O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a questionar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro, em entrevista à rádio 96 FM, de Natal, nesta semana.
“O Maduro [Nicolás Maduro, presidente da Venezuela] disse há pouco que, no Brasil, nenhuma urna sequer é auditável. Se é verdade ou não, eu não quero sair daqui com mais um processo em cima de mim, porque o que nós temos aqui, a liberdade de expressão, até para vocês, está sob júdice, no mínimo.”
A declaração foi dada no início da entrevista. Posteriormente, ao voltar a falar sobre o tema, Bolsonaro levantou a hipótese de questionamento eleitoral ao citar um “inquérito sigiloso” de 2018, aberto quando ele venceu as eleições presidenciais.
“O que eu posso falar para vocês: Quando acabaram as eleições de 2018, chegou uma denúncia de fraude nas eleições. Eu posso te dar o número do inquérito, no meu telefone aqui. E a presidente Rosa Weber começou a investigar fraude. Só frauda quem ganha, certo? Então ‘o fraudador é eu’ e começou esse processo de investigação do inquérito da PF, que foi aberto na primeira semana após as eleições. Eu não sabia disso.”
Bolsonaro disse que a peça questionava o resultado das eleições de 2018, levantando supostas “inconsistências” do processo eleitoral, mas não quis dar detalhes do inquérito, afirmando que corre sob sigilo, e dar essas informações publicamente geraria outro processo contra ele.
Segundo Bolsonaro, ele tomou conhecimento do inquérito por meio do deputado Felipe Barros (PL-PR), que teria obtido a peça sigilosa com um delegado da Polícia Federal. Ele disse que o teor do inquérito era “ostensivo”, ao se referir que trazia supostas provas contra as urnas eletrônicas.
“E esse inquérito correu, gostaria de falar sobre ele. Aconteceu que em 2021, estávamos discutindo uma PEC, proposta de emenda do voto impresso. A autora era Bia Kicis [PL-DF] e o relator o Felipe Barros do Paraná. E o Felipe descobriu esse inquérito. Então ele conseguiu esse inquérito junto a um delegado da Polícia Federal, era um inquérito ostensivo e começou a usar essa inquérito para mostrar e para mostrar as vulnerabilidades [das eleições].”
Ainda durante a entrevista, Bolsonaro criou a hipótese de que a fala do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à época, Edson Fachin, a embaixadores e representantes internacionais, em gesto à comunidade internacional sobre os intentos golpistas de Jair Bolsonaro em 2022, pedindo para que confirmassem o resultado que saísse das urnas brasileiras, era um indicativo questionador.
“Nesse íntere, o ministro Fachin, que era presidente do TSE, havia feito uma reunião com embaixadores. Não é competência deles, essa política externa é privativa do presidente. Ele fez a reunião com embaixadores e terminou essa reunião com embaixador falou o seguinte: tão logo o TSE proclame os resultados, eu peço a vocês que os seus respectivos chefes de Estado reconheçam o ganhador das eleições. Ué, será que o ganhador ele tinha certeza quem iria ganhar? Primeira interrogação.”
“Então eu fiz a reunião com embaixadores e destrinchei esse inquérito. No dia seguinte, o [ministro] Alexandre de Moraes classificou esse inquérito como confidencial e abriu um processo contra o Felipe Barros e contra o delegado que entregou o inquérito. Foi comprovado pela Polícia Federal e pela Câmara dos Deputados que o inquérito era ostensivo até aquele dia. Por que esconderam o inquérito?”, ainda questionou.
“E acredite, o inquérito até hoje é aberto. Já tem aí 6 anos, vai fazer 6 anos e esse inquérito está aberto. Por que não podemos saber de possíveis vulnerabilidades? Bem, eu não quero entrar em detalhes, porque passa a ser crime, porque é um inquérito confidencial. O que se sabe de eleições tem que ser aberto, você tem que saber de tudo que acontece lá, tudo, mas você não sabe, eu não posso dizer para vocês sobre quatro páginas que estão dentro desse inquérito. Seria muito bom se souberem o que aconteceu em 2018 e também em 2014 nas eleições”, completou Bolsonaro.