Já dura mais de 20 dias os ataques de fazendeiros contra indígenas da etnia guarani kaiowá na área rural de Dourados, no Mato Grosso do Sul. No último sábado (3), cinco indígenas ficaram feridos com tiros de armas letais e balas de borracha, dois em estado grave.

Entre a noite de domingo (4) e a madrugada desta segunda-feira (5), outras seis pessoas ficaram feridas.

Crédito: Instagram Movimento Sem Terra

A onda de ataques mais recente teve início em 13 de julho, quando um indígena foi baleado na perna por uma bala de borracha. Já no sábado seguinte (20), além de feridos, alguns indígenas ficaram desaparecidos por horas, segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Os ataques almejam a Terra Indígena Lagoa Rica Panambi, que virou alvo de disputa fundiária. Os indígenas afirmam que são os donos ancestrais da terra. Já os fazendeiros alegam deter a posse legal do território.

Diante do conflito de interesses, a Força Nacional, o Batalhão de Choque e a Polícia Militar estão no local do conflito, mas não foram capazes de intimidar os jagunços.

De acordo com o Cimi, quase uma dezena de caminhonetes se posicionou trazendo homens nas caçambas, que rapidamente se espalharam em um perímetro ofensivo ao grupo Guarani Kaiowá. Drones também sobrevoavam a região.

A presença da Força Nacional, aliás, parece não ter surtido efeito. Além de indígenas feridos, um deles inclusive na cabeça, os agentes federais não qualificaram a ocorrência, não anotaram as placas dos veículos ou mesmo identificaram quem estava no local.

“A Força Nacional vem aqui e diz que a gente tá bêbado. Isso é mentira. No norte da aldeia teve indígena baleado. Esse pessoal estava junto com a Força Nacional. A gente quer segurança. Sabemos que a área não está homologada, mas essa é nossa demanda de território tradicional. Não queremos guerra, mas nossos direitos”, disse uma liderança Guarani Kaiowá ao Cimi.

Ainda em relatos ao Cimi, um indígena disse ter ouvido de um agente da Força Nacional a seguinte orientação: “Pega teu povo e sai daqui ou vocês vão morrer”. Em seguida, os agentes federais deixaram o território.

“Queremos saber a razão da Força Nacional ter saído daqui. Os agentes saíram e o ataque aconteceu. Parece que foi combinado. Queremos entender”, questionou outra liderança.

Entenda o conflito

De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas informou que os Guarani Kaiowá realizam retomadas na Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica, território já delimitado pela Funai em 2011 e que o documento que identifica a área como de ocupação tradicional indígena segue válido. Porém, o andamento do procedimento demarcatório se encontra suspenso por ordem judicial.

Não há reintegrações de posse determinadas pela Justiça que justificassem a ação dos fazendeiros. De acordo com fonte ouvida pelo Cimi, situação similar ocorreu nos despejos forçados e ilegais em Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, Kurupi, em Naviraí, e no chamado Massacre de Guapoy, ocorrido em 2022, em Amambai.

Em nota, o Ministério informou ainda que, para apaziguar o conflito, promoveu o diálogo com Forças de Segurança Pública, acionou a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e encaminhou os feridos ao Hospital da Vida, em Dourados.

Apesar do informe, os indígenas não sentem que o governo federal está empenhado em pôr um ponto final aos conflitos fundiários, tendo em vista a falta de empenho para demarcar as terras indígenas. Tanto é que, no Congresso, “a bancada ruralista vem se sentindo à vontade e com apoio para fazer leis confrontando recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

“Já são três indígenas baleados. Para termos nosso direito temos de morrer? Será que essa corda só arrebenta pro lado mais fraco? Queremos respostas. Quando os europeus chegaram aqui, o Brasil era nosso. Não estamos pedindo tudo de volta, mas só um pedacinho pra gente sobreviver”, concluiu um dos líderes indígena.

*Com informações do Cimi e da Agência Brasil.

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Última Atualização: 05/08/2024