Em meio a tantas competições de tantos esportes, duas passagens mexeram profundamente conosco, espectadores brasileiros, no turbilhão da primeira semana da Olimpíada realizada em Paris.

A primeira delas, dolorosa, foi a Seleção feminina, que nos mantinha entusiasmados com a apresentação de um futebol bem orientado.

O jogo inicial terminou com a vitória sobre a Nigéria. No entanto, não demorou para que a equipe fosse surpreendida com duas derrotas.

No domingo 28, o Brasil sofreu a primeira delas, no Parc des Princes, para o Japão.

A vitória parecia garantida até os acréscimos do segundo tempo, quando aconteceu a virada japonesa, na partida que terminou em 2 a 1.

Foi estarrecedor ver o desmoronamento de um time que parecia saber conter a pressão da adversária, a seleção japonesa, assim que saiu o gol de empate.

O descontrole emocional disparou a lembrança de alguns fatos semelhantes já vistos em campo e que nos levam a pensar na instabilidade que temos vivido nesses tempos tensos.

Poucos dias depois, veio a outra derrota, por 2 a 0 para a Espanha, no estádio Matmut Atlantique, com a atacante Marta expulsa ainda no primeiro tempo, depois de uma entrada descontrolada numa adversária.

Del Castillo marcou para as atuais campeãs mundiais aos 22 minutos do segundo tempo. Mas ainda havia mais emoção por vir, já nos acréscimos.

A equipe comandada por Arthur Elias chegou a ficar com nove jogadoras em campo, porque Antônia deixou o campo machucada e todas as substituições já tinham sido feitas. Foi então que Alexia Putellas fez o segundo gol da Espanha.

A partida acabou nos deixando arrasados, sobretudo pela forma como se desenrolou. E tudo fica ainda mais sensível, a esta altura, pelo fato de Marta estar disputando sua última Olimpíada e ter saído de campo aos prantos.

Ainda não perdemos a chance de obter uma medalha porque, no mesmo dia, o resultado do jogo entre Estados Unidos e Austrália acabou classificando a Seleção brasileira na condição de segunda melhor colocada entre as três que disputavam a vaga nas semifinais – pelo critério do saldo de gols.

A dedicação, a garra e a entrega impressionantes das nossas conterrâneas emocionaram todos os que tiveram a oportunidade de acompanhar o jogo.

Espero, agora, que o que vimos em campo, na França, sirva de marco para alguma mudança. Está cada vez mais evidente a necessidade de uma “chacoalhada” radical no nosso futebol.

É impossível, inclusive, não relembrarmos, durante estes Jogos, que o futebol masculino, simplesmente, não foi classificado para estar lá.

No caso do time feminino, que segue em disputa, faz-se urgente e necessário um trabalho que alcance melhor equilíbrio emocional. E o nosso adversário imediato é o tempo: as próximas etapas serão cada vez mais intrincadas.

A segunda passagem carregada de emoção, também radical, mas pelo lado positivo, foi a medalha de bronze alcançada pela equipe feminina de Ginástica Artística.

A explosão de alegria da equipe foi espetacular, a ponto de todos pularem sem parar, instintivamente, num gesto impossível de ser contido.

Outros destaques foram as apresentações de Hugo Calderano no tênis de mesa, num esporte cada vez mais impressionante.

E o momento mais alto astral da Olimpíada fica por conta do boxe feminino. Bia Ferreira, ainda no ringue, depois de vencer e se classificar, deu entrevista com uma autoconfiança a toda prova.

Ela vai encarar a adversária que a derrotou na última disputa dizendo, com a maior tranquilidade: “Vai ter forra, vai dar Brasil”!

Publicado na edição n° 1322 de CartaCapital, em 07 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Alegrias e tristezas”.

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Última Atualização: 01/08/2024