A nota conjunta emitida por México, Brasil e Colômbia sobre as eleições na Venezuela enfraqueceu o governo de Nicolás Maduro em sua luta contra o imperialismo norte-americano. No momento em que os Estados Unidos decide partir para um ataque frontal contra o país caribenho, os governos de três das quatro maiores economias da América Latina decidiram exigir, sem prova alguma de fraude, que o regime cumprisse com exigências legais. A segunda maior economia da região, a Argentina, governada pelo político conservador Javier Milei, já acusou diretamente o governo Maduro de fraude, tornando a vacilação dos governos de esquerda ainda mais perigosa.
Do ponto de vista institucional, a posição dos governos de esquerda não se sustenta. O que o governo brasileiro deveria fazer, conforme a sua própria tradição, era reconhecer as eleições venezuelanas, uma vez que o próprio Conselho Nacional Eleitoral (CNE) o fez. E dizer que, caso a oposição tenha se sentido injustiçada, que recorra da decisão junto aos poderes constituídos. Qualquer coisa diferente disso implicaria em uma intromissão nos assuntos de outro país.
O governo Lula colocou a si próprio em uma encruzilhada. O governo aguarda a apresentação das atas para reconhecer a vitória de Maduro. Mas se essas atas não forem apresentadas, o que fará, então, o Itamaraty? Fará como os Estados Unidos e reconhecerá como vencedor o candidato derrotado nas eleições? Romperá relações com a Venezuela, sancionando o presidente que o povo venezuelano escolheu? Não há justificativa plausível para essa posição que, no final das contas, é de se esperar de um país como os Estados Unidos, imperialista, corrupto e golpista, mas não de um país oprimido como o Brasil.
Os mesmos que acusam Maduro de ter fraudado as eleições estão, neste momento, organizando milícias fascistas para intimidar apoiadores do governo. Milícias que queimam hospitais, destroem estabelecimentos e agridem pessoas. Está em marcha, e não há como ocultar isso, um movimento para desestabilizar o governo por meio da força, de forma semelhante ao que aconteceu na Ucrânia em 2014. Está em marcha um golpe de Estado visivelmente orquestrado pelo imperialismo norte-americano, mentor da oposição venezuelana, patrocinador dos “guarimberos” e dono do aparato de imprensa utilizado para fazer campanha contra o governo chavista.
A Venezuela está sob uma enorme pressão. Basta ver a atuação dos dirigentes da ala direita do Partido dos Trabalhadores (PT), composta por pessoas como o senador Randolfo Rodrigues, pelo deputado federal Paulo Paim e pelo presidente da Fundação Perseu Abramo, Alberto Cantalice. Todos eles, ainda que integrando um partido de esquerda, defendem abertamente o golpe orquestrado pelo imperialismo norte-americano. Chamam Maduro de “ditador”, mas não dizem uma palavra sobre o interesse econômico em jogo. Calam-se diante do que todos sabem: que os Estados Unidos querem assaltar as riquezas da Venezuela, em especial, o petróleo. Falam em “fraude eleitoral”, mas não dizem que a tal “oposição venezuelana” é um grupo político organizado pelo Departamento de Estado norte-americano, um grupo artificial montado para provocar o regime chavista.
Diante de todo esse cenário, o apoio de países como o Brasil e a Colômbia, que são os dois principais países com os quais a Venezuela faz fronteira, e do México, pode ser decisivo para dissuadir a operação golpista. Um posicionamento firme contra o golpe tornaria uma invasão militar, por exemplo, muito mais difícil. Também poderia fortalecer a mobilização contra o golpe em todo o continente, ajudando, inclusive, o governo brasileiro em sua luta contra a extrema direita.
A postura adotada, no entanto, vai no sentido oposto. Ao lavarem as mãos, México, Colômbia e Brasil deixaram a Venezuela descoberta para a próxima etapa de provocações do imperialismo.