Localizada ao sul da Ásia, Bangladesh era parte da Índia até 1947, quando a submissão do imenso país asiático ao Reino Unido chegou ao fim. Desde o início do século XX, o movimento nacionalista indiano impulsiona a luta pela independência, que ganha força com a devastação do país imperialista após a Segunda Guerra Mundial. Incapaz de impedir a independência, o imperialismo britânico estimula cisões entre hindus e islâmicos que levam à divisão da Índia (onde a maioria hindu permaneceria) e resultam na criação do Paquistão, um Estado muçulmano que consistia em duas partes: o Paquistão Ocidental e o Bengala Oriental.
Com o sucesso da operação, o controle perdido sobre a Índia acabou atenuado pelo domínio sobre as duas novas nações. Bengala Oriental, no entanto, rapidamente entrou em atritos com o Paquistão Ocidental. A tensão entre as duas regiões aumentou nas décadas seguintes, especialmente em questões culturais e linguísticas. Em 1952, a repressão a um movimento que pedia o reconhecimento do bengali como língua oficial do Paquistão Oriental resultou em um massacre em Daca.
O sítio Banglapedia – National Encyclopedia of Bangladesh dá mais detalhes sobre esse importante evento, desencadeador de uma nova situação na relação entre os dois países:
“A Assembleia Constituinte do Paquistão estava em sessão em Karachi – então a capital do Paquistão – a partir de 23 de fevereiro de 1948. Foi proposto que os membros teriam que falar ou em urdu ou em inglês na Assembleia. Dhirendranath Datta, um membro do Partido do Congresso de Bengala Oriental, apresentou uma moção de emenda para incluir o Bangla como uma das línguas da Assembleia Constituinte. Ele observou que, dos 6 crores e 90 lacs de habitantes do Paquistão, 4 crores e 40 lacs eram de Bengala Oriental, com o Bangla como língua materna. Os líderes centrais, incluindo Liaquat Ali Khan, primeiro-ministro do Paquistão, e Khwaja Nazimuddin, primeiro-ministro de Bengala Oriental, se opuseram à moção. Ao receber a notícia de que a moção havia sido rejeitada, estudantes, intelectuais e políticos de Bengala Oriental ficaram agitados. Jornais como o Azad também criticaram os políticos que rejeitaram a moção.”
No início de 1952, o Movimento da Língua tomou um rumo sério. Tanto Jinnah quanto Liaquat Ali Khan estavam mortos – Jinnah em 11 de setembro de 1948 e Liaquat Ali Khan em 16 de outubro de 1951. Khwaja Nazimuddin havia sucedido Liaquat Ali Khan como primeiro-ministro do Paquistão. Com a crise política, a condição econômica em Bengala Oriental também se deteriorou. O povo do leste do Paquistão começou a perder a fé na Liga Muçulmana. Um novo partido, a Liga Muçulmana Awami – que mais tarde se tornaria a Liga Awami – foi formado sob a liderança de Maulana Abdul Hamid Khan Bhasani em 1949. Havia um crescente sentimento de privação e exploração no leste do Paquistão e a percepção de que uma nova forma de colonialismo havia substituído o imperialismo britânico. Nessas circunstâncias, o Movimento da Língua ganhou um novo ímpeto em 1952.”
Com os ânimos exaltados, uma manifestação é convocada, com a ditadura paquistanesa respondendo com a proibição de todas as assembleias e manifestações. No dia 21, o campus da Universidade de Daca sedia um encontro de estudantes para discutir o problema e organizar o ato. O sítio supracitado relata o que aconteceu a seguir:
“Quando a reunião começou, o vice-chanceler, juntamente com alguns professores universitários, foi até o local e pediu aos alunos que não violassem a proibição de assembleia. No entanto, os alunos, sob seus líderes – Abdul Matin e Gaziul Haque – foram inflexíveis. Milhares de alunos de diferentes escolas e faculdades de Daca se reuniram no campus da universidade, enquanto a polícia armada esperava do lado de fora do portão. Quando os alunos surgiram em grupos, gritando palavras-de-ordem, a polícia recorreu ao uso de cassetetes; mesmo as alunas não foram poupadas. Os estudantes então começaram a atirar pedras na polícia, que retaliou com gás lacrimogêneo. Incapazes de controlar os estudantes agitados, a polícia atirou contra a multidão de estudantes, que se dirigiam para o Salão da Assembleia (atualmente parte do Jagannath Hall, Universidade de Daca). Três jovens, Rafiq Uddin Ahmed, Abdul Jabbar e Abul Barkat (um estudante de mestrado em Ciência Política), foram gravemente feridos. Muitas pessoas feridas foram admitidas no hospital. Entre eles, Abdus Salam, um servente no Secretariado, posteriormente sucumbiu aos ferimentos. Um menino de nove anos chamado Ohiullah também foi morto.”
Sob a forte impressão causada pelo Massacre de Daca, a ONU instituiria, posteriormente, o dia 21 de fevereiro como o Dia Internacional da Língua Materna. O Movimento da Língua conseguiria emplacar o bangali como idioma oficial, mas a selvageria da repressão desencadeia um incremento de tensões que se arrastaram até a década de 1970.
Oprimidos pela ditadura paquistanesa, em 1970, o partido Awami League, liderado por Sheikh Mujibur Rahman (pai da primeira-ministra Sheikh Hasina, derrubada pelo imperialismo em agosto desse ano), obteve uma vitória esmagadora nas eleições gerais, conquistando 167 dos 169 lugares atribuídos ao Paquistão Oriental (como Bengala fora rebatizada em 1955) na Assembleia Nacional, exigindo autonomia para o território. Criado em 1949, o partido era a expressão do nacionalismo do povo bengali. No entanto, o governo central, dominado por Islamabad, se recusou a transferir o poder, levando a uma crescente agitação.
Em março de 1971, o governo paquistanês lançou uma operação militar brutal contra a população de Paquistão Oriental, conhecida como “Operação Searchlight”, resultando em massacres e uma crise humanitária devastadora. Três milhões de pessoas morreram e pelo menos 200 mil mulheres foram estupradas, segundo matéria da agência de notícias Reuters intitulada “Bangladesh executes Islamist leader, deadly clashes on streets”, de 12 de dezembro de 2013. A resposta da população foi a resistência armada. Conhecidos como Mukti Bahini, os grupos de resistência enfrentaram as forças paquistanesas, apoiados pela população bangali.
Em 26 de março de 1971, rebatizada novamente como Bangladesh, é declarada a independência do país, dando início à guerra de independência, que dura nove meses, terminando apenas com a intervenção militar da Índia em dezembro de 1971, que força o Paquistão a reconhecer a independência. Embora apoiados pelo imperialismo, os paquistaneses cedem e, em 16 de dezembro de 1971, Bangladesh foi oficialmente reconhecido como um país independente.