Um novo líder para uma nova fase da resistência palestina

por Alexandre Silva

O Movimento de Resistência Islâmica Palestina (HAMAS) anunciou em 6 de agosto de 2024, a eleição de Yahiya Sinwar como novo chefe do Gabinete Político do Movimento, sucedendo ao mártir da nação, comandante Ismail Haniyeh, assassinado covardemente num ataque terrorista de “Israel” na capital iraniana, durante uma visita para assistir à cerimônia de posse do novo presidente iraniano, Masud Pezeshkian.

Yahya Sinwar é uma das figuras mais proeminentes na esfera política do HAMAS, conhecido pela sua mão pesada e grandes mudanças. Sua eleição por unanimidade é uma mensagem forte de que o HAMAS se tornou mais forte e resiliente, apesar do golpe severo que recebeu com o assassinato de seu líder. O HAMAS expressou a sua confiança em Al-Sinwar, conhecido como “Abu Ibrahim”, para liderar esta nova fase delicada e num contexto local, regional e internacional complexos.

Conhecido por seu estilo de liderança firme e sua abordagem focada na resistência contra “Israel”, Sinwar tem um papel crucial na formulação das estratégias do Hamas e na gestão das complexas relações políticas e sociais em Gaza. Sua característica mais significativa é que ele enfurece o inimigo, e o Hamas queria concordar com uma escolha que enviasse mensagens sem citação aos inimigos do povo palestino.

Sinwar foi eleito chefe do Gabinete Político em Gaza em fevereiro de 2017, sucedendo Ismail Haniyeh. E reeleito para um segundo mandato em 2021. Liderou a Grande Marcha do Retorno, em 2018, uma tentativa de romper pacificamente o cerco a Gaza e a batalha “Espada de Al-Quds”, em 2021, além de atuar com destaque no fortalecimento das relações com o eixo da Resistência.

Foi o mentor e comandante da batalha épica “Tempestade de Al-Aqsa”, que já dura mais de 300 dias. Em um discurso na cerimônia popular em Gaza para celebrar o 35º aniversário da criação do HAMAS, em 14 de dezembro de 2022, prenunciando os acontecimentos de 7 de outubro, declarou que “Iremos até você, se Deus quiser, em uma inundação estrondosa. Iremos contra vocês com foguetes sem fim, iremos contra vocês em uma investida interminável de combatentes, iremos contra vocês com milhões de nossos, como uma maré sem fim”.

As facções palestinas e lideranças do Eixo da Resistência expressaram seu apoio à eleição de Al-Sinwar, demonstrando confiança na sua capacidade para superar a perda de Haniyeh e dar continuidade ao seu legado e o de todos os líderes martirizados, especialmente aqueles que tombaram na batalha de “Tempestade de Al-Aqsa”.

Sinwar nasceu em 1962, no campo de refugiados de Khan Younis, na Faixa de Gaza, após sua família ter sido expulsa da cidade de Majdal Asqualan pelos sionistas, em 1948. Estudou nas escolas de Khan Younis e concluiu o ensino secundário na Escola Secundária Khan Younis Boys. Em seguida, obteve o diploma de bacharel em língua árabe na Universidade Islâmica de Gaza. Foi um dos líderes do Conselho Estudantil da Universidade Islâmica durante cinco anos, atuando como Secretário do Comitê Artístico, depois do Comitê Esportivo, Vice-Presidente, Presidente do Conselho e depois Vice-Presidente novamente de 1982 a 1987.

Começou sua atividade política e militante na juventude, liderando numerosos confrontos populares contra o inimigo sionista entre 1982 e 1988. Sua participação foi fundamental na fundação do “Majd”, o aparelho de segurança interna do HAMAS, encarregado de perseguir espiões israelitas. Junto com Salah Shehada, foi um dos fundadores da ala militar do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, em 1991.

Ele foi preso por Israel em 1982 e passou seis meses na prisão de Fara’a devido às suas atividades de resistência. Em 1988 foi novamente preso e condenado a quatro penas de prisão perpétua, cumprindo 23 anos consecutivos em prisões inimigas, quatro dos quais passou em confinamento solitário.

Na prisão, assumiu diversas vezes a liderança do Alto Comando dos prisioneiros do HAMAS nas prisões, liderando uma série de greves de fome, com exemplos significativos em 1992, 1996, 2000 e 2004. Aprendeu e fala hebraico fluentemente e possui numerosos escritos e traduções relacionados a questões políticas e de segurança.

Traduziu os livros “Shabak entre os restos mortais” e “Partidos Israelenses” em 1992. E é autor dos livros “Hamas: experiência e erros” e “Al-Mayd”, que documentam o trabalho do “Shin Bet”. É também autor de um romance literário intitulado “Espinhos e Cravos”, que narra a experiência da luta palestina de 1967 até a Intifada.

Após sua libertação em 2011, no âmbito do acordo “Uafa al-Ahrar” entre o HAMAS e o inimigo sionista numa troca de 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit, foi eleito para o cargo político do Hamas em Gaza e assumiu a responsabilidade pelo gabinete de segurança em 2012. Mais tarde foi eleito para o cargo político geral e assumiu a responsabilidade pelo gabinete militar em 2013.

Agora, a luta para que toda a terra histórica da Palestina seja libertada – do Rio ao Mar, com a abençoada Jerusalém no seu núcleo, segue sob a liderança de Yahiya Sinwar, um combatente abnegado da revolução que está desmantelando a sociedade israelense por dentro e impondo derrotas ao inimigo sionista em todos os terrenos.

Mesmo diante do elevado preço em vidas e destruição, as forças da Resistência palestina vêm destruindo o mito da invencibilidade militar do estado sionista e libertarão a Palestina do jugo colonial israelense!

Alexandre Silva é historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro “Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência” (Anita Garibaldi/Ibraspal).

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 21/08/2024