Digam o que quiserem, os fatos não mentem: as mulheres são, hoje, a maior força do esporte brasileiro. De nossas 20 medalhas nas Olimpíadas de Paris, 12 foram conquistadas por elas, sete por homens e uma mista (na competição do judô por equipes). Foi a primeira vez que a delegação feminina superou a masculina em número de medalhas. Uma participação histórica, de recordes quebrados não só no esporte, mas na vida. Caminhos de luta percorridos, sonhos realizados, exemplos emocionantes de sororidade e solidariedade e esperança de uma sociedade mais igual.

Antes de mais nada, uma constatação: esporte é investimento de longo prazo. Uma das iniciativas mais duradouras neste sentido é o Bolsa Atleta, um dos maiores programas de patrocínio individual de esportistas do mundo, em atividade desde 2005, ainda no primeiro governo Lula. Em Paris, cem por cento dos medalhistas e 76 por cento da delegação brasileira recebem ou já foram apoiados pelo Bolsa Atleta, comprovando a sua relevância.

Rebeca Andrade, medalha de ouro na prova de solo na ginástica artística, reverenciada no pódio por Simone Biles, maior nome contemporâneo deste esporte, fez questão de citar o programa como fundamental para o seu crescimento profissional. Com quatro medalhas em Paris e duas em Tóquio, em 2021, a atleta de 25 anos tornou-se a maior vencedora da História olímpica brasileira, e terminou os Jogos no posto de ídola nacional. Ela sabe o que diz quando afirma que o Bolsa-Atleta “é algo que só faz você crescer, faz o seu País crescer”.

Esporte eleva a autoestima, e o fato de a maior medalhista brasileira de todos os tempos ser uma mulher negra diz muito, neste momento, para milhões de meninas e mulheres de todo o Brasil. Rebeca nos deu ainda outra grande lição de altivez ao afirmar sua língua nativa em todas as entrevistas. “Sou brasileira e falo português, vou falar em português e pronto!”. O peso desta declaração, dita por uma campeã olímpica, é uma bela tradução de soft power.

Toda Olimpíada eterniza imagens para a História, e a de Rebeca reverenciada por Biles e Jordan Chiles já está nessa galeria – um gesto de nobreza e de espírito esportivo que raramente se vê nas competições. Mas o sorriso de Bia Souza no tatame, uma fração de segundo antes de se tornar campeã olímpica do judô feminino (categoria +78kg), também é inesquecível. Outra mulher negra, de origem humilde, no alto do pódio; outro retrato de quem podemos ser – e seremos – como nação: confiantes, serenas e fortes.

Assim como as vitórias de Bia e Rebeca nos encheram de orgulho, a valente conquista de Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia também nos re-uniu numa só torcida. Não apenas elas, mas todas as outras mulheres que brilharam nos Jogos, e a quem rendo minhas homenagens: Raíssa Leal, bronze no skate; Tatiane Weston-Webb, prata no surfe; a nossa brava seleção de futebol feminino, que conquistou a prata na despedida do fenômeno Marta; a boxeadora Bia Ferreira, bronze na categoria 60kg; a judoca Larissa Pimenta, bronze na categoria -52kg; Rafaela Silva e Ketleyn Quadros, bronze com Larissa e Bia Souza no judô por equipes; Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, bronze com Rebeca Andrade na ginástica artística por equipes; e a seleção de vôlei feminino, também medalha de bronze.

As mulheres não deram exemplo apenas quando subiram ao pódio. Fizeram isso na emocionante apresentação da equipe de ginástica rítmica, que competiu com uma de suas atletas lesionada (solidariedade); no gesto da jogadora de handebol brasileira, que carregou no colo uma adversária angolana machucada (espírito esportivo); no abraço afetuoso da judoca italiana na vencedora Larissa Pimenta (empatia); ou no genuíno companheirismo das ginastas durante a disputa (sororidade). Para além das nacionalidades, vimos múltiplos exemplos de coragem e companheirismo feminino, do início ao fim da competição.

Mas até mesmo as Olimpíadas e o esporte foram usados para destilar misoginia e outros preconceitos contra as mulheres. Caso da boxeadora argelina Imane Khelif, alvo da transfobia e das fake news da extrema-direita global; ou da brasileira Flávia Maria de Lima, que compete há anos sob uma covarde acusação de “abandono” da filha. O motivo? Trabalhar como atleta. É uma vergonha que mulheres tenham que passar por isso em 2024, mas também um exemplo do quanto ainda precisamos avançar, em todas as esferas, no combate à desigualdade e à violência de gênero.

Consolidar, ampliar e aperfeiçoar a participação das mulheres em todos os campos é a única forma de fazer isso. Não há outro caminho. Nos esportes, a maior presença feminina de alto desempenho virá do contínuo planejamento e investimento do País em seus talentos. Houve (justos) lamentos pela diminuição do número de medalhas de ouro em relação às sete das Olimpíadas de Tóquio (2021) e Rio (2016). Mas talvez a história fosse diferente se o financiamento público não tivesse diminuído tanto nos dois governos anteriores, e no último chegou a extinguir o Ministério dos Esportes.

Apesar deste desmonte de seis anos consecutivos – interrompido pela eleição de Lula, que recompôs o ministério e os investimentos – nossos atletas voltam de Paris com o segundo melhor desempenho em número de medalhas em Olimpíadas. Mas nada é por acaso. Quase todos os medalhistas desta Olimpíada foram descobertos e lapidados ao longo dos últimos 10, 15, 20 anos. Teremos muito mais sucesso conforme investirmos mais e mais em projetos de formação, em medicina, em tecnologia e na atividade esportiva ora valer na escola, desde o ensino básico. Este sempre foi o segredo do sucesso olímpico de países como China, Estados Unidos ou Japão.

Com um governo que investe em seus atletas, nas crianças e nos jovens, certamente teremos um desempenho ainda melhor no próximo ciclo olímpico. E com um show ainda mais espetacular de nossas mulheres esportistas. Que essa conquista no esporte se espalhe pela vida e nos inunde de coragem e superação!

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Última Atualização: 12/08/2024