Muitos citam a declaração de Balfour como o princípio da criação do Estado de “Israel”. Balfour era ministro britânico em 1917 quando a Inglaterra conquistou a Palestina. Em conversa com um banqueiro da família Rothschild, ele prometeu a Palestina como uma terra para os judeus europeus. A partir desse momento, o imperialismo britânico criou o projeto sionista que, 30 anos depois, levaria à criação de “Israel”. Mas houve outros momentos de choque dos palestinos com Balfour.

Em 1925, um dos mais importantes dirigentes do Partido Comunista da Palestina, José Berger, publicou um texto atacando o imperialismo inglês e o próprio Balfour. O texto afirma: “a pequena Palestina novamente foi o centro de interesse por alguns dias. As agências telegráficas e os correspondentes especiais dos grandes jornais ingleses enviaram descrições detalhadas da jornada de Lorde Balfour na ‘Terra Santa’, sua chegada, sua recepção, e tudo mais relacionado ao assunto. Mas todos esses anúncios e descrições — provavelmente de forma deliberada — ignoraram o verdadeiro significado político da viagem de Balfour”.

Essa descrição da pequena Palestina no centro dos interesses se tornaria cada vez mais comum dada a importância que o imperialismo colocou no projeto sionista. Balfour não era mais ministro britânico, mas um homem importante, que já havia sido até primeiro-ministro. Berger explica o motivo real da visita: “a questão central é que Balfour, como um dos conservadores mais ‘moderados’, em íntima relação com o Ministério das Relações Exteriores atualmente, foi encarregado da tarefa, sob o disfarce de uma ‘visita’, de submeter a política britânica no Oriente Próximo a um teste”.

Berger comenta a conjuntura geral: “após a ‘estabilização’ do poder britânico no Egito pelo Gabinete de Ziuar Paxa, e a dissolução do Parlamento, e a segurança da outra ‘asa’ das possessões britânicas no Oriente Próximo, a Mesopotâmia, pela revolta astutamente incitada no Curdistão, chegou o momento para a política britânica introduzir a política da mão firme no Centro, ou seja, Palestina e Arábia. A viagem de Lorde Balfour, como o próprio semanário conservador britânico ‘Near East’ afirma, foi uma provocação aos árabes”.

Aqui aparece uma questão crucial. A Palestina é o centro do domínio britânico, e agora dos EUA, no Oriente Médio. Como ele mesmo afirma ela é crucial para dominar o Egito, o Iraque, a Síria e os países do golfo ricos em petróleo. O interessante é que Balfour visitando era uma afronta aos árabes por ser uma figura muito imperialista.

A reação dos sionistas, incluindo os ‘de esquerda’, mostra como eram lacaios do imperialismo: “a burguesia sionista e seus lacaios, os social-democratas ‘Poale Zion’ de várias tendências, mostraram que valorizam muito mais o sorriso do Lorde inglês do que as relações pacíficas com a população árabe da Palestina. A organização sionista, que, a propósito, não apenas na Palestina, mas também em outros países, se colocou completamente nas mãos das seções reacionárias da burguesia judaica (que recentemente ultrapassaram um ataque ofensivo e sem escrúpulos contra a Rússia Soviética e começaram novamente a participar ativamente dos esquemas de intervenção), está ostensivamente desafiando os árabes a uma batalha, abusando do Comitê Central Árabe e dos líderes nacionalistas árabes. Quando tanques e aviões estão controlando os árabes, a burguesia judaica corajosamente os ataca”.

É uma descrição exata do sionismo até os dias de hoje. Antes mesmo de ser um Estado os sionistas, como comunidade colonial na Palestina eram o baluarte da política imperialista. Era a força de contenção do nacionalismo árabe. O sionismo desde 1917 até hoje segue tendo esse mesmo propósito. A esquerda sionista incluisve tinha e tem o mesmo propósito.

E segue: “enquanto a burguesia judaica na Palestina mostrou a Lorde Balfour que era um lacaio confiável, a atitude dos árabes mostrou que a população nativa tem muito mais poder de resistência do que se esperava. Os dois partidos no campo árabe (os ‘nacionalistas’ — o partido da conciliação — e o partido radical do ‘Comitê Executivo Árabe’), bem como os vários pequenos partidos camponeses da Palestina, fizeram causa comum em resposta à provocação britânico-sionista, e o protesto contra Balfour foi unânime. Exceto pelos sionistas servis e bajuladores, todo o país se uniu em seu protesto contra o brutal imperialismo britânico personificado por Balfour”.

O imperialismo inglês era repudiado devido ao “empobrecimento econômico das massas da Palestina e contra a opressão sob a qual estão sofrendo. E não apenas as massas árabes, mas também as classes mais baixas da população judaica da Palestina, exceto o pequeno grupo de agentes sionistas, não experimentaram nada além de maldades do imperialismo e sabem que o pior ainda está por vir. Os comunistas da Palestina desempenharam um papel ativo, ou melhor, um papel de liderança na manifestação anti-Balfour e instaram os trabalhadores judeus e árabes a unirem forças contra os senhores predadores”.

O Partido Comunista da Palestina na década de 1920 estava crescendo e se tornando uma importante força política. Por isso ele virou alvo da intensa repressão dos britânicos. Depois, quando o stalinismo tomou o controle da 3ª Internacional, o PCP passou por expurgos e até o próprio José Berger foi expulso do partido e preso por décadas nos gulags. José Stálin posteriormente faria um de seus maiores crimes, ser uma peça chave na criação do Estado de “Israel”.

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Última Atualização: 19/08/2024