Com o fim das convenções partidárias, as eleições de fato começaram. Embora ainda não seja permitido pedir votos, o quadro de candidaturas está consolidado. Assim, o primeiro debate da Band marcou a abertura do processo eleitoral, sem impacto imediato em ganhar votos, mas crucial para testar as estratégias dos candidatos à prefeitura de São Paulo.

O debate, com a participação dos cinco principais candidatos, cumpriu exatamente esse papel. Eles podem ser divididos em três blocos: os mais preparados e consistentes foram Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB); os outsiders, Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB), que se perderam em vários momentos; e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), na difícil tarefa de se defender das críticas de todos os demais concorrentes.

Nunes adotou uma estratégia de empilhar números da sua gestão, tentando convencer o eleitor de que fez muito e merece outra chance. No entanto, essa abordagem carece de uma narrativa que dialogue com o sentimento de insatisfação do eleitorado. Não é o suficiente para dar liga em uma estratégia que aumente sua popularidade, que está longe de ser boa.

Embora não tenha saído derrotado, o debate foi um aperitivo das dificuldades que Nunes enfrentará. Em vários momentos, ele demonstrou nervosismo e irritação, o que é sempre ruim em eleições majoritárias.

Por outro lado, é possível afirmar que Marçal e Datena perderam o debate. Datena foi confuso e errático, atacando constantemente Nunes, mas sem consistência ou coerência. A impressão é que ele não quer estar ali como candidato e ainda pode desistir, apesar de pontuar relativamente bem nas pesquisas. Marçal, por sua vez, foi agressivo e confuso, focando em chavões e frases de efeito para viralizar nas redes sociais, mas sem dialogar com um eleitorado mais amplo.

Finalmente, Tabata e Boulos apresentaram o melhor desempenho. Única postulante mulher presente, Tabata questionou Nunes com autoridade sobre a denúncia de agressão física feita por sua esposa, o que o deixou sem resposta e visivelmente irritado. Ela também se destacou ao falar sobre educação, um dos pontos fortes de seu mandato como deputada. Ao longo da noite, contudo, a candidata do PSB ficou isolada e sem condições de emplacar uma narrativa mais ampla.

Boulos, por sua vez, conseguiu aliar críticas consistentes a Nunes com uma narrativa de mudança e propostas sólidas. Ele trouxe à tona as várias denúncias de corrupção contra o prefeito, que não conseguiu respondê-las. Boulos se destacou ao abordar segurança pública e saúde, apresentando a ideia do Poupa Tempo Saúde, com potencial para se tornar uma marca forte como o Bilhete Único e os CEUs da gestão Marta Suplicy.

Outro ataque veio de Datena, relacionado ao vínculo de Boulos com Lula, que na verdade é um trunfo para ele. Boulos optou por usar essa relação estrategicamente, guardando-a para momentos mais decisivos. Ele também foi hábil ao nacionalizar a disputa, associando Nunes e Marçal a Bolsonaro, cuja rejeição é alta. Boulos descreveu Nunes como um “bolsonarista envergonhado” e Marçal como “bolsonarista abandonado”, imagens que podem emplacar ao longo da campanha.

Em suma, Boulos mostrou potencial para unificar a esquerda e atrair eleitores de centro que rejeitam o bolsonarismo. Nunes, por outro lado, teve uma pequena amostra das dificuldades que terá em fazer um movimento similar, tentando unificar a direita e alcançar o centro. Sua estratégia baseada na máquina pública e nas realizações depende da TV e das ruas para funcionar, mas seus vários pontos fracos serão largamente explorados por todos os adversários.

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Last Update: 09/08/2024