O nacionalismo é inimigo do povo brasileiro. Essa afirmação pode parecer um tanto abstrata para quem não acompanha de perto a política, não percebe que, por trás de uma suposta preocupação com os oprimidos, há uma ideologia imperialista que visa atacar a cultura do povo. Por isso é interessante quando porta-vozes do nacionalismo aparecem com artigo como esse publicado no portal Causa Operária no dia 10 de agosto, por ocasião das Olimpíadas: Celebrar a nação, não o país!

Nem precisaríamos ler o artigo para perceber a aberração da ideia apresentada ali. Os brasileiros que vivem no Brasil não deveriam celebrar, nem mesmo se sentirem representando o País, é como se o Brasil fosse branco. É como se o Brasil fosse os Estados Unidos, em que boa parte dos brasileiros não se identificam com o país onde mora. Mas esse não é o caso do Brasil, que é um país fundamentalmente brasileiro.

Mas o Brasil é um país peculiar. A maioria do povo é mestiça e há muitos brancos e negros retintos. É inegavelmente um país diverso. E é isso o que os nacionalistas odeiam.

Para os nacionalistas, o racismo no Brasil não é um problema de classe, ou seja, que justamente a população brasileira, maioria do País, é também a mais pobre. Para eles, o problema do racismo é justamente aquilo que o Brasil tem de menos racista, que é sua diversidade.

O autor afirma que “O Brasil não faz nada para que os brasileiros sintam orgulho da nacionalidade. Há um processo permanente de genocídio contra nós desde a construção deste país.” Mas quem seria esse “Brasil que não faz nada”? Não é a burguesia, que explora a maioria do povo, é o próprio Brasil enquanto nação. Na sua pretensão de defender os brasileiros, ele ataca a nação toda, o povo todo e, portanto, os próprios brasileiros.

Uma resposta que se poderia dar ao autor da matéria é que os brasileiros nos fazem sentir orgulha da nacionalidade. Um jogador como Pelé, brasileiro retinto, é o maior orgulho do país. Ele é o orgulho dos brasileiros, dos brancos, dos orientais e dos mestiços. Ele é Pelé, é brasileiro. A mesma coisa, ainda que em proporções muito menores, podemos falar dos atletas olímpicos.

No entanto, como o autor odeia o Brasil e faz uma separação artificial entre os “brasileiros” e o Brasil, uma separação que não existe. Para justificar sua ideologia grotesca e reacionária, já que é anti-povo, ele inventa uma história: o Brasil é um “processo permanente de genocídio”. Novamente, o autor nem se dá conta que ele chama um país inteiro de genocida. O problema não é a polícia, por exemplo, é o país inteiro, é a “história” do País.

Sobre os atletas olímpicos, o autor afirma:

“Destacar-se num país racista é exaustivo, existem muitos obstáculos tentando nos derrubar. Mas, Bia Souza, Rafaela Silva, Rebeca Andrade e Rayssa Leal conseguiram superá-los, participaram das olimpíadas e demonstraram um desempenho invejável. A comunidade brasileira explodiu de alegria (…) Atletas sendo ovacionadas, e com certeza deixando raivosos uma horda de racistas e machistas, foi maravilhoso.”

Como dissemos, dizer que o Brasil é racista é uma afirmação que generaliza. Não se sabe de quem exatamente está se falando, se das instituições, da polícia, do governo, da burguesia, do próprio povo. A julgar pela ideia presente no título da coluna, o autor está atacando o Brasil de conjunto, ou seja, o próprio povo. A formulação é absurda: o povo brasileiro formado majoritariamente por brasileiros é racista. Podemos dizer que as instituições dominadas pela burguesia são racistas? Sim. Logicamente que a maioria dos brasileiros no Brasil sofrem com as dificuldades de serem pobres.

O autor quer comparar o esporte com profissões, onde os brasileiros acabam sofrendo com a exclusão social. Mas o esporte, mesmo com todas as dificuldades da falta de estrutura e investimento, é onde os brasileiros conseguem se destacar, justamente por serem maioria no país. Nem aí a colocação do artigo está correta.

Como dissemos, se olharmos para o caso do futebol, veremos que não apenas os brasileiros são predominantes, como eles são os atletas mais bem pagos. Mas aí, o nacionalista não se aguenta, tem tanto ódio da cultura nacional que ataca o futebol: “Antigamente, até acompanhava partidas de futebol na televisão, mas, ao longo dos anos, percebi que os jogadores tornaram-se submissos a contratos milionários, e assim os espetáculos nos gramados ficaram totalmente comprometidos. Juram amor ao clube num dia; e no outro, trocam de time e repetem a farsa.”

Farsa mesmo são os argumentos apresentados pelo autor. Ele acha que defende os brasileiros, mas tem verdadeiro asco dos brasileiros brasileiros. Isso acontece, porque a ideia que os nacionalistas têm do brasileiro é a do brasileiro norte-americano. Por isso, também, eles odeiam o Brasil.

Prova disso é sua absurda colocação de que as atletas brasileiras vencedoras deixaram “raivosos uma horda de racistas e machistas, foi maravilhoso”. Em que mundo ele vive? Em que país ele vive? A coisa mais notável do brasileiro é que ele torce como se fosse final de Copa do Mundo para qualquer esporte. A torcida brasileira na França ficou conhecida no muito todo pela sua presença.

Mas não precisamos ir até a França. Será que o autor não anda de transporte público, não frequenta bares, restaurantes, será que ele vive mesmo no Brasil? O autor fala como se no Brasil metade do país fizesse parte de uma KKK e odiasse os brasileiros por princípio, a ponto de nem torcer por eles.

Logicamente, o mundo é vasto, possivelmente, escondido em algum esgoto, pode haver um racista tão radical que não quer saber de ver brasileiros ganhando medalhas, vai saber. Mas aqui, quem parece estar escondido em algum lugar é o autor do texto, podemos até suspeitar que ele está escrevendo o artigo de outro país, menos do Brasil. Sem dúvida seria uma explicação para o seu ódio ao Brasil.

Onde o autor mora, não sabemos. Mas sabemos quem guia a mão dos colunistas do portal. Basta uma pesquisa, e vemos que os patrocinadores são grandes monopólios imperialistas, muito preocupados com o bem-estar dos brasileiros e certamente muito preocupados com o Brasil, em saquear o Brasil: Unilever, Bayer, L’oréal, Avon, Amazon, Facebook, Pepsico, Pizza Hut, Mac Donald’s, Ambev, Netflix, uma verdadeira constelação de monopólios imperialistas. Para quem tiver alguma dúvida, pode acessar o portal ou o perfil do Instagram.

Esses são os patrocinadores da ideologia nacionalista. Não precisamos fazer muito esforço para entender por que é importante para eles menosprezar o Brasil. Quanto mais desmoralizado o povo do país, quanto mais desmoralizada a identificação de seu povo com sua nação e sua cultura, mais facilmente esse povo será dominado.

Eles não querem celebrar nem o Brasil, nem os brasileiros. Querem mandá-los de volta para a época em que éramos colonizados.

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 16/08/2024