O ex-presidente do Congresso Nacional, que liderou o golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016, publicou uma coluna no portal Poder 360 para falar sobre a Venezuela: Qual a diferença entre o 8 de Janeiro e o 28 de Julho?
“O 8 de Janeiro já é bastante conhecido por todos nós, mas poucos vão se dar conta do que pode representar o dia 28 de julho para a democracia. Trata-se do dia do golpe de Estado perpetrado pelo ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em uma eleição fraudulenta, contestada pela maioria dos grandes países democráticos, incluindo os Estados Unidos e toda a União Europeia.”
Vamos nos ater aqui ao que diz Cunha sobre a Venezuela. Sobre o 8 de Janeiro, vale a pena destacar que ele considera uma baderna de bolsonaristas que foi usada por Lula para fazer propaganda de que é um defensor da democracia.
Mas Cunha não acha que o 8 de janeiro foi um golpe: “isto está muito longe de ser um golpe de Estado. Tratou-se de uma rebelião descoordenada de um bando de aloprados”, afirma ele. De fato, o que aconteceu no 8 de janeiro não foi um golpe. O que espanta, no entanto, é o cinismo de Eduardo Cunha. Para ele, Lula seria o culpado pela “baderna” e colocou a culpa em Bolsonaro se “confirmar com o salvador da democracia”
Cunha usa a Venezuela para mostrar que, na verdade, Lula não é esse “salvador da democracia”. Para isso, precisa inventar uma tese estapafúrdia de que Maduro, além de ditador, deu um golpe nas eleições:
“Agora, em 28 de julho, foi completamente diferente. Houve um verdadeiro golpe de Estado na Venezuela. Golpe de Estado, feito pelo próprio Estado, com o apoio das Forças Armadas, visando a tentar legitimar a continuidade da ditadura, por meio de um simulacro eleitoral de uma eleição fraudada.”
Eduardo Cunha, especialista em golpes de Estado, diz que Maduro fraudou a eleição e deu um golpe. Com base em quê? Os Estados Unidos disseram que foi assim e Eduardo Cunha, tão disposto a seguir as orientações de Biden e seus amigos, diz que foi assim.
O cinismo é absurdo. Maduro ganha a eleição. A oposição diz que não foi, mas não prova nada. Exige que Maduro, que ganhou a eleição, prove que ganhou. Organiza revoltas violentas contra o regime. Um governo estrangeiro, que apoia abertamente a oposição, afirma que o novo presidente é da oposição.
Tudo isso, mas segundo Cunha, quem deu o golpe foi Maduro.
Cunha diz que Maduro “nunca iria declarar algum outro vencedor que não fosse ele”. Essa afirmação está baseada em quê? Em nada, em que disseram os governos estrangeiros, a começar pelo dos EUA.
A pergunta correta é: por que raios Maduro deveria dar o vencedor outra pessoa? A afirmação de Cunha é ridícula.
O único “argumento” de Cunha é ficar o artigo todo acusando Maduro de ser ditador. Novamente, tudo baseado em nada, o melhor, baseado nas acusações feitas pelos inimigos do regime venezuelano.
Tudo isso tem um motivo bem claro. A posição de Cunha expressa a posição do imperialismo no Brasil, que pressiona Lula a agir contra Maduro.
No entanto, é muito mais do que uma simples posição. A política de Cunha e por consequência da direita brasileira e do imperialismo, é chantagear Lula dizendo: “posicione-se contra Maduro e os governos nacionalistas caso não queira ser derrubado”.
“Como pode uma pessoa eleita, sendo apoiado por vários segmentos políticos pela postura de “restauração da democracia”, ficar conivente com o golpe de Estado de seu aliado Nicolás Maduro? Se Lula reagir ao golpe de Maduro, reconhecendo a vitória da oposição, ajudando a impedir a continuidade do ditador no comando da Venezuela, dará uma demonstração de ser um democrata. Com isso, pode crescer e manter o discurso de 2022”.
Cunha, que deu o golpe de 2016, ameaça deflagrar uma política golpista contra Lula. A lógica é assim: Lula se diz defensor da democracia e um setor da burguesia o teria apoiado contra Bolsonaro. Mas se Lula apoiar Maduro, então ele perde sua credencial de democrata. E se o ditador Maduro pode ser derrubado, se Lula o apoiar, também pode ser derrubado. O recado é mais ou menos esse.
“O que faz Lula? Depois de ter mandado o seu verdadeiro chanceler para acompanhar as eleições, em vez de acompanhar os Estados Unidos, ainda comandados pelo seu aliado Biden, e a União Europeia, que reconheceram a derrota de Maduro, prefere concertar com os esquerdistas aliados da Colômbia e do México. Tentam empurrar a situação com a barriga, soltando notas frouxas pedindo a apresentação das atas, que não vão aparecer.”
A fala de Cunha mostra, ainda, uma dura realidade. Não adianta nada Lula querer ficar em cima do muro, dar lição de moral para Maduro, pedir atas etc. O que a direita quer é que Lula se alinhe com Biden e Bolsonaro contra Maduro. Qualquer coisa diferente disso, Lula será acusado de defender a “fraude do ditador Maduro”.
“Por que Lula está agindo assim? Porque, ganhando tempo, ele esfria as manifestações da oposição, dá tempo de Maduro prender oposicionistas, limpando a área, e na medida que acabem os protestos, as atas não serão nem mais cobradas.”
Aqui, Cunha até insinua que Lula é um cúmplice do “ditador Maduro”. Tudo não passaria de uma manobra consciente de Lula para ajudar Maduro a dar o seu “golpe”.
A única arma contra os golpistas, de lá e daqui, é apoiar Maduro. A posição de Lula, ao contrário do que o governo pensa, abre a brecha para o avanço da direita. O artigo de Cunha é a prova disso.