Em nota assinada por seu secretário executivo, Antony Blinken, o Departamento de Estado norte-americano declarou, sem provas, que as eleições na Venezuela foram fraudadas em favor do atual presidente, Nicolás Maduro. A nota, que expressa uma ingerência na política latino-americana, felicita o povo venezuelano por sua participação na eleição presidencial de 28 de julho, mas acusa o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de ser controlado por Maduro e de apresentar um resultado que não representa a vontade do povo venezuelano.
O texto se baseia no relatório apresentado pela “missão de observação independente do Departamento de Estado norte-americano”, que acusou o CNE de ter falhado em várias ocasiões durante o processo eleitoral. O Departamento de Estado norte-americano, contudo, não pode ser chamado de uma “missão independente”. Trata-se de uma organização vinculada ao próprio Departamento de Estado norte-americano, uma vez que tem, entre os seus apoiadores, a fundação Bill & Melina Gates, a Fundação Coca-Cola, a União Europeia, a Meta (Facebook), a Open Society Foundations, a Pfizer Inc, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o próprio Departamento de Estado norte-americano.
A nota segue ainda afirmando basear seu posicionamento nas declarações da “oposição democrática”, que diz, sem ter apresentado provas públicas, ter 80% das atas de votação recebidas diretamente das seções eleitorais em toda a Venezuela. Essas atas indicariam que Edmundo González Urrutia recebeu a maioria dos votos nesta eleição. O texto ainda afirma que o Departamento de Estado consultou parceiros e aliados ao redor do mundo, e embora os países tenham adotado diferentes abordagens em suas respostas, nenhum concluiu que Nicolás Maduro recebeu a maioria dos votos nesta eleição.
Vários países reconheceram a vitória de Nicolás Maduro, como a Rússia, a China, o Irã e a Nicarágua. Aqueles que não o fizeram são notórios inimigos políticos do presidente venezuelano, como o presidente argentino, Javier Milei. Em sua publicação contestando o resultado eleitoral, ficou claro que sua contestação tem um caráter ideológico, e não um caráter factual:
“Ditador Maduro, fora!!! Os venezuelanos optaram por acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados anunciam uma vitória esmagadora da oposição e o mundo espera que ele reconheça a derrota após anos de socialismo, miséria, decadência e morte”.
A declaração de Blinken não apresenta qualquer repúdio às chamadas “guarimbas” – ações violentas de opositores do regime venezuelano, que chegaram a queimar hospitais e depredar estações de ônibus, além de agredir pessoas que seriam supostos apoiadores do governo Maduro. Pelo contrário: classificou a reação do governo às “guarimbas” como uma tentativa antidemocrática de reprimir a participação política e manter o poder.
No final do texto, Blinken parabeniza Edmundo González Urrutia por sua campanha bem-sucedida e se coloca à disposição para garantir o que chama de uma “transição democrática” – isto é, uma substituição de Maduro por González: “estamos prontos para considerar formas de fortalecê-lo juntamente com nossos parceiros internacionais”.
Equivalente ao Ministério de Relações Exteriores, o Departamento de Estado norte-americano é responsável pelos aspectos estratégicos do Estado mais poderoso do mundo. O Departamento de Estado é acusado de ter participado de milhares de conspirações contrarrevolucionárias, incluindo golpes de Estado, assassinatos, sequestros e “revoluções coloridas”.
Leia a nota na íntegra:
Os Estados Unidos aplaudem o povo venezuelano por sua participação na eleição presidencial de 28 de julho, apesar de desafios significativos. Pelo menos 12 milhões de venezuelanos foram pacificamente às urnas e exerceram um dos direitos mais poderosos dados às pessoas em qualquer democracia: o direito ao voto. Infelizmente, o processamento desses votos e o anúncio dos resultados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) controlado por Maduro foram profundamente falhos, resultando em um resultado anunciado que não representa a vontade do povo venezuelano.
A rápida declaração do CNE de Nicolás Maduro como vencedor da eleição presidencial veio sem evidências de apoio. O CNE ainda não publicou dados desagregados ou qualquer uma das atas de votação, apesar de repetidos pedidos de venezuelanos e da comunidade internacional para fazê-lo. Conforme relatado pela missão de observação independente do Departamento de Estado norte-americano, a falha do CNE em fornecer os resultados oficiais por seção eleitoral, bem como irregularidades ao longo do processo, retiraram qualquer credibilidade do resultado anunciado pelo CNE.
Enquanto isso, a oposição democrática publicou mais de 80 por cento das atas de votação recebidas diretamente das seções eleitorais em toda a Venezuela. Essas atas indicam que Edmundo González Urrutia recebeu a maioria dos votos nesta eleição por uma margem insuperável. Observadores independentes corroboraram esses fatos, e esse resultado também foi apoiado por pesquisas de boca de urna e contagens rápidas. Nos dias desde a eleição, consultamos amplamente parceiros e aliados ao redor do mundo, e embora os países tenham adotado diferentes abordagens em suas respostas, nenhum concluiu que Nicolás Maduro recebeu a maioria dos votos nesta eleição.
Dada a esmagadora evidência, é claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano que Edmundo González Urrutia recebeu a maioria dos votos na eleição presidencial de 28 de julho na Venezuela.
Além disso, os Estados Unidos rejeitam as alegações infundadas de Maduro contra os líderes da oposição. As ameaças de Maduro e seus representantes de prender líderes da oposição, incluindo Edmundo González e María Corina Machado, são uma tentativa antidemocrática de reprimir a participação política e manter o poder. A segurança dos líderes e membros da oposição democrática deve ser protegida. Todos os venezuelanos presos enquanto exerciam pacificamente seu direito de participar do processo eleitoral ou exigir transparência na tabulação e anúncio dos resultados devem ser libertados imediatamente. As forças de segurança e de aplicação da lei não devem se tornar um instrumento de violência política usado contra cidadãos que exercem seus direitos democráticos.
Parabenizamos Edmundo González Urrutia por sua campanha bem-sucedida. Agora é o momento para os partidos venezuelanos iniciarem discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica de acordo com a lei eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano. Apoiamos plenamente o processo de restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e estamos prontos para considerar formas de fortalecê-lo juntamente com nossos parceiros internacionais.