Entrada do Colégio Bandeirantes. Foto: reprodução

Poucos dias após um aluno bolsista cometer suicídio no Colégio Bandeirantes, a escola de elite de São Paulo reavalia a parceria com a ONG Ismart. A organização é responsável por conectar adolescentes de baixa renda a colégios particulares de excelência, concedendo bolsas de estudo.

O Bandeirantes é o principal parceiro do Ismart na capital paulista, recebendo 110 dos 360 bolsistas atendidos pela ONG. No entanto, a tragédia gerou um incômodo na cúpula da escola, que agora questiona alguns aspectos dessa colaboração.

Estela Zanini, diretora de convivência do Bandeirantes, afirmou que é necessário rever algumas coisas dessa parceria. Entre os pontos de divergência está a presença dos analistas da ONG na escola. Esses profissionais são responsáveis por atender os bolsistas e a direção do colégio gostaria que eles estivessem no local durante o horário das aulas, algo que a ONG considera inviável.

Mariana Monteiro, CEO do Ismart, enfatiza a importância de aprimorar o processo de inclusão dos bolsistas, mas sem encerrar parcerias que transformam para melhor a vida de jovens e suas famílias.

A tensão entre a escola e a ONG ficou evidente em outros episódios após o suicídio do estudante. Em uma reunião do Conselho Estadual de Educação, o assessor do núcleo de estratégia e inovação do Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar, ex-diretor da escola, expressou críticas à agressividade dos bolsistas durante um encontro no colégio para discutir a morte do jovem.

O assessor do núcleo de estratégia e inovação do Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar – Foto: Silvia Costanti/Valor

Foi chocante a reação desses alunos, afirmou Aguiar, relatando que os bolsistas exigiram atendimento psicológico para todos. Ele defendeu que escola não é clínica de psicologia e associou a atitude dos estudantes a essa sociedade dos direitos, gerando ainda mais polêmica.

A CEO do Ismart, que participou da reunião, reconheceu que o encontro foi em um momento de dor, quando os estudantes expressaram sentimentos reprimidos. Uma bolsista que esteve presente descreveu a reunião como civilizada, mas destacou que houve muito choro e um momento de tensão quando os alunos pediram maior atenção à saúde mental do grupo.

Além da questão do suporte emocional, empresários do setor educacional também discutem os desafios da integração de bolsistas em colégios de elite. Cláudio Mansur Salomão, mantenedor da Faculdade Eduvale, afirmou que as bolsas podem ter um impacto negativo na vida social dos estudantes de baixa renda, que enfrentam dificuldades em se adaptar ao ambiente de alunos de famílias mais abastadas.

O caso no Bandeirantes não é isolado. Em 2019, outro aluno bolsista do Ismart também cometeu suicídio em São Paulo. A prática do colégio é acionar a ONG para mediar situações envolvendo esses estudantes, enquanto os alunos pagantes têm contato direto com a direção.

Três dias antes da recente tragédia, um outro bolsista teve uma crise de ansiedade e a analista responsável não estava disponível, o que gerou críticas da direção do colégio.

Se a escola vai até às 18h30, não dá pra sair às 17h e achar que é OK, afirmou. Monteiro, por sua vez, argumenta que a ideia de que os analistas estejam sempre presentes assusta um pouquinho e comparou a sugestão a ter uma babá disponível 100% do tempo, reivindicou Zanini.

Apesar das tensões, tanto a escola quanto a ONG concordam na importância de apoiar os bolsistas. O Ismart, que também intermediou a relação entre a escola e a família do estudante que se suicidou, continua trabalhando para que os alunos se sintam acolhidos e não diferentes dos demais.

Essa ponte é muito mais porque a gente tem contato frequente com os pais e trabalha com o jovem no dia a dia, concluiu Monteiro.

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 27/08/2024