Quando os britânicos começaram a colonizar a Palestina a partir de 1917, eles começaram o projeto sionista de imigração de europeus judeus para o país. Era algo muito diferente das demais colônias inglesas como o Egito e o Iraque. Assim se criou uma sociedade colonial europeia da mesma forma que existiu em países da África, sendo o mais parecido a própria África do Sul. Essa sociedade estava sujeita as crises econômicas do capitalismo internacional e o ano de 1925 foi especialmente conturbado. A esquerda na Palestina se organiza no Partido Comunista, eles descrevem como foram os acontecimentos naquele ano.

Um texto publicado em 1926 comenta: “desde 1925, o país tem experimentado uma grave crise econômica. Na essência, essa é uma crise nas empresas especulativas sionistas, e a crise geral é apenas um reflexo disso. Consequentemente, os efeitos da crise são mais severos para os trabalhadores judeus do que para os trabalhadores árabes. Dos 32.000 trabalhadores judeus registrados, 8.000 estão totalmente desempregados, e a maioria deles está desempregada há mais de um ano. O número de trabalhadores em tempo parcial é de 4.000”.

É interessante, pois fica claro que desde o início do projeto sionista já existia uma divisão gigantesca da sociedade sionista e dos próprios palestinos. Era uma situação de segregação tão intensa que era possível ter uma crise econômica com o enfoque na sociedade de imigrantes sionistas. Ainda assim, as condições de vida dos nativos palestinos continuam muito piores do que dos europeus que chegavam com o apoio dos banqueiros ingleses.

O Partido Comunista da Palestina destacou que: “os trabalhadores que mais sofrem com o desemprego são os da construção civil. O número de trabalhadores árabes desempregados não é inferior a 10.000. Vários milhares de refugiados que fugiram da Síria devido à repressão da revolução lá aumentaram ainda mais o número de desempregados. Embora o governo arrecade mais de £1.000.000 da população da Palestina, não gasta um centavo para aliviar o desemprego”. Ou seja, a opressão dos palestinos já era gigantesca e dos árabes em geral também.

A crise afetou os salários dos trabalhadores europeus que “foram reduzidos para um terço e até um quarto. Os salários dos trabalhadores árabes também caíram de 20 a 50 por cento”. O PCP destaca que nos anos anteriores “os trabalhadores judeus ganhavam consideravelmente mais do que os trabalhadores árabes, mas agora os salários de ambas as categorias se tornaram quase iguais. Em grande parte, isso se deve ao fato de que os sindicatos judeus, filiados à Internacional de Amsterdã, se recusaram a trabalhar entre os trabalhadores árabes. A equalização dos salários ocorreu não porque os salários dos trabalhadores árabes foram elevados, mas porque houve uma queda maior nos salários dos trabalhadores judeus do que nos dos trabalhadores árabes”.

Essa situação se manteve no período da crise e depois a diferença voltou a crescer. Mas é muito interessante como a segregação da classe operária permitia que ambos os setores fossem muito mais oprimidos. Por isso o movimento operário sempre lutou contra o sionismo. E a segregação era gigantesca: “a jornada de trabalho dos trabalhadores árabes variava de 10 a 14 horas; agora [devido à crise], os trabalhadores urbanos judeus foram obrigados a sacrificar a jornada de 8 horas e a trabalhar de 10 a 12 horas por dia”.

A burguesia diante da crise oprimia ainda mais os operários retirando os seus direitos. “Em várias fábricas, trabalhadores organizados são demitidos e trabalhadores não organizados são contratados em seu lugar. As organizações de proprietários e agricultores estão se esforçando, não sem sucesso, para privar os trabalhadores do direito de votar nos órgãos de autogoverno local”, o PCP comenta.

A situação era tão grave que levou a uma migração para fora da Palestina: “não é surpreendente que a rápida deterioração das condições dos trabalhadores esteja causando considerável emigração do país, particularmente entre os judeus. No primeiro trimestre de 1925, 9.000 imigrantes chegaram ao país e 800 partiram, enquanto no quarto trimestre 2.551 pessoas chegaram ao país e 2.570 emigraram”. Esse fator é importantíssimo, pois logo nos primeiros anos da colonização inglesa ficava claro que a Palestina deveria ser prospera para os imigrantes europeus judeus, caso contrário o seu projeto de criar a população de colonos não teria sucesso.

O PCP destaca então o aumento da luta de classes: “as greves estão aumentando tanto em frequência quanto em dimensão; graves conflitos econômicos estão eclodindo. O movimento de libertação nacional também está se fortalecendo. Os trabalhadores judeus, convencidos da política traidora de seus líderes e da liderança traiçoeira de seus sindicatos, estão cada vez mais abandonando a linha de neutralidade de classe, enquanto os trabalhadores árabes e os camponeses estão começando a organizar suas próprias forças. De grande importância para a luta de classes foi a formação do sindicato conjunto de trabalhadores árabes e judeus na indústria têxtil e do Sindicato dos Metalúrgicos”.

Infelizmente o movimento operário na Palestina não ganhou força o suficiente. Da mesma forma que durante a criação do Estado de “Israel” em 1948 houve uma aliança que acabou com toda a resistência, Stalin e o imperialismo britânico. A Internacional Comunista, que dirigia o PCP, interviu no partido e expurgou suas históricas lideranças. Uma das principais, Joseph Berger, chegou a ficar mais de 20 anos preso em gulags do stalinismo. Com essa união repressiva o movimento operário ficou sob a influência do sionismo.

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Última Atualização: 22/08/2024