seus apoiadores com o crime organizado. Ele próprio já teve condenação judicial por participar de uma quadrilha que aplicava golpes bancários através da internet. Parece que a turma barra pesada resolveu deixar de lado os intermediários para apoiar um dos seus. Não há chance de esse tipo de pessoa ser solução para os desafios de São Paulo.

Assim como fizemos e vencemos em 2022, é preciso mobilizar as forças democráticas da cidade para caminharem unidas e impedirem que nossa cidade caia nas garras de aventureiros. São Paulo não pode ser cobaia do bolsonarismo!

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Última Atualização: 28/08/2024