O sítio Left Voice (Voz da Esquerda) publicou uma matéria intitulada “Venezuela em um ponto de inflexão”. No início, os autores tentam apresentar uma postura equidistante, nem Maduro, nem a oposição de extrema-direita. No entanto, essa é apenas uma cortina de fumaça para encobrir o essencial: assim como o imperialismo, esse grupo se opõe ao governo eleito da Venezuela.
O nível de capachismo do Voz da Esquerda atinge um grau inesperado. Precisamos reproduzir todo um parágrafo para demonstrar essa posição lastimável:
“O silêncio reinou em todo o país na manhã de 29 de julho. Não houve celebrações ou sinais de desaprovação. No entanto, no meio da manhã, o silêncio deu lugar aos sons de panelas e frigideiras, e algumas horas depois, para a mobilização de milhares de pessoas em diferentes áreas do país. Estes incluíram, nomeadamente, os bairros da classe trabalhadora e mais pobres do que é conhecido como Grande Caracas, impulsionados pelo sentimento generalizado entre a população de que houve fraude. Como muitas pessoas estavam cansadas de anos lidando com um regime antidemocrático e fome, elas sabiam que não havia como Maduro obter uma vitória eleitoral esmagadora”.
A falsificação da realidade é evidente. Embora o apoio a Maduro tenha sido massivo, como atestam os inúmeros vídeos e imagens que circularam pelas redes sociais, esse grupo diz que houve manifestações espontâneas da classe trabalhadora contra o presidente eleito, o que exime os golpistas de direita de qualquer culpa nos distúrbios que se seguiram.
São conhecidas as guarimbas na Venezuela. São formadas por pessoas recrutadas entre marginais e até mesmo setores lúmpen da sociedade para atacarem a polícia e instituições do Estado. Na última tentativa de golpe houve até pessoas que foram queimadas vivas.
Para piorar, o VE afirma que as pessoas estavam cansadas de falta de democracia e da fome. É preciso dizer que haja falta de democracia na Venezuela não passa de mito. Segundo, quem causa a fome no país vizinho? Todos sabem que são os embargos econômicos criminosos impostos pelo imperialismo. Mas o VE não faz essa crítica fundamental. Como qualquer grupo da direita, a culpa recai sobre a vítima. É a mesma atitude que tomam diante de Cuba: a pobreza é culpa do “regime”, não de décadas de bloqueio.
Ingenuidade ou cinismo?
No quarto parágrafo lemos o seguinte absurdo: “Esses protestos provavelmente pegaram a direita e o governo de surpresa. No domingo à noite, os líderes da oposição de direita Maria Corina Machado e Edmundo González Urrutia declararam que não estavam pedindo que as pessoas saíssem às ruas”. Que tipo de surpresa a oposição de extrema-direita pode ter tido se está diretamente ligada aos protestos? O que o VE esperava, que Corina e Urrutia, o agente da morte, saíssem abertamente em nome do golpe de Estado?
O grupo ainda critica as guarimbas, a tentativa de golpe dizendo que “O governo respondeu com dura repressão que foi particularmente violenta nos bairros da classe trabalhadora na segunda-feira”. E, pior, afirma que “na terça-feira, 30 de julho, a direita aproveitou a situação e canalizou as manifestações espontâneas para seus próprios interesses, organizando comícios em todo o país, particularmente nos bairros de classe média, onde tem sua base social tradicional”.
Além de o VE criticar a ação do governo em tentar conter o golpe, diz que a situação criada pelo governo é que deu margem para a extrema-direita chamar protestos. Ou seja, tudo está na conta do governo Maduro. A extrema-direita, uma gente que jamais pensaria em golpe, se viu obrigada a protestar. Nem mesmo a CIA pensaria em uma explicação tão mirabolante para justificar a tentativa de golpe na Venezuela.
Na matéria, os autores dizem que “desde a noite de 29 de julho, contingentes maiores de militares e policiais têm prendido, assediado e estocado brutalmente manifestantes, agindo em colaboração com grupos paramilitares patrocinados pelo governo, os chamados “coletivos”, que podiam ser vistos disparando armas de fogo no meio dos protestos”.
Críticas ao chavismo
O texto do VE faz diversas críticas ao chavismo, algumas até têm algum contato com a realidade. No entanto, não consegue tirar caracterizar corretamente as limitações do nacionalismo burguês e tirar as devidas conclusões.
A burguesia dos países atrasados, ainda que entrem em contradição com o imperialismo, não conseguem levar a cabo, de maneira consequente, essa luta, pois o maior inimigo da burguesia não é outra burguesia, com a qual pode entrar em acordo, mas a classe trabalhadora.
A revolução bolivariana está diante de um impasse, se não começar a expropriar a burguesia local e iniciar um governo verdadeiramente socialista, irá cair diante das investidas do imperialismo, cada vez maiores e mais agressivas.