Inovação Disruptiva no Pensamento Econômico

por Eduardo Silva

No capitalismo, a inovação tecnológica é vista como um motor essencial do progresso econômico. Essa “disrupção” é interpretada como uma manifestação do dinamismo dos mercados e do empreendedorismo.

Essa corrente de pensamento acredita as inovações surgirem naturalmente em um ambiente de mercado livre, onde a concorrência incentivaria a eficiência, a redução de custos e o crescimento econômico. Para seus adeptos, O Mercado é o mecanismo sobrenatural para alocar recursos e recompensar inovações.

As inovações disruptivas são vistas como processos de “destruição criativa”, um termo cunhado por Joseph Schumpeter, associado à Economia Evolucionária – e não ao capitalismo. Substituem tecnologias, empresas e até indústrias obsoletas, gerando novas oportunidades e crescimento. O mainstream absorveu o conceito…

O capitalismo advoga por uma intervenção mínima do Estado, acreditando O Mercado sobrenatural sozinho ser capaz de determinar quais inovações prevalecem. Intervenções, como subsídios ou regulamentações excessivas, são vistas com ceticismo, pois distorceriam os incentivos e sufocariam a inovação.

 A inovação tecnológica disruptiva é um tema amplamente discutido por diversas correntes de pensamento econômico. Cada uma apresenta uma perspectiva distinta sobre seus impactos e significados.

Os economistas neoclássicos geralmente veem a inovação tecnológica como um motor essencial do crescimento econômico. Para eles, inovações disruptivas aumentam a eficiência, reduzem custos e levam a um crescimento de longo prazo ao expandir as fronteiras de produção. A tecnologia é considerada um fator exógeno, no modelo neoclássico, mas essencial para explicar o progresso econômico.

Inovações disruptivas são vistas como positivas porque promovem a competição e incentivam a eficiência. O mercado competitivo, segundo essa visão ortodoxa, direciona recursos para usos mais produtivos e favorece a inovação contínua.

Apesar de reconhecerem os benefícios das inovações, preocupam-se com os impactos a curto prazo, como o desemprego temporário e o fechamento de empresas. Mas, em sua crença quase religiosa, têm fé (tipo “podes crer”) em O Mercado sobrenatural acabar por se ajustar, com os recursos, inclusive o trabalho, sendo redistribuídos para setores mais produtivos, isto é, rentáveis…

Os economistas keynesianos também reconhecem a importância das inovações tecnológicas para o crescimento econômico, mas focam mais nos impactos macroeconômicos, como a demanda agregada e o emprego. As inovações disruptivas levam a flutuações econômicas, criando incertezas no curto prazo.

Inicialmente, aumentam o desemprego ao substituir trabalhadores ou setores inteiros, reduzindo a demanda agregada. Keynesianos enfatizam a necessidade de políticas fiscais e monetárias para mitigar esses efeitos negativos, mantendo a demanda agregada e o emprego em níveis adequados.

Eles defendem uma intervenção estatal ativa para suavizar os impactos negativos. Promoveria a transição econômica com medidas como seguro-desemprego, programas de qualificação profissional e investimentos públicos para estimular a demanda e evitar recessões.

Do ponto de vista marxista, a inovação tecnológica é uma força fundamental no capitalismo, mas vista de maneira ambivalente. Por um lado, aumenta a produtividade do trabalho e potencialmente reduz a necessidade de trabalho humano. Por outro lado, exacerba a exploração dos trabalhadores e a concentração de capital.

Os economistas marxistas argumentam no sentido de ela intensificar as contradições do capitalismo ao criar desemprego tecnológico, aumentar a desigualdade e promover a concentração de riqueza e poder nas mãos de poucas corporações. A inovação, segundo essa visão, também acelera o ritmo da “destruição criativa”, levando a crises cíclicas mais profundas.

Os marxistas veem as inovações disruptivas como parte do processo inevitável de autodestruição do capitalismo. Este levará, certamente, a crises sistêmicas. A solução seria a superação do sistema capitalista por uma economia socialista, onde a inovação seria direcionada para o benefício de todos e não para o lucro de poucos.

Os economistas institucionalistas enfatizam o papel das instituições (regras, normas e organizações) no processo de inovação tecnológica. Para eles, este não ocorre no vácuo, mas dentro de um contexto institucional capaz de moldar seus impactos e direções.

Eles analisam como as inovações disruptivas são moldadas por, e como elas remodelam, as instituições existentes. Eles destacam as inovações reforçarem ou transformarem a estrutura de poder existente, dependendo das instituições e políticas governantes da economia.

Para os institucionalistas, é crucial as instituições se adaptarem e evoluírem para mitigar os impactos negativos da inovação disruptiva. Políticas públicas garantiriam uma distribuição mais equitativa dos benefícios da inovação e promoveriam uma governança inclusiva no processo de inovação.

Como visto, a maior referência para todas essas correntes de pensamento a respeito do tema é Joseph Schumpeter. Os economistas inspirados por ele, como os adeptos da teoria dos ciclos de Kondratiev (períodos alternados de crescimento elevado e lento), veem a inovação disruptiva como o centro da dinâmica capitalista.

Para Schumpeter, ela é o principal motor dos ciclos econômicos. As fases de expansão e contração correspondem a ondas de inovação tecnológica.

A destruição criativa é central para essa visão: destrói indústrias e modelos de negócios antigos, criando espaço para novos empreendimentos e fases de crescimento. É visto como um processo necessário e inevitável, embora doloroso.

Embora reconheçam os impactos negativos no curto prazo, os schumpeterianos acreditam a inovação disruptiva ser essencial para o progresso econômico de longo prazo. As políticas públicas, nesse contexto, devem facilitar a transição e apoiar a criação de novas indústrias e oportunidades.

Michal Kalecki destaca vários fatores influentes nas decisões de investimento das empresas, entre os quais se encontra a inovação tecnológica. Esta, dentro sua teoria, é considerada em relação a outros fatores, não é um determinante isolado.

A rentabilidade esperada de novos investimentos é central para a teoria de Kalecki. A inovação tecnológica aumentaria a lucratividade ao reduzir custos e/ou aumentar a produtividade, mas, para isso se traduzir em investimento real, os empresários teriam de ter expectativa da demanda futura a sustentar, ou seja, o ritmo de vendas dos seus produtos ou serviços ser suficiente para justificar o investimento.

Se a empresa já está operando com capacidade produtiva ociosa, a introdução de inovações tecnológicas torna-se menos atraente, pois não há necessidade imediata de aumentar a produção. Kalecki sugere o investimento em novas tecnologias ser mais provável quando há uma pressão para expandir a capacidade produtiva em resposta à demanda crescente.

A inovação tecnológica requer financiamento para pesquisa, desenvolvimento e implementação. O acesso a esse financiamento é crucial, mas dependerá do grau de endividamento ou princípio do risco crescente.

Portanto, a inovação tecnológica disruptiva é tratada de várias maneiras pelas correntes de pensamento econômico. Reflete suas diferentes interpretações do impacto sobre o funcionamento do mercado e o papel das instituições.

Enquanto correntes como a neoclássica e schumpeteriana veem a inovação como um motor essencial do crescimento, mesmo com problemas a curto prazo, outras como a marxista e keynesiana enfatizam os riscos sociais e econômicos, defendendo intervenções ou transformações mais profundas para mitigar seus efeitos danosos com o desemprego tecnológico. Kalecki vê a inovação tecnológica como um fator importante, mas deve ser entendido de maneira interativa com outros fatores: grau de endividamento, ritmo de vendas e lucros, grau de utilização da capacidade produtiva e até mesmo fatores demográficos.

Fernando Nogueira da Costa – Professor Titular do IE-UNICAMP. Autor de “Economia de Mercado de capitais à Brasileira” (agosto de 2021). Baixe em “Obras (Quase) Completas”: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/. E-mail: [email protected].

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Última Atualização: 28/08/2024