Os bytes infinitos do jornalista trumpista, por Alceu Castilho
Ah, mas Fulano tem 400 milhões de bytes sobre o assunto tal.
Bom, danem-se os bytes. Que fetiche é esse?
Isso me lembra um determinado jornalista brasileiro, para lá de oportunista, que trabalhou no Jornal da Tarde, e se vangloriava de obter documentos que invariavelmente chamava de dossiês.
Era assim, podia chegar o catatau que fosse nas mesas do falecido repórter que ele vendia a reportagem como “um dossiê de 200 páginas” sobre o assunto em questão, “um dossiê de 450 páginas”, e assim por diante.
Uma vez ele tentou emplacar o dossiê e se deu conta que ele tinha apenas uma página. Não teve dúvidas: “O Jornal da Tarde obteve um dossiê de 40 linhas que…”.
E corta para os bytes infinitos do jornalista trumpista. Não importa a que causa ele esteja servindo, os bytes são colocados antes da notícia, como se fossem a notícia em si. “A Folha obteve quintilhões de bytes que…”.
Jorge Luis Borges torceria seu sorriso irônico até as bordas do cosmos diante dessa situação. Ele adoraria imaginar um infame que declarasse ter a soma de gigantescas bibliotecas hexagonais que contivessem, em si, O Ponto de Todas as Denúncias, o Aleph do Jornalismo, a autoproclamação da reportagem primordial, o moto perpétuo dos terabytes de todos os planetas, até que a liberdade de expressão do infame em defesa arrogante de todos os nazistas fosse saciada em sua plenitude.
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