O ilusionismo é a arte da distração: o artista induz a plateia a desviar o olhar para determinado ponto, enquanto executa o truque em outro. Foi o que o empresário fez ao anunciar o fechamento do escritório da X no Brasil. Para distrair o público da caótica gestão e dos problemas financeiros da rede social, o responsável pela plataforma responsabilizou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, pelo fim da operação. Segundo o comunicado da plataforma, a decisão foi para “proteger” os funcionários da filial, que estariam sendo ameaçados pelo magistrado.

Ao concluir a compra do antigo Twitter por 44 bilhões de dólares, uma das primeiras iniciativas do magnata foi promover uma demissão em massa. Em três meses, o quadro da rebatizada plataforma X despencou de 7,5 mil funcionários para 1,3 mil. Talvez o empresário desejasse protegê-los do que estava por vir. Os cortes atingiram, sobretudo, as equipes de moderação de conteúdo, um empecilho para o projeto do empresário de transformar a rede social em um refúgio da extrema-direita, liberada para propagar fake news e discursos de ódio. Até mesmo neonazistas foram tolerados.

Grandes anunciantes bateram em retirada. A empresa não está mais na Bolsa e não divulga seus resultados financeiros, mas a derrocada é inegável. Em outubro de 2023, funcionários receberam documentos sobre suas cotas de participação na companhia. Segundo os papéis, o valor de mercado da X seria de 19 bilhões de dólares, menos da metade da quantia paga por Musk. A rede social também acumula atritos e problemas legais com as autoridades da União Europeia, da Austrália e do Canadá.

A X não precisa ter uma representação legal no Brasil para oferecer produtos e serviços por aqui, mas continua obrigada a respeitar as leis brasileiras, inclusive o Marco Civil da Internet e a regulamentação eleitoral, explica a advogada Patrícia Peck, especialista em Direito Digital. “O não atendimento a ordem de autoridade tem como uma das penalidades possíveis a aplicação de suspensão temporária ou definitiva, ou até mesmo o bloqueio de operações no País”, diz. “Por certo, é uma medida extrema e, por isso mesmo, a melhor opção é manter o diá­logo e a colaboração com a autoridade, com linha de comunicação facilitada. Normalmente, isso é feito mantendo um representante no País. É como nas relações diplomáticas. Retirar o representante é um sinal de rompimento que pode gerar uma escalada de medidas.”

Corrida por vacinas contra a mpox

Após a Organização Mundial da Saúde declarar que a mpox representa uma ameaça global, o Ministério da Saúde negocia a compra da vacina contra o vírus da varíola dos macacos. A pasta busca reforçar o estoque nacional com a aquisição de 25 mil doses com a Organização Pan-Americana da Saúde, anunciou Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente. Desde 2023, quando a Anvisa autorizou o uso do imunizante Jynneos, produzido pela farmacêutica Bavarian Nordic, cerca de 47 mil doses foram recebidas e mais de 29 mil foram aplicadas no Brasil.

Tocantins/ Saúvas da Covid

Governador é alvo de operação da PF por desvio de cestas básicas na pandemia

A investigação contra Wanderlei Barbosa tramita sob sigilo no STJ – Imagem: Tom Costa/MJSP

A Polícia Federal deflagrou, na quarta-feira 21, a Operação Fames-19, destinada a aprofundar investigações relacionadas ao desvio de recursos públicos reservados para o combate à pandemia de Covid-19. O governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa, do Republicanos, é um dos alvos dos 42 mandados de busca e apreensão cumpridos no estado.

Os inquéritos, que tramitam sob sigilo na Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, apontam a contratação de grupos de empresas previamente selecionadas para o fornecimento de cestas básicas, que teriam recebido a totalidade do valor contratado, mas entregaram apenas parte do quantitativo acordado. Aproveitando-se da fragilidade dos mecanismos de controle durante a crise sanitária, o esquema perdurou entre os anos 2020 e 2021, informa a nota divulgada pela corporação.

Os agentes federais também realizaram batidas em endereços ligados à primeira-dama, Karynne Sotero, e aos filhos do governador, Rérison Castro e o deputado estadual Léo Barbosa, também filiado ao Republicanos. A administração estadual diz colaborar com a PF no cumprimento dos mandados de busca e apreensão: “É do interesse do governo do Estado que tais fatos sejam devidamente esclarecidos”.

Desabafo na madrugada

O modelo Marcelo Bimbi, ex-marido da influenciadora Nicole Bahls, usou o Instagram para acusar o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), de estupro e ameaça de morte. “Eu fui bolinado pelo governador do Acre. Ninguém acredita. Mandaram mensagem de que vão me matar”, escreveu, em uma sequência de stories na madrugada da quarta-feira 21. Em nota, a equipe de Cameli refutou as alegações e afirmou que acionará a Justiça contra o denunciante. “Cada acusação à sua honra, acusações infundadas de suposta perseguição ou ilação sobre fatos desta natureza, serão respondidas no âmbito jurídico específico, com instauração de inquérito policial para a devida investigação, além das ações criminais e cíveis no âmbito da Justiça estadual”.

Voepass/ Venda de passagens suspensa

Empresa deixará de realizar voos para nove destinos até outubro

Com uma aeronave a menos, foi preciso readequar as operações – Imagem: Alexandro Dias

Após a perda do turboélice ATR 72-500, que caiu em Vinhedo em 9 de agosto e matou 62 pessoas entre passageiros e tripulantes, a Voepass informou que deixará de operar voos diários para nove destinos até o dia 26 de outubro. Com uma aeronave a menos em sua frota, a companhia disse ser necessária a readequação das operações. “A medida objetiva garantir uma melhora significativa na experiência dos passageiros, minimizando eventuais atrasos e cancelamentos”, afirma a nota divulgada pela empresa na terça-feira 20.

Foram interrompidos os voos para Fortaleza, Belo Horizonte e Porto Seguro (BA). A partir de 26 de agosto, a ­Voepass deixará de operar as rotas para Salvador, Natal e Mossoró e, em 2 de setembro, para São José do Rio Preto (SP), Cascavel (PR) e Rio Verde (GO).

Em decorrência do desastre aéreo, muitos clientes decidiram não voar com a Voepass e cancelar suas passagens, mas relatam dificuldades para receber o reembolso integral do valor que gastaram com os bilhetes ou mesmo para a realocação em voos de outras companhias. As queixas sobre problemas nos cancelamentos se multiplicaram no site da empresa e em plataformas de defesa dos direitos do consumidor, como o site Reclame Aqui.

Venezuela/ As atas e as ruas

O TSJ verifica os relatórios eleitorais, os protestos continuam

Maduro convoca a militância chavista – Imagem: Stringer/AFP

Após quatro dias de trabalho, os técnicos do Tribunal Supremo de Justiça afirmaram ter checado 60% das atas eleitorais, uma exigência de vários países para reconhecer a lisura do processo venezuelano. A Corte tem até 31 de agosto para anunciar o resultado da auditoria, acompanhada por ­observadores internacionais. Não está claro se um atestado do TSJ, controlado pelo chavismo, será suficiente para afastar as suspeitas de fraude apontadas pela oposição. O Conselho Nacional Eleitoral anunciou a vitória de ­Nicolás Maduro com 51,97% dos votos e diplomou o presidente para um terceiro mandato de seis anos. Os opositores contestam o resultado e apresentam atas nas quais o candidato Edmundo González Urrutia soma cerca de 70%. Caso a Corte confirme o triunfo de Maduro, Urrutia, Corina ­Machado, sua mentora, e outros integrantes da oposição podem enfrentar a Justiça por levantarem falsas acusações. Machado ainda corre o risco de ser indiciada pelo procurador-geral, ­Tarek William Saab, por homicídio. De acordo com o Ministério Público, a líder oposicionista arquitetou as manifestações que provocaram 20 mortes no país. Os apelos internacionais por moderação produzem pouco efeito. O presidente Lula chegou a sugerir novas eleições, mas a ideia não encontrou eco. Chavistas e antichavistas medem forças nas ruas, enquanto o governo tenta emplacar no Congresso uma lei de “combate ao fascismo”, na visão de muitos uma medida que visa ­ampliar a repressão aos dissidentes.

Nada cristão

O Vaticano determinou a expulsão de Luis Fernando Figari do Sodalício da Vida Cristã, grupo religioso fundado por ele no Peru. Figari é acusado de impor um sistema de lealdade baseado em violência, agressão, humilhação e abuso sexual. A decisão, informa o Vaticano, procura “restabelecer a justiça” e “proteger no futuro o bem individual dos fiéis e da Igreja”. O Sodalício foi fundado em 1971 e reconhecido, não por acaso, em 1997 pelo papa João Paulo II, como parte de sua cruzada contra o pensamento progressista no catolicismo. A “seita” de Figari tornou-se influente no Peru e ramificou por outros países sul-americanos, Brasil incluído.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 28 de junho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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Última Atualização: 22/08/2024