A emoção de ver uma menina de 16 anos tornando-se a mais jovem medalhista do Brasil em edições diferentes das Olimpíadas já seria suficiente para estimular o público a acompanhar a maratona diária dos Jogos de Paris. Essa emoção ganha ainda mais intensidade quando sabemos que, além do talento nato da pequena gigante Rayssa Leal sobre seu skate e de toda a delegação brasileira, há um componente político, gestado no primeiro mandato de Lula como presidente da República – quando a nossa Fadinha nem sequer era nascida – que vem contribuindo para o tamanho, a qualidade e o sucesso da equipe nacional.

Trata-se do financiamento público do esporte no País, calcado em um tripé formado pelo Programa Bolsa Atleta, pela Lei de Incentivo ao Esporte e pela Lei das Loterias. Ao todo, foram aplicados 24,69 bilhões de reais no setor. Somados a convênios com estados, municípios e entidades, foram investidos 28,5 bilhões nas últimas duas décadas.

Entre os três, o Bolsa Atleta destaca-se por ser destinado diretamente ao atleta, enquanto as leis direcionam recursos para entidades ou projetos. O programa foi criado há exatos 20 anos, em 2004, logo no segundo ano do governo Lula, período em que atuei como ministro do Trabalho. Era o início de uma trajetória de sucesso, traduzido em números que chamam atenção: o Brasil conquistou mais medalhas nas últimas cinco edições dos Jogos do que nas 15 anteriores, quando não havia incentivo público aos atletas e ao esporte.

São dados muito relevantes. Ao longo de 80 anos, entre Antuérpia 1920 e Sydney 2000 (15 edições dos Jogos), foram 66 medalhas. Já nos últimos 20 anos, sem contar o resultado em Paris, foram 84 medalhas em cinco edições, entre Atenas 2004 e Tóquio 2021. Nos Paralímpicos, a distância também é gritante: 106 medalhas em oito edições anteriores ante 267 medalhas nas últimas cinco edições, reforçadas pelo investimento público.

O desempenho da delegação brasileira está diretamente vinculado ao Bolsa Atleta e seus próprios recordes. Desde a criação, foram 37 mil atletas e investimento de 1,5 bilhão de reais. Em 2023, o programa investiu 121 milhões em atletas de modalidades olímpicas e paralímpicas, com inéditas 8.292 bolsas. Em 2024, o recorde foi novamente batido, com mais de 9.075 atletas e investimento de 160 milhões. Além disso, o presidente Lula reajustou em 10,86% o valor das bolsas, demanda antiga dos esportistas.

E o que isso tudo tem a ver com os Jogos de Paris? A resposta impressiona: quase todos os atletas da delegação brasileira – 271 dos 276, ou 98% – já foram bolsistas do programa em alguma etapa da carreira, e 241 deles (87,3%) recebem a Bolsa Atleta atualmente, entre eles Rayssa Leal. Em 27 das 39 modalidades que o País está disputando, todos os atletas integram o programa, dividido em cinco categorias: Base e Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpica e Paralímpica e Bolsa Pódio. O formato contempla desde iniciantes até os que atingem o chamado alto rendimento, com valores que variam de 410 a 16,6 mil reais mensais.

O Bolsa Atleta alinha-se ao foco prioritário do governo federal de criar oportunidades para todos. No caso do esporte, o estímulo contribui para oferecer ao jovem um propósito de vida, uma perspectiva de futuro. As outras duas vertentes do financiamento público do esporte também têm sua origem no governo Lula. Em 2007, quando Lula iniciava seu segundo mandato, entrou em vigor a Lei de Incentivo ao Esporte. Ela permite que recursos de renúncia fiscal sejam aplicados em projetos desportivos e paradesportivos por meio de doações e patrocínios. A lei já beneficiou 8.869 projetos e destinou mais de 5,49 bilhões de reais em recursos.

Já a Lei das Loterias, criada em 2000, foi efetivamente aplicada no ciclo completo a partir do primeiro mandato de Lula. Ela garante o repasse de um porcentual de todas as apostas em jogos oficiais para instituições do setor esportivo. Ao todo, essa lei já assegurou 17,42 bilhões de reais a entidades como os comitês Olímpico e Paralímpico brasileiros.

Para fechar com chave de ouro, os Jogos de Paris 2024 marcam a primeira delegação brasileira com maioria feminina da história das olimpíadas. Dos 276 atletas, 153 são mulheres. Com planejamento e foco, agora disputamos de igual para igual em diversas modalidades, conquistamos novos espaços e rompemos tabus a cada dia, como, aliás, acaba de acontecer com a equipe feminina de ginástica artística, que fez história ao garantir a primeira medalha brasileira da categoria. Que venham muitas outras vitórias como essa. •

Publicado na edição n° 1322 de CartaCapital, em 07 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Esporte também é política’

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 01/08/2024