As propostas para a aplicação de um imposto sobre as fortunas dos bilionários do mundo poderiam render 250 bilhões de dólares por ano para enfrentar a crise climática e combater a pobreza e a desigualdade e afetariam apenas um pequeno número de famílias bilionárias, segundo a chefe da agência de mudança climática do Brasil.
Ministros do G-20, grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes do mundo, reunidos no Rio de Janeiro, discutiram, entre outros itens, a proposta brasileira de um imposto de 2% sobre a riqueza daqueles que possuem ativos avaliados em mais de 1 bilhão de dólares. Nenhum governo se manifestou contra o imposto, afirmou Ana Toni, secretária nacional para Mudanças do Clima, ligada ao Ministério do Meio Ambiente do presidente Lula.
A falta de oposição declarada não significa, no entanto, que a proposta de tributação provavelmente será aprovada. Muitos governos são céticos em particular, mas não estão dispostos a criticar em público um plano que cortaria uma pequena parte da riqueza acumulada rapidamente pelos poucos mais ricos do planeta e arrecadaria fundos para lidar com a urgente emergência climática global.
Apenas cerca de cem famílias em todo o mundo seriam afetadas pela taxa proposta de 2%, acrescentou Toni. O 1% mais rico do mundo acrescentou 42 trilhões de dólares à sua riqueza na última década, aproximadamente, 36 vezes mais do que a metade inferior da população mundial.
A questão de como os fundos arrecadados por essa tributação deveriam ser gastos também não foi resolvida, observou a brasileira. Segundo alguns economistas, haveria maior probabilidade de aceitação da ideia se os fundos obtidos fossem destinados à solução da crise climática do que se usados para combater a desigualdade global. Para outros especialistas, ao menos parte do dinheiro deveria ser usada para aliviar a pobreza.
Um imposto global sobre as grandes fortunas renderia 250 bilhões de dólares por ano
Toni esteve em Londres na sexta-feira 26 para uma reunião convocada pelo secretário de Energia, Ed Miliband, com os anfitriões das próximas duas cúpulas climáticas da ONU, Brasil e Azerbaijão.
Miliband confirmou na reunião que a contribuição do Reino Unido à ajuda climática de 11,6 bilhões de libras (cerca de 84 bilhões de reais) para o mundo em desenvolvimento até 2026 será mantida. O governo anterior havia considerado renegá-la.
Pelo Acordo de Paris de 2015, todos os países são obrigados a apresentar novos planos de redução de carbono, conhecidos como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs na sigla em inglês), no início do próximo ano, bem antes da COP-30.
O Brasil tem expandido sua produção de petróleo e gás e Toni argumentou que as nações mais pobres deveriam ter permissão para continuar a produzir e usar combustíveis fósseis por mais algum tempo, enquanto os países desenvolvidos deveriam restringir o seu consumo.
O Reino Unido poderia auxiliar com sua expertise em finanças, acredita a brasileira. “Precisamos colocar todas as nossas mentes criativas nisso. O Reino Unido é especialmente criativo em finanças. Estamos ansiosos para trabalhar com o governo do Reino Unido em um novo mecanismo financeiro para enfrentar o clima, mas também para preservar a natureza.” •
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.
Publicado na edição n° 1322 de CartaCapital, em 07 de agosto de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Das mansões para as florestas’