A evolução da Inteligência Artificial (IA) tem sido significativa nos últimos anos, influenciando diversas áreas da ciência e da sociedade. No entanto, a forma como esses algoritmos são desenvolvidos reflete as visões e crenças de quem os cria, o que levanta questões sobre a diversidade de perspectivas no processo.
A participação de mulheres nesse campo tem sido limitada, o que pode afetar a inclusão de suas visões na criação de tecnologias que impactam diferentes grupos sociais.
Carine Roos, especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão e CEO da consultoria Newa, destaca que um dos desafios mais significativos é a sub-representação das mulheres em cargos de liderança e supervisão dentro do setor de IA.
“A automatização desse processo pode levar à fragmentação do trabalho, dividindo as tarefas em partes menores e altamente específicas”, observou Roos, acrescentando que isso pode resultar em um ambiente onde os trabalhadores, especialmente as mulheres, têm pouca compreensão dos objetivos da empresa ou do processo como um todo.
Consequências para as mulheres
Mulheres enfrentam desafios específicos no mercado de trabalho, especialmente em setores onde a gestão algorítmica é predominante. Roos aponta que as mulheres são frequentemente direcionadas a ocupações mais controladas por algoritmos, sem ter participação na criação dessa tecnologia.
Ela alerta que “a gestão algorítmica pode intensificar a precariedade ao implementar sistemas rigorosos de monitoramento e avaliação que desconsideram as complexidades dos cuidados pessoais e sociais”.
Além disso, o trabalho não remunerado realizado por muitas mulheres, como cuidados domésticos e comunitários, é frequentemente ignorado ou subvalorizado pelas plataformas digitais, o que perpetua desigualdades de gênero.
Inclusão e inovação na IA
Durante uma palestra no HackTown, um dos principais festivais de inovação da América Latina, Roos enfatizou que a inclusão de mulheres e outras minorias no desenvolvimento de IA é necessária para tornar o setor mais inclusivo.
Segundo o relatório do Índice Global de Disparidade de Gênero de junho de 2024, as mulheres representam apenas 28,2% da força de trabalho em STEM, em comparação com 47,3% em áreas não relacionadas a STEM.
Roos defende que, para criar um ambiente de trabalho mais humano e justo, os algoritmos devem ser desenvolvidos com princípios éticos que considerem dignidade, justiça e igualdade.
“Ao adotar essas estratégias, as empresas podem amenizar os efeitos desumanizantes da gestão algorítmica e criar um ambiente mais justo e humano para todos os trabalhadores”, concluiu.