Sob o argumento de combate à extrema-direita bolsonarista, a direita tradicional pressiona o Partido dos Trabalhadores a abandonar qualquer pretensão de independência em relação à política da burguesia e a submeter-se aos seus ditames. No nordeste, o PT renunciou a lançar candidatura em alguns capitais para apoiar candidatos da direita, como no caso de Salvador, onde apoia o candidato do MDB, Geraldo Junior. A Executiva Nacional do PT, em aceno a Renan Calheiros (MDB-AL), interveio na disputa eleitoral de Maceio. O indicado do partido para concorrer a prefeitura, Ricardo Barbosa, foi retirado e o PT decidiu apoiar o candidato de Calheiros, o emedebista alagoano Rafael Brito.
A justificativa é o enfrentamento ao atual prefeito, João Henrique Caldas (PL), candidato de Bolsonaro e de presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL). A pretensa unidade contra o bolsonarismo é em realidade uma subordinação a política da direita, tão prejudicial ao povo trabalhador quanto o bolsonarismo.
Somente existe uma unidade legítima contra a extrema-direita e não é eleitoral, mas unidade na luta. A unidade eleitoral, isto é, a subordinação da esquerda a essa direita dita “civilizada” como meio de conter a extrema-direita, é na realidade a debilitação das forças da esquerda e sua desmoralização.
De outro lado, é a viabilização da reabilitação de políticos e partidos burgueses inimigos do povo, que tiveram seus currais eleitorais tomados pelo bolsonarismo, do ponto de vista da direita não se trata, de maneira alguma, de luta contra o bolsonarismo, mas tão e somente de retomar o espaço perdido com o auxílio da esquerda.
É temerário, tal direita golpista é a que possibilitará qualquer regime fascista no país, caso necessite dessa política, e por isso foram os pais fundadores do bolsonarismo. Foi essa direita que radicalizou um setor da população contra a esquerda na campanha do golpe de Estado. O PT está sendo utilizado para reabilitação da direita tradicional, fazendo isso enfraquece a si próprio. Em pouco tempo perderão completamente as principais cidades do nordeste e se verão atacados por essa mesma direita, agora “aliada”, numa aliança com a extrema-direita, como, aliás, aconteceu no golpe de 2016.