Neste sábado (10), enquanto centenas de palestinos muçulmanos realizavam a Oração da Alvorada, três mísseis disparados por aeronaves israelenses atingiram a escola religiosa de al-Tabi’een na cidade de Gaza, localizada na porção norte da Faixa. Mais de cem pessoas foram assassinadas no massacre e centenas ficaram gravemente feridas. Assim como a escola, a mesquita que faz parte do complexo foi majoritariamente destruída. O local abrigava mais de 6 mil refugiados que tiveram suas moradias destruídas desde o início da Guerra em Gaza.
“As forças de ocupação israelenses estão cometendo um massacre hediondo na manhã de hoje [10] ao bombardear a escola de al-Tabi’een, no bairro de al-Darj, na cidade de Gaza, que é usada como centro de abrigo e abriga milhares de pessoas deslocadas à força, o que levou à morte e ao assassinato de 125 mártires e ao ferimento de centenas de pessoas deslocadas à força, a maioria delas crianças e mulheres“, declarou a Comissão Internacional de Apoio aos Direitos Palestinos (Hashd) em nota oficial.
Segundo a Secretaria de Comunicação Governamental de Gaza é difícil precisar o número de fatalidades porque “devido à enormidade do massacre e ao número crescente de vítimas, as equipes médicas e de defesa civil ainda não conseguiram recuperar todos os corpos”. As autoridades palestinas em Gaza ainda acusaram as forças de ocupação sionista de terem atacado deliberadamente a escola. O governo de “Israel” declarou cinicamente que seu alvo era um “centro de comando do Hamas”, a exemplo do que fizeram nos inúmeros ataques a hospitais e outras instalações civis ao longo desses 309 dias de operação genocida.
O mais recente massacre israelense em Gaza chama atenção pela quantidade de vítimas, mas de forma alguma por seu alvo, uma escola. Segundo balanço realizado pela agência de notícias francesa AFP, ao menos 14 escolas abrigando refugiados em Gaza foram alvo de ataques de “Israel” desde o dia 6 de julho, operações que resultaram na morte de mais de 280 civis.
Abu Wassim, que reside próximo à escola da al-Tabi’een e foi ao local investigar o que havia acontecido, relatou à reportagem de AFP que “pessoas pacíficas – mulheres, crianças e jovens – estavam fazendo a oração Fajr [da Alvorada] como de costume quando, de repente, um míssil as atingiu”. Outro residente local, Sakr, relatou ter encontrado “corpos de crianças espalhados pela rua”.
“Eles despejaram um míssil sobre eles enquanto estavam apenas rezando!”, gritou uma mãe que chorava de maneira inconsolável sobre o cadáver de uma criança.
Costas largas
O massacre de al-Tabi’een vem ao final de uma semana de brutal violência contra a população palestina em toda a extensão da faixa de Gaza. Segundo Mohammad al-Mughayyir, chefe da Defesa Civil de Gaza, seis escolas foram bombardeadas apenas na última semana. Reportagem do portal de notícias libanês Al Mayadeen aponta que, na útima semana, os ataques das forças de ocupação israelenses foram concentrados nos entornos da cidade de Khan Younis, na região sul da Faixa de Gaza.
Segundo nota da Comissão Internacional de Apoio aos Direitos Palestinos, Abdallah Al-sowsi e Tameem Muammar, dois jornalistas atuando na região, e suas famílias foram mortos, o que eleva o número de jornalistas assassinados desde o início do conflito para 168. Somam-se a esses mártires mais seis vítimas na cidade de Qarara, ao leste de Khan Younis, assassinados em ataque contra uma residência que também deixou dezenas de feridos.
“Israel” não reduziu sua ofensiva apesar do receio de uma guerra total na região. No último dia 31, o comandante militar do Hesbolá Fuad Shukr foi assassinado pelas forças sionistas em Beirute no Líbano, mesmo dia em que Ismail Hanié, chefe do birô político do Hamas, foi assassinado em Teerã, em visita oficial ao Irã para a posse do presidente recém-eleito. Tanto o partido libanês como o governo iraniano e o Hamas prometeram retaliação proporcional, que ainda não aconteceu.
O contínuo massacre da população palestina demonstra que “Israel” não está disposto a realizar nenhum acordo. Tampouco estão dispostos a recuar diante de ameaças de potências militares locais. Os sionistas avançam com sua operação genocida e contam com apoio imperialista, especialmente norte-americano, para vencer seus adversários, apoio que se mostra fundamental dado que em mais de dez meses de conflito as forças de ocupação não têm uma vitória militar sequer para apresentar no confronto contra os guerrilheiros palestinos.
Na última sexta-feira (9), reportagem da emissora norte-americana CNN indicou que o governo dos Estados Unidos decidira liberar US$ 3,5 bilhões de financiamento para que “Israel” compre armas e equipamento militar norte-americano. A decisão, supostamente emitida em razão do potencial confronto contra o Irã, é o que sustenta massacres como os de ontem. No mesmo dia, o Comando Central dos Estados Unidos declarou no X que jatos F-22 da Força Aérea norte-americana havia chegado ao Oriente Próximo para “mitigar a possibilidade de uma escalada [militar] regional por parte do Irã e seus proxies”.
Repúdio internacional
Diante do ataque à escola de al-Tabi’een, o ministério de Relações Exteriores do Catar reiterou seu pedido para que haja “uma investigação internacional urgente, incluindo o envio de investigadores independentes da ONU, para averiguar os fatos relacionados ao ataque contínuo das forças de ocupação israelenses a escolas e abrigos para refugiados”.
Outros governos de países muçulmanos como Turquia, Arábia Saudita, Iraque e Paquistão regariam prontamente em sua denúncia do massacre. A porta-voz do ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, declarou “não haver justificativas para tais ações”. Até mesmo o alto representante da União Europeia para Relações Exteriores, Josep Borell, declarou estar “horrorizado” com as imagens afirmando que tal ataque não tinha justificativa.
Apesar de repúdio praticamente unânime, “Israel” continua sob a proteção do rótulo terrorista aplicado ao Hamas, que lidera a resistência armada palestina. O ministro de Relações Exteriores britânico David Lammy, do recém-formado governo supostamente de esquerda do Partido Trabalhista, também se disse chocado com o bombardeio, mas acrescentou: “o Hamas precisa parar de colocar civis em risco”.
A paralisia das monarquias árabes da região e o cinismo imperialista apenas reforçam a importância da resistência armada que não é a causa dos massacres, mas a razão para não serem ainda maiores e mais numerosos. A possibilidade de cessar-fogo já foi rejeitada pela ocupação sionista que só cessará sua ação genocida quando for derrotada.