Na América do Sul, o dilema da democracia é jogado: ser submissa ao imperialismo ou ser soberana
por João Paulo Silva
Os EUA defendem a democracia desde que obedeça ao imperialismo ocidental. A sua própria democracia sofreu uma tentativa de golpe e o mentor e agitador, Trump, está livre e novamente candidato e protagonista de agitamento belicoso nas eleições de seu país.
O líder autoritário Zelensky é produto de golpe, e como é títere do imperialismo, a democracia esfacelada da Ucrânia não sofre nenhum fustigamento.
O princípio da autodeterminação dos povos, do Direito Internacional, confere aos povos o direito de autogoverno e de decidirem livremente a sua organização política. Ou seja: o direito dos povos de determinar o seu sistema de governo, organização econômica e sociocultural, bem como ao Estado o direito de defender a sua existência e independência.
Quem e quando foi outorgado aos EUA o papel de zelador imperial da democracia? O governo estadunidense é xerife, promotor e juiz do mundo? Pode violentar a soberania de outros países?
Onde os States estiverem têm golpes, guerras e apropriação de riquezas alheias, e não tem como dar um cavalo de pau, porque a sua existência depende disso.
Para a manutenção desse status, chegará a provocar e tornar a guerra nuclear como inevitável.
Um mundo sem conflitos armados seria a falência de sua indústria bélica, uma debacle em sua economia.
Um mundo multipolar é o início do seu fim como império, aceitar essa inevitabilidade é ir de encontro a sua história de independência e organização como país, é mais crível apertarem o botão vermelho.
A existência dos Estados Unidos é fator de instabilidade em todo o mundo.
A OTAN e Israel são seus operadores militares no xadrez da geopolítica internacional. Japão e Alemanha estão novamente se militarizando, com o seu incentivo e logística.
O chavismo é um processo democrático nacionalista, apoiado nas forças militares e organizações populares, não houve uma revolução que alterasse a natureza do sistema econômico e tirasse o poder da burguesia, daí a convivência com os representantes extremistas da direita, os quais estão a serviço dos interesses do imperialismo, e, enquanto existirem, tentarão golpes.
O Brasil também vive um dilema: ou se assume como líder da região e resguarda a soberania dos países da América do Sul, ou ficará teleguiado pelos EUA.
A suspeição do resultado das eleições não recai somente ao governo Maduro, mas, sim, ao Estado venezuelano. É muito grave! Não se pode aceitar esse procedimento, seria um precedente que eliminaria o direito internacional de não ingerência e intervenção em questões internas de outros países.
Independente de temer o império e de ter ou não empatia por Maduro, é candente assumir a responsabilidade de maior país do continente sul, que já sofreu, com apoios dos EEUU, intentonas e golpes à democracia brasileira, e proclamar: respeitem as nossas casas, pois não somos quintais de nenhuma potência.
Fazer omelete sem quebrar os ovos num contexto polarizado é impossível, ou quase.
O Estado brasileiro conhece esse modelo de luta política.
Se concretizado o golpe na Venezuela, o modelo vira súmula de ingerência permitida, jurisprudência da acusação sem prova, avenida para o golpismo.
E Lula ficará com a liderança abalada!
Aos EUA não interessam um continente em paz; as mais de 700 mil mortes na guerra na Ucrânia, as mais de 35 mil mortes em Gaza e Israel, não afetam a sua moralidade, afinal, sem necessidade, mataram 140 mil em Hiroshima e 74 mil em Nagasaki. Imperialismo é antítese de humanismo.
Fizeram laboratório na Ucrânia, estão fazendo em Gaza, para terem parâmetros na elaboração de uma estratégica de guerra global.
Estão transformando o Estado venezuelano numa babel, onde todos metem a colher como se fosse a casa da mãe joana.
Querem banir a autonomia da Venezuela como baniram a Rússia dos jogos olímpicos, enquanto a Ucrânia e Israel participam.
Será que o Estado brasileiro está vendo a realidade, sem temor ou empatia?
Quero crer que não precisa desenhar, basta ver quem está com a Venezuela e quem está contra.
Reaja, Brasil, amanhã podemos ser nós!
João Paulo Silva, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “