Faltam menos de 100 dias até a eleição dos Estados Unidos, que caminha por novos rumos nas eleições, após a desistência de Joe Biden, com a disputa entre a democrata Harris, vice-presidente dos EUA e o ex-presidente republicano Trump. Harris e Trump têm disputa acirrada em quatro estados decisivos das eleições americanas.
Pedro Costa Júnior, doutorando do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, analisa o cenário atual.
A mudança de Joe Biden para Harris causa um impacto direto na estratégia discursiva de Donald Trump. Para o pesquisador, a corrida eleitoral se divide em três momentos. “Se avaliarmos os últimos nove meses, vamos ver que existem alguns marcos nessa corrida eleitoral. Enquanto a disputa se dava entre Trump e Biden, a liderança do republicano Trump já era consolidada. Isso sobretudo nos chamados Swing States, que são os estados que geralmente decidem as eleições. O primeiro grande marco da disputa foi no debate entre Trump e Biden. Ali foi o fim da reta para Biden, pois ele revelou uma série de fragilidades. Ali, Trump liderava a corrida e os democratas não demonstravam nenhuma perspectiva de retomada. Indo mais a frente, acontece o atentado contra Trump. Nessa situação, Trump consegue derrotar a frente anti-Trump dentro dos republicanos, os chamados Never-Trump, liderados por Haley, que já fazem oposição interna ao candidato desde 2016. E, por fim, a entrada da Harris, que bagunça o jogo e começa quase que uma nova eleição”.
Novos discursos
Atualmente, os discursos estão se atualizando para o enfrentamento. “O efeito Harris na corrida atual é parecido com o de Barack Obama. A Harris, assim como Obama, traz um espírito de renovação. Ela é nova, passa uma imagem de vitalidade, de novos ares. Isso já muda a figura do Partido Democrata.
Por ser filha de imigrantes e ser afro-descendente, ela também se aproxima de bandeiras minoritárias. Existem várias contradições nisso, pois o histórico dela envolve uma série de questões sérias com essas bandeiras. Mas, no geral, essa parcela do eleitorado parece se identificar mais com ela do que com Biden e Trump. Além disso, o desempenho de Biden e Harris no setor econômico recentemente foi positivo”, explica.
“O Trump, por outro lado, deve se aproximar do público do chamado cinturão da ferrugem. A escolha do seu vice candidato, o J. D. Vance, um jovem de 39 anos, representa uma aproximação com um público branco que empobreceu nos últimos anos com a saída de diversas indústrias da região, que foram para China e outros países do sudeste asiático. Por isso o nome cinturão da ferrugem, que antes era chamado Cinturão das Indústrias. Hoje, eles são chamados de “loosers” da globalização. Esse público, a classe média branca, está sendo focado pelos republicanos agora”, complementa.