A repressão aos protestos estudantis em Bangladesh deixou quase 200 mortos. Os protestos começaram em torno da distribuição de cargos públicos, mas evoluíram para um Golpe de Estado, que derrubou o governo eleito, com claro apoio dos EUA. As recentes manifestações em Bangladesh tiveram início com a mobilização de estudantes no início de julho para exigir o fim do sistema de cotas nos empregos públicos. O sistema de cotas teve uma origem progressista. As cotas foram uma espécie de gratidão da população por aqueles que sacrificaram suas vidas para lutar pela independência do país contra os governantes e o violento exército do chamado Paquistão Ocidental.
Houve também um total de 26% das vagas reservados para mulheres, pessoas de áreas muito pobres, comunidades indígenas e pessoas com deficiência. O sistema, no entanto, não preservou estas características originais. Ele foi transformado para garantir que 30% dos empregos na função pública fossem reservados para favorecidos políticos dos governos, já que os filhos e netos dos “combatentes pela liberdade” são hoje 1% da população.
No entanto, não houve reivindicação de abolição das cotas para setores marginalizados e vulneráveis da sociedade. O problema estava na quota falsamente reservada aos descendentes dos combatentes da liberdade.
Um movimento espontâneo?
De acordo com algumas versões, o movimento foi desencadeado por um discurso de Sheikh Hasina, primeira-ministra do país, que vinculou os opositores das quotas aos colaboradores do Paquistão Ocidental na guerra da independência. Milhares de estudantes universitários de todo o país mobilizaram-se em Dhaka, Chittagong e outras cidades.
O governo recorreu à repressão em grande escala para impedir a revolta. Bastões, gás lacrimogêneo e balas de borracha foram usados indiscriminadamente. Em Dhâka, o exército saiu às ruas e juntou-se à polícia para reprimir os manifestantes.
É evidente que, por trás dos manifestantes, encorajados pela situação econômica, atuaram operadores internos como o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP) e a Jamaat-e-Islami do Bangladesh (Assembleia Islâmica do Bangladesh), o principal partido fundamentalista do país, mas também agentes de inteligência estrangeiros.
A esquerda em Bangladesh ganhou 2 cadeiras (1 para o Partido Kalyan de Bangladesh e 1 para o Partido dos Trabalhadores de Bangladesh). Apesar da sua história e do seu papel na libertação e independência do país, as formações de esquerda alcançaram um papel quase irrelevante devido a diversos fatores.
A economia de Bangladesh
O governo de Hasina foi eleito pelo capital estrangeiro e nacional, tendo sido elogiado pelo ressurgimento da economia do Bangladesh, cujo PIB cresce a uma taxa constante de 6%. Contudo, estes níveis de crescimento econômico estão apoiados numa indústria de vestuário orientada para a exportação que emprega principalmente mulheres por salários insignificantes.
A crise econômica agravou-se e a economia do Bangladesh não conseguiu absorver o golpe. Para piorar a situação, o governo contraiu empréstimos para financiar enormes projetos de infraestrutura. A maturação dos empréstimos pressionou o Tesouro.
A vitória do Golpe ‘made in USA’
Funcionários do governo indiano teriam alertado a ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, sobre os perigos potenciais associados à nomeação do General Waker-Uz-Zaman como Chefe do Exército em junho do ano passado.
Aproveitando o caos criado pelas manifestações estudantis, o General Waker-Uz Zaman deu finalmente o golpe de Estado requerido pelos EUA. Ele simplesmente deu um ultimato à Primeira Ministra Hasina, exigindo que ela e a sua irmã abandonassem o país.
Demonstrando claramente seu posicionamento em favor da oposição política, o Exército de libertou a líder da oposição Khaleda Zia, do Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), que estava em prisão domiciliar.
Quem é o General Waker-Uz Zaman
O General Waker-Uz-Zaman dedicou quase quatro décadas ao serviço militar, incluindo duas missões como soldado da paz da ONU. Ele iniciou seu mandato como Chefe do Estado-Maior do Exército em junho, sucedendo ao General SM Shafiuddin Ahmed.
Pode-se estabelecer um vínculo do General Waker-Uz-Zaman ao imperialismo pela sua trajetória acadêmica no Exército. Ele aprofundou seus estudos na Escola de Comando e Estado-Maior dos Serviços Conjuntos no Reino Unido.
“Saudamos o anúncio de um governo interino e exortamos que qualquer transição seja conduzida de acordo com as leis de Bangladesh”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, em uma coletiva de imprensa.